Minha actividade principal. Sou filho de pais camponeses, o terceiro entre cinco irmãos, não tive oportunidade de conhecer o meu pai, porque eu nasci meses após a morte dele. Tudo que eu sou hoje devo à minha mãe, ela sempre foi e continua a ser o meu porto seguro.”
Por isso, diz-nos Alfredo Leiria Victorino Trinta, “falar da minha história sem falar da minha mãe é temperar uma comida e esquecer o sal, pode até ter um cheiro agradável, mas não terá sabor” .
A infância de Alfredo Leiria Victorino Trinta foi muito turbulenta, em função dos conflitos armados que o país viveu. “Emigrámos da aldeia para a sede municipal, depois da sede municipal para a capital da Província, Sumbe, sempre a fugir da guerra”.
“Os meus primeiros anos de escola foram na famosa Escola “Quatro Salas”, onde fiz a iniciação até à 3ª classe, e a 4ª classe foi feita na Escola da Acedana Bairro Novo, de que fui um dos fundadores, fiz a 5ª classe na Escola do II Nível, da famosa Dra. Licita, da 6ª à 8ª classe no Colégio “Nossa Senhora de Fátima”, da 9ª à 12ª classe no PUNIV do Seles, tendo terminado com sucesso em 2010.”
Todo o percurso da infância de Alfredo Leiria Victorino Trinta foi percorrido no meio de enormes dificuldades financeiras, ele viveu sempre em casa de tios, pois, a mãe vivia na aldeia, ele e os irmãos tinham de ficar na sede para estudar.
Alfredo Leiria Victorino Trinta na 4ª classe só tinha um par de calças, os seus pés nunca conheceram sapatos ou sapatilhas até à 8ª classe, mas ele nunca desistiu de estudar.
Em 2010 após ter terminado o ensino médio, Alfredo Leiria Victorino Trinta participa no concurso público do Ministério da Educação, é admito, mas depois foi excluído.
“Segundo a Secção Municipal, veio uma ordem do Ministério dizendo que todos os que não passaram pela escola de formação de professores, ou que não possuíam um curso de agregação pedagógica, tinham de ser afastados, e lá se foi o sonho de estar inserido no sistema.”
Em 2010, a mãe de Alfredo Leiria Victorino Trinta decide migrar para Luanda, cansada – argumentou – de trabalhar no campo sempre a “capinar”, quantas vezes fugindo da guerra e, hoje, ela é trabalhadora doméstica.
No ano seguinte, Alfredo Leiria Victorino Trinta viaja para a capital do país, para trabalhar numa padaria. “Parámos no Gamek à Direita, no dia seguinte fomos levados para Viana e mais concretamente para o Porto Seco, era lá onde se encontravam as instalações da padaria, senti-me perdido, tive de ficar durante um mês a viver e dormir sem resguardo, junto à padaria porque não tínhamos valores para fazer o trajecto de ida e volta para casa.”
Em 2012 ingressa no ISCED-Luanda, pois tinha a paixão pela Sociologia, mas nesse ano para o curso de Sociologia não havia vagas para o período regular.
Então, escolhi a segunda opção, Filosofia. “Não me arrependo, a Filosofia e eu estamos bem casados.”
No meio de quase intransponíveis dificuldades, Alfredo Leiria Victorino Trinta não atirou a toalha ao chão, andou quase sempre de “arca”. “Este é o nome que os meus colegas chamavam aos autocarros, andar a pé para mim nunca foi novidade.”
“Quando o ISCED mudou para o Kilamba, foi difícil adaptar-me, as distâncias eram enormes, o transporte público quase inexistente, o dinheiro não chegava nem para a alimentação.”
Alfredo Leiria Victorino Trinta entra para o o ISCED em 2015 e defende a monografia 4 anos depois. “A licenciatura é a minha maior vitória, mas ainda não me considero um vencedor, por isso, continuo na luta.”
Quanto aos desafios, Alfredo Leiria Victorino Trinta deseja realizar um dos seus maiores sonhos, tornar-se um “empreendedor de sucesso”.
Hoje, após tantas peripécias na vida, ultrapassadas as dificuldades que pareciam absolutas, Alfredo Leiria Victorino Trinta é um jovem formado, professor precário do ensino particular e ao mesmo tempo desempregado, “mas com esperança no futuro”.
Fonte:JA