Se um dia a continuação da nossa luta esteve na Namíbia e na África do Sul, conseguindo libertar a África Austral do “apartheid”, hoje parece que nem somos mais respeitados.
Umas poucas declarações de Paul Kagame, não sei a quem se dirigia quando disse que não conversava com pessoas que não eram exemplos a seguir para o seu povo, são presumivelmente relacionadas à diplomacia angolana nos esforços de mediação do conflito político-diplomático entre Kinshasa e Kigali.
Não muito distante no tempo, no regime de José Eduardo dos Santos, a diplomacia angolana era actuante e referência em África, com o fundamento no facto de nós mesmos termos resolvido um conflito armado de décadas, em pleno Luena (Moxico), sem socorro de estrangeiros.
E veja. Do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, à bulha com o ” combatente da liberdade” Robert Mugabe, buscou apoio aqui. Ainda com hematomas no rosto das “batatadas” da polícia de “Mugabirú”, Morgan foi recebido no Palácio da Cidade Alta, e saiu de lá “indigitado” para o cargo de primeiro-ministro, nomeado posteriormente por Mugabe.
Do Sudão do Sul, antes de ir à Roma pedir a bênção do Papa para a nova nação que nascia, o Sudão do Sul “desintegrado” das amarras de Al Bashir, o Presidente Salva Kir esteve aqui em busca de subsídios para apaziguar a guerra contra o seu fraterno Riek Mashar.
Da Costa do Marfim, um enviado de Laurent Gbabo tinha as portas escancaradas para entrar e sair do Palácio Presidencial da Cidade quando quisesse. Cadet Birtin era, na Costa do Marfim, o equivalente a “Kopélipa” em Angola. Até nos “truques & pimpas”!
A nossa diplomacia colocou no poder um Presidente “proxy” na RDC, Laurent-Desiré Kabila, primeiro, e depois garantiu a sucessão do filho Joseph.
Aqui perto de Cabinda, em Brazzaville, corremos com Lissouba, e (re)colocamos no poder o senhor que até hoje “reina” por excessivamente por lá.
À República Centro-Africana, oferecemos dinheiro sonante, milhões dólares, à senhora Presidente Cathérine Samba-Pamza, para pacificar um país em guerra. Era tanto dinheiro que a “tia” decidiu “pecular” parte dele, colocando nos próprios bolsos.
Já para não falar dos “fobados” São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, que chegaram a receber “dotações” para os seus orçamentos do Estado.
Na SADC, as elites políticas sempre quiseram que todo e qualquer encontro que fosse, podia ser até de um “sindicato de motoristas de ambulâncias dos hospitais de países da SADC” acontecesse em Angola, por longos dias.
Tudo porque, na diplomacia de marketing do “Tio Zé” tudo se enquadrava. Queria fazer na parte austral do continente aquilo que Ghadaffi fazia lá no norte.
Até confundiamos as coisas. Pensávamos que eles nos adoravam! Afinal, não. Era só porque “firmabamos la cuenta”. Pagávamos tudo, até um avião tinhamos para trazer todos e levar de volta.
A partir do seu gabinete, o “Zé Presidente” trazia todos a Luanda quando quisesse. Forma anos dourados da nossa diplomacia, com João Bernardo de Miranda o auxiliar.
Hoje, andamos (plural porque quando o Presidente sai, leva-nos todos por ser, ele mesmo um órgão de soberania unipessoal) em todos os lados: Washington, Pequim, Brasília, Lisboa, Tóquio, Bruxelas – deve faltar apenas Antártida, Ilhas Galápagos, porque na Conchichina, entre a China e a outrora Indochina francesa, que inclui o Vietname, já lá estivemos.
E ainda um Estado exíguo como o Rwanda do seu Presidente e só ele, Paul Kagame, vem tentar nos “qualquerizar”, como diz a Luzia Moniz, uma internauta daqui! Txá! (do Umbundu).
José Eduardo dos Santos não era “amigo de todos e de nehum”, ao mesmo tempo. Era um “menino de sala”, bem educado, que primava pelo recato. Não era frequente visitar a casa dos outros ou de, frequentemente, estar fora da sua casa. A “guerra das armas” também o impunha isso. Hoje, temos a “paz das armas”, mas podemos estar em “outras guerras” sociais internas.
Hoje, na diolomacia africana só, o que é feito de nós? “Qualquerizados”?
Precisamos mesmo de optar pela Doutrina Monroe, porque há um custo muito elevado em apaziguar conflitos “hereditários”?
A nossa segurança começa, sim, no território vizinho (a célebre Doutrina Breznev, evidenciada com a invasão soviética da Polónia – a da soberania além das fronteiras terrestre), mas…então… “Fica como” esses problemas dos Grandes Lagos?
Por: Santos Vilola