O Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, falou numa entrevista ao correspondente da RIA Novosti, Viktor Maksimychev, sobre o calendário de lançamento do satélite Angosat-2, planos em caso de fracasso do projecto, explicou se as sanções ocidentais podem afectar A cooperação angolana no espaço, expôs as perspetivas de trabalho dos operadores celulares russos no país, e também partilhou a opinião de Luanda sobre a possibilidade de regulamentação da Internet.
– Senhor Ministro, o satélite de comunicações angolano Angosat-2 será lançado em meados de 2022. Antes disso, foi informado sobre as datas de lançamento no segundo trimestre de 2022. Há algum problema que possa causar outro adiamento da data de lançamento?
– Sempre foi importante para o governo angolano que o satélite Angosat-2 fosse lançado em 2022. Claro, ao criar um satélite, sempre encontramos alguns desafios e problemas. Porque durante a construção do satélite, são usados componentes que são produzidos na Rússia e componentes que a Rússia compra no exterior. E sempre, ao avaliar um projeto temporariamente, é necessário presumir ou antecipar certas circunstâncias que fogem ao nosso controle. O primeiro é a pandemia COVID. A pandemia fez com que os especialistas angolanos não pudessem vir livremente para a Rússia, e os especialistas russos – para Angolaou países terceiros envolvidos na criação do satélite. Mas, apesar dessas dificuldades, que nenhum de nós poderia ter previsto, a linha do tempo do satélite não foi comprometida e continua a ser relevante. Não há nada de incomum na distribuição por meses, por horários de trabalho. O primeiro semestre de 2022 deve ser decisivo para a implantação do projeto. Muito será demonstrado pelo trabalho que será realizado neste momento. Esperamos que nenhuma outra circunstância impeça os nossos especialistas, muito activos, de cumprir os requisitos estipulados.
– O que acontece se o Angosat-2 falhar no lançamento?
– Antes de mais, devo dizer que o governo angolano acredita no sucesso do projecto. Bem, quanto a alguns problemas na parte de engenharia, eles nunca podem ser descartados, porque existem algumas dificuldades de engenharia que podemos prever, mas existem aquelas que não podem.
– A Rússia construirá um novo? Ou outras opções estão sendo consideradas?
– O contrato do satélite é, entre outras coisas, confidencial. Existem algumas disposições que não devem ser divulgadas. Esta questão os afeta.
– Poderão as sanções ocidentais afectar negativamente a cooperação entre Angola e a Rússia no sector espacial, em particular, nas perspectivas de lançamento de satélites de comunicações? Angola pode recusar-se a interagir com a Federação Russa nesta área por causa disso?
– Para responder à pergunta, você precisa começar de longe. Vamos voltar para a história. Como qualquer pessoa, o país não vive sem seu passado, sem sua biografia. E se olharmos para os laços históricos entre nossos dois países, veremos que eles sempre foram muito próximos. Assim, a decisão de cooperar com a Rússia, nosso parceiro, no projecto Angosat-2 mostra a atitude de Angola para com a Rússia, mostra fé na ciência e nos especialistas russos. Falando do ponto de vista da cooperação bilateral, não questionamos de forma alguma o desenvolvimento das nossas relações, apesar de todos os problemas que possam surgir devido às sanções, inclusive.
– Existem perspectivas de entrada dos operadores celulares russos no mercado angolano?
– Claro, existem essas perspectivas. De referir que são anunciados em Angola concursos públicos para participação em diversos projectos. Em particular, a Angola Telecom anunciou a abertura de um concurso, podendo participar empresas russas, como quaisquer outras empresas. Quem oferecer as melhores condições ganha as licitações. Bem, se falamos de nossa cooperação no campo das telecomunicações, então ela também tem sua própria história. Muito na infra-estrutura de Angola no domínio das comunicações, as telecomunicações foram criadas com a ajuda da Rússia. Portanto, sim, essa cooperação é possível.
– Você já está negociando com alguém?
– Nós, como estrutura estatal, não podemos saber em detalhes o que está acontecendo entre os empresários privados. Mas de acordo com a informação de que dispomos, sim, existem alguns contactos, declarações de algumas empresas russas que estão a negociar com empresas angolanas uma cooperação no domínio das tecnologias de comunicação e telecomunicações.
– O que pensa Angola sobre a ideia da necessidade de regulamentar a Internet, especialmente as redes sociais? Como você avalia os riscos potenciais, incluindo extremismo, representados por eles?
– Angola é um país que liberalizou o acesso às telecomunicações. Mas, como qualquer outro país, Angola possui leis que restringem certas atividades no ciberespaço. Angola, como membro de organizações internacionais, considera que a Internet deve ser neutra. Não existe um projeto específico para “apertar as porcas” ou fechar qualquer recurso. Angola tem todas as leis e regulamentos necessários que restringem o acesso aos dados pessoais e obrigam as pessoas a usar o ciberespaço para fins legais. Qualquer atividade extremista, se descobrirmos, será interrompida, temos mecanismos para detê-la.
– Angola tem experiência em bloquear grandes recursos?
– Oficialmente, não. Oficialmente, o governo não toma essas decisões.