O Presidente João Lourenço convidou, ontem, em Accra, os empresários do Ghana e de outros países da África Ocidental a investirem em Angola, dada a modernização da estrutura económica, que permite a realização de negócios mais “atractivos e seguros”.
“Gostaria de encorajar-vos e convidar a encarar as oportunidades de investimentos que o nosso país oferece em vários domínios”, referiu o Chefe de Estado, no Fórum Económico sobre Angola, que decorreu na sede da Zona de Comércio Livre Continental Africana, em Accra.
O Chefe de Estado, que regressa hoje ao país, elegeu como sectores prioritários a Agropecuária, Silvicultura, Pescas, Recursos Minerais, Indústria Transformadora, Comércio, Energia e Águas, Construção, Transportes, Telecomunicações e Hotelaria e Turismo.
Além dos referidos sectores, João Lourenço convidou os homens de negócios a investirem, também, nas indústrias de produção de materiais de construção, têxtil, vestuário e calçado, produção de tractores, alfaias e outros equipamentos agrícolas.
As indústrias de produção de sementes, de processamento de pescado, incluindo dos transportes, com especial realce para os marítimos, também foram referenciados pelo Chefe de Estado.
“Sei que, de entre as empresas presentes neste fórum, algumas já estão a operar no mercado angolano, concordando comigo que Angola é um bom destino para investimentos”, referiu João Lourenço, solicitando aos empresários presentes para que acreditem no potencial da economia e do mercado angolano.
Garantiu que as perspectivas de expansão dos negócios para outros mercados continentais serão “amplamente animadoras”, tendo em conta as infra-estruturas logísticas de que o país dispõe e as facilidades que derivam da entrada em funcionamento da Zona de Comércio Livre Continental Africana.
Informou, a propósito, que Angola tem disponível um pacote de empresas e activos públicos que estão num processo de privatização, pelo que convidou os investidores presentes no fórum a participarem dos concursos internacionais em curso.
Os empresários angolanos estão, igualmente, interessados em investir não só no Ghana, como em outros países africanos, a fim de colocarem no mercado africano o que é produzido e transformado em Angola, referiu o Chefe de Estado, para quem o livre comércio a nível do continente “é um velho sonho que pode começar a se tornar realidade se todos os países se empenharem na concretização desta ambição”.
Projectos realistas
João Lourenço encorajou o Secretariado da Zona de Comércio Livre Continental, com sede em Accra, a apresentar estudos e “projectos realistas e credíveis” aos Estados africanos, via União Africana e outros fóruns deliberativos.
“Temos perfeita noção do longo caminho a percorrer até se conseguir tornar fluído o livre comércio entre nós”, referiu o Chefe de Estado, de-fendendo a exploração “ao máximo”, das potencialidades do continente, para torná-lo não apenas “potencialmente rico, mas realmente rico”, e que beneficie os seus povos.
Defendeu “importantes investimentos” no continente em infra-estruturas, consubstanciados na produção de energia eléctrica, industrialização das matérias-primas, construção de estradas nacionais e auto-estradas, caminhos-de-ferro, portos e aeroportos, para garantir a interligação entre os Estados e facilitar a livre circulação das pessoas e das mercadorias, tornando o comércio entre os africanos mais simples, rápido e lucrativo.
Para o Presidente da República, as “abundantes” matérias primas de que dispõem os países africanos devem ser transformadas localmente, garantindo valor acrescentado para os tornar mais competitivos no mercado internacional e, sobretudo, para criar postos de trabalho para os cidadãos nacionais.
João Lourenço destaca “democracia pujante” em Angola
O Chefe de Estado fez uma breve incursão pela história da democracia angolana, que, na sua óptica, começou a ser edificada em 1992, com a realização das primeiras eleições gerais no país.
O Presidente da República, João Lourenço, afirmou, ontem, em Accra, Ghana, que Angola tem, hoje, “uma democracia pujante” que cumpre regularmente os seus ciclos de realização de eleições e que permite que, ao nível da Assembleia Nacional, se abordem os problemas e as preocupações fundamentais do país num ambiente salutar e de grande harmonia.
Ao discursar no Parlamento ghanense, no âmbito da sua visita de Estado de dois dias ao Ghana, terminada ontem, João Lourenço informou que, no centro do debate político actual em Angola, coloca-se a abordagem da revisão pontual da Constituição, com vista ao aprofundamento da democracia, de modo a torná-la muito mais participativa e inclusiva.
Perante o Presidente do Parlamento do Ghana, Albano Bagbin, e de deputados ghanenses, o Chefe de Estado fez uma breve incursão pela história da democracia angolana, que, na sua óptica, começou a ser edificada em 1992, com a realização das primeiras eleições gerais no país, após uma guerra de várias décadas que fracturou profundamente a sociedade angolana.
Naquele contexto difícil e de muitas ingerências externas, lembrou, à primeira festa da democracia angolana seguiu-se um período frustrante para todos os angolanos, que tiveram que enfrentar o recomeço do conflito armado, “desencadeado por quem não estava preparado a aceitar os resultados que a democracia havia legitimado nas urnas”.
Estes “factos históricos dramáticos”, referiu, conduziram à suspensão dos ciclos eleitorais regulares, por não ter havido, objectivamente, condições para que fossem realizados outros pleitos eleitorais nos prazos constitucionalmente estabelecidos.
“Nesse período conturbado da nossa história, tentou-se ensaiar em Angola um modelo de solução do conflito por via da acomodação, nos órgãos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, representantes da organização política que hostilizava militarmente o país, e a favor da qual se procurava conferir um estatuto de paridade com o Governo, num quadro em que funcionavam mecanismos de verificação internacional do processo de paz”, lembrou, ainda, o Presidente João Lourenço.
