O que é que Edeltrudes Costa pode aprender com Luís Filipe Vieira

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Ana Maria Simões

Os meus amigos angolanos pediam-me inúmeras vezes: ‘por favor, não faças comparações com os portugueses’. Oops!, esquecia-me a maior parte das vezes. Era quase compulsivo. E como tenho formação em História, digamos que é inevitável.

Fonte: Facebook

E aqui está mais um exemplo: o que é que Edeltrudes Costa devia aprender com Luís Filipe Vieira?

Já todos adivinharam, aos mais distraídos, posso explicar.


O primeiro-ministro português, António Costa, tem uma hábil e inteligente estratégia de manutenção no poder, não sou eu que o digo, são mesmos os politólogos. Tem das suas, faz das suas, dizem que por estes dias demitiu o presidente do Tribunal de Contas pelo telefone (não fui confirmar, cozinho o peixe que me venderam), seja como for, é de uma habilidade para a ciência política a forma como faz os camelos entrarem pelo buraco da agulha e conquistar a República de Portugal, que ainda lhe dá uma vantagem considerável nas intenções de voto. O seu mais recente embaraço foi a participação numa lista de honra de Luís Filipe Vieira, candidato à reeleição como presidente do ‘glorioso’ SLB (Vieira, entretanto, anda às voltas com a justiça).


Numa primeira fase, ‘à angolana’, o PM decidiu que deixaria os cães ladrar e ele continuaria feliz e animado a fazer parte da caravana benfiquista. Depois de muito pensar e em vésperas de haver notícias sobre um processo que envolvia o homem que só tem a 4.ª classe mas que chegou onde chegou, a líder de uma nação – a benfiquista, vá -, e por um qualquer efeito boomerang, Luís Filipe Vieira retirou o nome de António-Costa-dois-em-um, benfiquista e primeiro-ministro, da tal lista de honra encarnada que para alguns foi negra.


Estão a ver onde quero chegar? Isso. Para mim, e já por aqui o escrevi em Fevereiro, não é tanto a atitude do Presidente João Lourenço que me incomoda – até consigo aceitar e perceber a teimosia dele, por isso mesmo, por teimosia, e porque tem descartado a eito, até quem já faleceu, que haja alguém que não seja descartável, e essa ideia dará relativa segurança aos seus ministros… onde é que eu ia, ah!, sim, é a atitude de Edeltrudes Costa que me incomoda acima de tudo. Teve desde Fevereiro até hoje para resolver o problema. Sabia que era uma questão de tempo para a pressão estar em cima dela e do Presidente. Podia ter evitado a pressão em cima do Presidente e este enorme embaraço com repercussões dentro e fora do país.


E passo para a segunda questão a que esta reflexão me conduz. O primeiro-ministro português sabe que a sua estratégia de manutenção no poder mais tarde ou mais cedo será sujeita a votos e não pode permanecer surdo ao clamor geral.


No caso do Presidente João Lourenço, se insistir em não ouvir as críticas de todos os quadrantes – como se diz em politiquês – e dos jovens na rua; se insistir em não assumir o profundo incómodo que este caso está a provocar polarizando ainda mais o país – quem está com o MPLA e com o Governo e quem está contra – e pulverizando a ideia que o combate à corrupção tem um casting pré-definido, o Presidente João Lourenço desvaloriza o que pensam os cidadãos que votam e desvaloriza o voto e as eleições que aí vem. E o slogan pode ser ‘em 2002, vais gostar’… pouco.

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