Enquanto vigora o estado de emergência devido à pandemia global da COVID-19, no Banco de Poupança e Crédito (BPC) os desfalques multimilionários continuam. A 17 de Abril passado, houve um novo roubo interno de mais de 400 milhões de kwanzas. Enquanto alguns bancos privados têm estado a mobilizar recursos próprios para apoiar o governo na luta contra a COVID-19, o banco do Estado, financiado com dinheiro dos contribuintes, apenas manifesta vontade de subtrair o que é alheio.
O BPC é detido a 100 por cento por entidades estatais. Directamente, o Estado angolano detém 75 por cento do capital, enquanto o Instituto
Nacional de Segurança Social (INSS) subscreve 15 por cento e a Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas os restantes 10 por cento.
O Maka Angola contactou o porta-voz do Conselho de Administração do BPC, Alberto de Jesus Miguel, para o contraditório. A 12 de Maio, o referido porta-voz, respondeu a “confirmar a nossa disponibilidade
em fornecer a informação solicitada, o que faremos depois de recolhida e devidamente compilada”. Todavia, este portal tem conhecimento de que, semanas depois do golpe de 400 milhões de kwanzas, o BPC ainda não tinha comunicado ao supervisor, o Banco Nacional de Angola,
quando devia tê-lo feito de imediato. Tão logo tenhamos a sua resposta a publicaremos como direito de resposta.
Segundo dados recolhidos pelo Maka Angola, os fundos foram saqueados por via electrónica, através da conta da empresa Simportex, pertencente ao Ministério da Defesa, e foram espalhados por várias contas, como tem sido
prática habitual. Essa operação ocorreu numa sexta-feira, através do uso da senha de utilizador de Aida Daniel, gerente do BPC no município do Waku-Kungo, província do Kwanza-Sul. Após o saque, segundo fontes deste portal, os assaltantes procederam ao apagamento do registo de acessos [login] à data da fraude.
Dados fidedignos indicam que o computador portátil institucional, usado na operação, estava atribuído ao então técnico de informática Gerson Filipe, despedido em finais do ano passado. Este técnico utilizava dois portáteis, um dos quais tem estado sob custódia dos Crimes Económicos do Serviço de Investigação Criminal (SIC). Em 2019, sucederam-se vários
outros roubos similares no BPC, alguns dos quais passaram a ser de conhecimento público e outros foram mantidos em segredo. Em apenas três operações fraudulentas, funcionários deste banco saquearam 1,5 mil milhões de kwanzas.
Na primeira operação, no início de Fevereiro do referido ano, através de um cartão multicaixa com pagamentos privilegiados, a rede interna sacou mais 350 milhões de kwanzas da empresa Angomart, do Grupo Noble. O BPC, segundo fontes do Maka Angola, teve de ressarcir a empresa.
Na segunda operação, a 26 de Fevereiro de 2019, através do já extinto balcão central do BPC, uma funcionária creditou 600 milhões de kwanzas numa conta cujo titular tinha efectuado um depósito de apenas 60 mil kwanzas. O titular da conta, segundo peritos conhecedores da matéria, procedeu então à aquisição de equipamentos informáticos na NCR no valor de 340 milhões de kwanzas. O SIC interveio na recuperação de tais equipamentos.