Kamaquenzo é um dos bairros mais emblemáticos

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Quando, no início de 1920, começou a construção da cidade do Dundo como centro administrativo e de apoio logístico às operações mineiras da antiga Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), surgiam, também, vários aglomerados populacionais de autóctones na periferia da nova urbe.

Entre os bairros mais antigos, implantados na periferia da cidade do Dundo, no período da expansão da autoridade colonial no Nordeste de Angola, destaca-se o emblemático bairro Kamaquenzo. A história do referido bairro está intrinsecamente ligada ao patriarca Rodrigues Tchiqueji Sarianuma, que, em 1914, chegou à região do Chitato e se instalou no povoado do Nachir, arredores do Dundo. Foi este homem quem fundou o Kamaquenzo, nos anos 20, tendo sido o seu primeiro soba até à sua morte, em 1987.

O bairro é actualmente um dos mais populosos da cidade do Dundo, capital da província da Lunda-Norte, com uma intensa actividade económica informal, sobretudo, ligadas ao comércio, pequena produção mercantil e prestação de serviços como carpintaria, serralharia, construção civil e diversas oficinas de reparação automóvel.

A zona é, também, conhecido por albergar grandes infra-estruturas de referência na cidade do Dundo, com destaque para o Aeroporto do Kamaquenzo, um dos principais cartões postais da cidade, e porta de entrada à província da Lunda-Norte.

O Kamaquenzo acolhe, igualmente, o lendário Quartel Central da tropa colonial portuguesa, actualmente pertencente à oitava Unidade do Comando da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), estádio de futebol do Grupo Desportivo Sagrada Esperança e o Mercado Municipal do Karinhenga.

Pelo bairro, passam, também, as duas principais estradas nacionais que cruzam a cidade do Dundo, designadamente para Estrada Nacional 180, que liga as cidades de Saurimo e Dundo, terminando, justamente, na famosa Rotunda do Aeroporto, e a Estrada Nacional 180-A, que parte do desvio do armazém do Kamaquenzo e liga a cidade do Dundo à antiga vila mineira do Nzagi, no município de Cambulo.

Inácio Tchicolassonhi Sarianuma, 58 anos, é, desde 2000, o soba do bairro Kamaquenzo. Afirmou que, comparativamente aos tempos do seu avô, a região cresceu consideravelmente, em termos de estruturas socioeconómicas e densidade populacional, nos últimos 30 anos, o que levou a divisão formal de Kamaquenzo em dois bairros, mas mantendo o poder vertical do soba sobre os sobetas.

Para o soba Sarianuma, a expansão do bairro é resultado do êxodo da população. “Este bairro é uma das zonas da cidade do Dundo onde houve maior crescimento nas últimas décadas”, observou, lamentando o facto da Administração Local do Estado não ter acompanhado este cenário com políticas sociais públicas que pudessem satisfazer às necessidades da comunidade.

Crianças fora do sistema

O soba Sarianuma revelou que o acesso das crianças ao sistema de ensino, no presente ano lectivo, é muito limitado, por causa da insuficiência de infra-estruturas escolares, principalmente no ensino primário.

“As três escolas existentes não correspondem à procura de crianças, que, neste ano, querem ingressar, pela primeira vez, no sistema de ensino e aprendizagem”, disse o representante do poder tradicional, para quem constitui um risco deslocar crianças da iniciação ou primeira classe a distâncias que cheguem a um ou mais quilómetro, para assistirem aulas num bairro vizinho. Um exemplo da realidade local, disse o soba, é o que se vive na zona do Kabunda, cuja população está desprovida de quaisquer serviços sociais básicos.

Por isso, no quadro do processo de concepção dos investimentos públicos, o soba Sarianuma defendeu a necessidade da Administração Municipal do Chitato auscultar as autoridades tra- dicionais, no sentido de privilegiar acções e zonas que realmente precisem muito mais que outras.

Criticou, ainda, o facto de se ter anunciado a construção de uma escola no bairro Kamaquenzo, no âmbito do PIIM, quando, na realidade, disse que essa referida instituição já existe, há muitos anos, e foi erguida pelo Fundo de Apoio Social.
  Índices de criminalidade entre as preocupações

O elevado índice de criminalidade e de desemprego, insuficiência de infra-estruturas de ensino, saúde, energia eléctrica, água potável e as ravinas são os problemas sociais mais relevantes do bairro, que o soba Sarianuma quer ver resolvidos, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza da Administração Municipal do Chitato.

O soba explicou que, actualmente, o bairro dispõe de uma esquadra policial, com estrutura provisória a funcionar numa escola em obras de recuperação, e conta apenas quatro efectivos da Polícia Nacional.

Apesar de estar a ser construída uma esquadra policial e residência do comandante na zona do antigo centro emissor, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), o soba Sarianuma disse estar preocupado com o facto do bairro se tornar num refúgio de criminosos considerados perigosos, saídos de várias regiões do país.

Defendeu que uma das medidas para diminuir a acção dos marginais é garantir a iluminação pública dos bairros da periferia, uma vez que grande parte dos assaltos aos comerciantes e transeuntes é feito no período da noite.

Recentemente, deu-se início à montagem de postos de iluminação pública ao longo do troço rodoviário do armazém do Kamaquenzo ao Mercado Municipal, mas o soba mostrou-se pouco confiante com o projecto, uma vez poder não alcançar o interior do bairro, onde os níveis de criminalidade são altos”.

  Faltam postos de saúde e água potável

 A falta de instituições de saúde é outra grande batalha dos moradores do bairro, principalmente quando a questão toca à criança ou à mulher grávidas.

“Tem sido muito difícil para as famílias do bairro levar mulheres com dores de parto ou crianças em estado grave, durante a madrugada, para o Hospital Provincial Materno Infantil”, lamentou. O soba avançou ter já promessas das autoridades administrativas do Chitato, para construção de um centro médico no bairro. “Ate agora, nem uma única pedra foi movimentada”, desabafou.

A par da ausência de serviços de saúde, o bairro Kamaquenzo, também, enfrenta graves problemas de falta de água potável, o que leva maior parte da população a consumir água retirada directamente dos rios. Os rios Kamaquenzo, Karinhenga, Mussungue e Chacassulo, que cruzam o bairro, sofrem inundações na época das chuvas e acabam por arrastar vários concentrados de lixo e dejectos, devido ao facto das áreas residenciais estarem muito próximas aos mesmos.

Inácio Sarianuma revelou que parte das doenças que afecta a população do bairro, como as doenças diarreicas agudas e infecções da pele, é provocada pelo consumo da água imprópria.

Actualmente, a zona tem tem seis chafarizes, construídos há alguns anos, dos quais três deixaram de funcionar, por falta de manutenção. Neste aspecto, a grande esperança da população está no projecto de construção de 150 quilómetros de rede de distribuição de água e de 1.500 ligações domiciliárias, que decorre, desde 2016, num financiamento do Banco Mundial.

Fonte. JA

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