O líder da independência e primeiro Presidente da Zâmbia, Kenneth Kaunda, morreu ontem, aos 97 anos, anunciou o Governo zambiano.
“Morreu pacificamente” às 14h30 (12h30 GMT) no hospital, disse o secretário do Governo da Zâmbia, Simon Miti, na televisão nacional.
O antigo Chefe de Estado, que liderou o protectorado britânico durante 27 anos, tinha sido internado, na segunda-feira, no hospital de Lusaka, com pneumonia.
Na década de 1950, este histórico panafricanista e dos movimentos independentistas, foi a figura central da luta pela libertação do colonialismo britânico, naquela que era conhecida como Rodésia do Norte.
Nascido a 28 de Abril de 1924, tornou-se no primeiro Presidente da Zâmbia em 1964, à frente do Partido da da União Nacional para a Independência (UNIP).
Kaunda dirigiu o país como Presidente entre 1964 e 1991, depois de ser a figura central da luta pela Independência, primeiro enquadrado no Congresso Nacional Africano da Rodésia do Norte, e depois na UNIP, partido que fundou e dirigiu o país até às primeiras eleições multipartidárias.
O mundo tinha enorme respeito pelo carismático líder político africano. Mas, sob a sua Presidência, o povo sofreu a corrupção, pobreza e um regime autoritário de partido único.
O Pai da Independência e da Nação, Kenneth Kaunda, assumiu a Presidência do país, apesar dos seus pais serem oriundos do vizinho Malawi. O seu progenitor mudara-se para a Zâmbia, na altura ainda uma colónia britânica, como missionário protestante.
O filho do pastor começou por ser professor. Tratava-se de uma profissão de grande prestígio para um africano na era colonial. Todas as outras funções mais elevadas, quer na Administração, quer na economia privada, estavam reservadas aos brancos. Kaunda rejeita estes limites impostos por gente de fora. Começa então a envolver-se na política. Foi preso várias vezes. Finalmente, assumiu a liderança do movimento pela Independência da Zâmbia. O seu Partido Unido para a Independência Nacional ganha a maioria absoluta nas primeiras eleições parlamentares de 1964.
Mas os problemas não acabaram com o fim do domínio britânico. “Considerando os desafios que tivemos de enfrentar, é um milagre ainda sermos uma nação”, disse Kaunda, mais tarde, numa entrevista à imprensa. Kaunda assumiu a liderança de um país com 75 grupos étnicos. E, para além das fronteiras traçadas pelas potências coloniais, nada une estas etnias. Dos três milhões e meio de habitantes, apenas uma centena tinha formação académica. A grande maioria vivia na extrema pobreza.
Do humanismo zambiano ao Estado de partido único
Ainda assim, Kaunda conseguiu manter a união da Nação. Tal como fizeram os fundadores do Ghana, Kwame Nkrumah, e da Tanzânia, Julius Nyerere, o Presidente Kaunda inventou uma filosofia pensada para unir a sociedade. O “humanismo zambiano” é uma mistura de valores cristãos, tradições africanas e princípios orientadores socialistas. “O homem não deve viver só de pão, mas é isso que as pessoas fazem hoje em dia. É por isso que não temos paz, porque as pessoas só lutam por coisas materiais, mas esquecem a espiritualidade”, disse Kaunda.
O carismático Chefe de Estado depressa ganhou o respeito global. “Foi sempre um homem simples, sem ambições de ser venerado”, disse o missionário católico Friedrich Stenger, também já falecido, mas que viveu durante muito tempo na Zâmbia.
O prestígio de Kaunda cresce com o seu envolvimento como mediador em numerosas crises na região. O líder zambiano procurou o diálogo com o Governo do apartheid na África do Sul, a fim de resolver pacificamente a situação no país vizinho. Envolveu-se, também, como mediador na guerra civil angolana.
Retirada da política activa
No fim da era Kaunda, a Zâmbia continuava a ser um dos países mais pobres e endividados do mundo. O novo Governo virou-se contra o Pai da Nação, declarando que Kaunda era estrangeiro, porque os pais vieram do Malawi. Em 1996, Kaunda anunciou que pretendia recandidatar-se. O sucessor, Frederick Chiluba, alterou a Constituição, que só permite candidaturas de políticos cujos pais nasceram na Zâmbia. Kaunda retira-se da política activa para se dedicar à sua fundação, que luta contra a epidemia do HIV- Sida.
Fonte:JA