“Tudo isto se revelou ineficaz e incapaz de ajudar a estruturar uma solução definitiva para o grave problema que o país enfrentava na altura”, acrescentou o Chefe de Estado, para quem só foi possível chegarmos à paz e estabilidade que prevalece em Angola, há quase duas décadas, “por via do diálogo corajoso e genuíno entre os irmãos desavindos”. Este facto, sublinhou, é revelador da inoperância de outras soluções geralmente orquestradas a partir do exterior do nosso continente.
Maior dinamismo na cooperação
O Presidente João Lourenço defendeu, segunda-feira, em Accra, maior dinamismo na cooperação entre Angola e o Ghana.
Ao discursar no jantar que lhe foi oferecido pelo homólogo do Ghana, Nana Akufo-Addo, no quadro da visita de Estado de dois dias, João Lourenço sublinhou que o ritmo das relações bilaterais tem, necessariamente, que adquirir uma cadência mais condizente com os interesses e as perspectivas de cooperação delineadas durante a visita oficial realizada a Angola pelo homólogo, em 2019.
João Lourenço lembrou, ainda, que a visita de Estado de Nana Akufo-Addo permitiu, na ocasião, a assinatura do Memorando de Entendimento sobre Educação e um Acordo sobre a supressão de vistos em passaportes diplomáticos e de serviço, sendo que este último já foi ratificado pela Assembleia Nacional.
Comissão Mista
O Presidente da República indicou que as questões sobre a cooperação bilateral, quer as que já estão em curso, como outras que fazem parte de um novo conjunto de interesses comuns, devem ser objecto de apreciação e decisão na próxima sessão da Comissão Mista, que deve ser realizada o “mais breve possível”.
Para o Chefe de Estado, os dois Estados devem criar “um vasto campo de cooperação”, abarcando vários sectores, com destaque para o da Agro-Pecuária e Pescas, Energia, Transportes Marítimo e Ferroviário, Recursos Minerais, Indústria, Turismo e outros que vierem a ser identificados.
“Angola tem particular interesse em beneficiar da experiência do Ghana em matéria de prospecção, exploração, industrialização e comercialização do ouro”, afirmou.
Para os dois países vencerem a “sensação de letargia” que há na relações bilaterais, João Lourenço considerou importante o estabelecimento da ligação aérea entre Luanda e Accra, a ser assegurada pela TAAG, companhia aérea angolana, argumentando a existência de um grande fluxo de cidadãos da África Ocidental para Angola onde realizam negócios diversos.
“Acredito que este movimento poderá intensificar-se com a abertura da ligação aérea a que me referi, incrementando a procura recíproca de investimentos a serem realizados por empresários desta parte do nosso continente, o que irá conferir ao Ghana uma posição de placa giratória entre a África Ocidental e a África Austral”, afirmou.
Pandemia da Covid-19
O Chefe de Estado admitiu, actualmente, a existência de um maior controlo sobre a situação sanitária global com o recurso à vacinação massiva dos cidadãos, onde as vacinas estão à disposição dos países.
Defendeu, por isso, o acesso equitativo de todos os países às vacinas, sem exclusão das pessoas com vulnerabilidades de algum tipo, para que as mesmas produzam “resultados satisfatórios” no combate à pandemia ao nível mundial.
O Presidente da República manifestou “grande preocupação” relativamente a esta matéria, salientando “não estar a ser fácil, nem quando se possui recursos financeiros, adquirir os imunizantes de que se necessita para proteger as populações”‘.
À medida que se reforçam as capacidades de gestão da Covid-19, disse, deve-se, também, procurar reduzir o impacto negativo que a pandemia teve sobre a economia mundial, cujos reflexos se fazem sentir de forma mais dramática nos Estados africanos.
“Devemos procurar soluções que possibilitem a utilização racional dos recursos materiais de que dispõem os nossos países para obter resultados tangíveis, por via de mecanismos como a Zona de Livre Comércio Continental Africana, que abre caminho para a integração económica do continente”, sublinhou.
Comércio continental
João Lourenço considerou que a instalação da sede da Zona de Livre Comércio Continental Africana em Accra permite o reconhecimento do dinamismo e da forma engajada e responsável como o país assume e respeita os compromissos que impactam o progresso e o desenvolvimento económico do continente.
“Acredito plenamente que a nossa organização desenvolverá iniciativas que tornarão o vasto mercado continental bastante atractivo e competitivo, para que os empreendedores africanos e nossos parceiros internacionais aumentem o seu interesse em desenvolver investimentos e negócios nos mais variados sectores das nossas economias”, enfatizou.
Combate à pobreza
João Lourenço recordou os “sérios compromissos” dos dois Estados no combate à pobreza e criação do bem-estar das populações.
Sublinhou que este facto deve absorver a “máxima atenção” dos dois líderes, no sentido de que sejam superados os obstáculos para a construção das bases do progresso, assentes sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, que traça metas muito claras a serem alcançadas até 2030 e 2063.
Pirataria no Golfo
Angola e o Ghana têm preocupações comuns com a pirataria e outras actividades que afectam a segurança no Golfo da Guiné, indicou o Chefe de Estado, salientando que o facto obriga o envolvimento de todos os países da região para garantir a defesa e segurança do referido corredor marítimo.
“Fomos capazes de pôr fim ao regime do apartheid na África do Sul, acredito que seremos, igualmente, capazes de eliminar o terrorismo que assola os países da região do Sahel, do Corno de África, do Leste da República Democrática do Congo ou do Nordeste de Moçambique”, indicou o PR.
Fonte:JA