A Creatambitions soma dívidas superiores a 22 milhões de euros, na sua maior parte a outra empresa de Isabel dos Santos. A administração aponta
o dedo ao bloqueio de contas, que cortou a liquidez e forçou a realizar um despedimento colectivo.
A Creatambitions, empresa portuguesa de importação e exportação de Isabel dos Santos que fornece os seus hipermercados Candando, responsabiliza o banco EuroBic por ter paralisado a sociedade, impedindo-a de pagar aos fornecedores. A administração da Creatambitions fala,
mesmo, em resposta a questões colocadas pelo Expresso, numa “atitude lamentável e até presentemente injustificada do banco EuroBic”.
“Na sequência do bloqueio injustificado das suas contas bancárias pelo banco EuroBic, a Creatambitions viu-se confrontada com enormes e inesperados problemas de liquidez tendo sido obrigada a apresentar-se a um PER (processo especial de revitalização)”, contextualiza a empresa, em resposta a questões colocadas pelo Expresso à assessoria de imprensa de Isabel dos Santos em Portugal.
“Esse PER seria completamente desnecessário se não fosse aquela atitude lamentável e até hoje injustificada do banco EuroBic, atitude essa que comprometeu o cumprimento atempado das responsabilidades até então assumidas pela Creatambitions”, acrescenta a administração da
Creatambitions. Conforme o Expresso revelou esta sexta-feira, os credores da empresa de Isabel dos Santos somam créditos de 22 milhões de euros, dos quais 15 milhões são de uma outra empresa de Isabel dos Santos, a Yako Retalho Alimentar. Nos 7 milhões restantes o maior credor é o banco BCP, com cerca de 3,4 milhões por receber.
A administração da Creatambitions realçou ao Expresso que a empresa funciona como ponte na logística de exportação de produtos para abastecer, em Angola, os hipermercados Candando, a marca de retalho em que Isabel dos Santos apostou em 2015, ao terminar uma parceria que tinha iniciado pouco tempo antes com a insígnia Continente, da Sonae. “Apesar das condições adversas, entretanto sentidas por causa da pandemia do Covid-19, a Creatambitions mantém boas perspectivas de continuar a laborar com alguma normalidade e honrar a curto prazo a totalidade dos
compromissos assumidos com os seus fornecedores portugueses e
internacionais, estando consciente que a sobrevivência de muito deles depende directamente da capacidade da empresa cumprir as suas obrigações.
No entanto, para que este desfecho seja possível, é essencial que a Creatambitions consiga aceder a breve trecho aos fundos que estão bloqueados”, refere a administração da empresa.
Despedimento colectivo
A Creatambitions indicou ainda ao Expresso que com o bloqueio
de contas (motivado pelas revelações do Luanda Leaks e pela investigação em curso em Angola sobre o património de Isabel dos Santos e alegados desvios de fundos estatais para seu benefício), a empresa avançou com um despedimento colectivo, reduzindo “drasticamente” o seu quadro de
pessoal. A empresa, que operava em Lisboa, mudou este mês a sua sede
para um centro logístico em Vila Franca de Xira. “É lamentável que num período de dificuldades acrescidas para tantas famílias, fruto das condições adversas provocadas pelo Covid-19, os seus colaboradores tenham sido empurrados para uma situação de desemprego de uma forma perfeitamente desnecessária, não fosse a atitude infundada e injustificada destes bloqueios de contas de empresas operacionais, que devem vender
produtos alimentares e servir clientes todos dias”, defende-se a
Creatambitions.
“De facto, é muito difícil para a Creatambitions retomar a execução do seu plano de negócios, enquanto se mantiver o cenário actual de bloqueio de contas e de indefinição quanto ao momento em que a empresa poderá aceder a esses fundos. Esta situação tem também um impacto negativo na
continuidade dos empregos nos hipermercados Candando em Angola”, alerta ainda a empresa.