Os desafios emergentes e a importância de se explorar outros cenários para produção de actividades culturais, incluindo a promoção do turismo nas zonas distantes do centro de Luanda, têm sido um dos focos do programa de acção da Comissão Directiva da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC-SA), para os próximos quatro anos.
Com vista à criação de novos factos culturais um grupo de artistas realizou uma visita ao espaço “Quinta do Destino”, localizado na zona do Kikuxi, Zango 3, no município de Viana, que se encontra subaproveitado, para eventualmente ser explorado para a realização de actividades culturais. A caravana, composta por criadores das mais variadas disciplinas artísticas, visitou demoradamente os compartimentos do espaço ainda bem conservados, mas num cenário de total abandono.
O proprietário do espaço pretende dar uma outra dinâmica, com a parceria da UNAC-SA. A visita teve como objectivo constatar o real potencial do espaço para futuramente serem realizados eventos culturais. A primeira contrariedade foi logo à chegada da caravana, que encontrou algumas dificuldades de acesso ao local. O areal acidentado de um quilómetro não facilita a passagem de carros ligeiros que não tenham tracção. De acordo com o secretário-geral da UNAC-SA, Eliseu Major, em declarações ao Jornal de Angola, a visita insere-se no exercício desenvolvido para se encontrarem parcerias com os donos de espaços subaproveitados no país, para colocarem os mesmos à disposição da classe artística.
Referiu que os proprietários destes espaços “abandonados” mostram-se sensíveis às preocupações da classe dos artistas. “Temos várias outras propostas que estão a ser avaliadas e precisam ser encontradas soluções para criar mais espaços de promoção das artes e garantir a sustentabilidade dos fazedores culturais.” Eliseu Major disse que a intenção é promover e potenciar o turismo cultural em zonas distantes do centro da cidade, incentivando o surgimento de outros clubes e casas dos artistas. “Queremos criar condições para resgatar o hábito das boas práticas, fazer do pouco acções positivas em benefício dos artistas.”
“Cidade dos Artistas”
Embora tenha sido uma visita improvisada, os quitutes da terra e a quissângua fresquinha, incluindo a boa música angolana da década de 1970 e 1980, não faltaram. Num encontro geracional, marcado por um diálogo aberto sobre os principais problemas que afligem a classe artística nacional, o cantor e compositor Carlos Lamartine reconheceu o potencial turístico local. Carlos Lamartine sugere a transformação do espaço em “Cidade dos Artistas”, como forma de preservar as instalações e beneficiar os fazedores culturais. “Os artistas precisam de espaços para a recreação e um laboratório artístico”, sublinhou.
Quanto à obrigatoriedade do financiamento dos projectos artísticos de interesse individual ou colectivo, explicou, pode ser utilizada a Lei do Mecenato envolvendo as empresas públicas e privadas para o efeito. O cantor Zé Maria Boyote frisou que o espaço pode ser melhor aproveitado a favor dos artistas. O local, afirmou, vai permitir a dinamização das mais variadas modalidades artísticas. As condições do “resort” adiantou, possibilitam a execução das artes. “Precisamos de iniciativas do género e de um empresariado forte capaz de dar resposta às necessidades dos criadores”.
Para o cantor é importante a redefinição dos espaços para ser adaptado às manifestações culturais e artísticas. A ex-bailarina e directora do grupo de dança tradicional Yaka, Luísa André, fez uma avaliação positiva da visita, mas lamentou o facto de a “Quinta do Destino” ser um local pouco explorado. Concorda igualmente com a ideia do surgimento no local de uma “Cidade dos Artistas”, com a realização de actividades quinzenais. Para a ex-bailarina do grupo Yaka, Zita António, embora seja um espaço bem localizado, alertou para a necessidade de melhoria das condições de acesso, que não podem jogar a desfavor dos artistas e do público. “É importante fazer-se um trabalho de terraplenagem para ajudar a alavancar as actividades artísticas.”
Actriz há mais de três décadas, Julmira Brito “Zuca”, hoje nas vestes de directora artística da Força Aérea Nacional (FAN), onde dirige mais de cem elementos nas mais variadas disciplinas artísticas, disse que o espaço pode ser aproveitado para a realização de festivais nacionais e internacionais das artes. Por sua vez, o director do grupo Catarcis Teatro, Mac Gonel, foi mais cauteloso, tendo ponderado a realização de espectáculos no local, pelos inúmeros constrangimentos apresentados. Apreensivo e com algumas incertezas, garante que o projecto somente funcionará se forem criadas no local todas as condições de acesso ao público para a produção dos espectáculos.
Fonte:JA