História da Cidade de Benguela recontada em exposição fotográfica

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Uma exposição com 30 imagens e o respectivo catálogo fotográfico, com o tema “Benguela em retratos do século XVII ao século XX” 404 anos, está, desde 21 de Maio, aberta ao público numa das galerias do Museu Nacional de Arqueologia em Benguela (MNAB) onde vai permanecer por trinta dias, apurou o Jornal de Angola.

As 30 imagens compiladas pelo museu retratam a cronologia do património material e imaterial da cidade de Benguela, numa trajectória que vai desde a chegada de Cerveira Pereira, um administrador português que exerceu o cargo de capitão-general na capitania-geral de Angola por duas vezes, a primeira entre 1603 e 1607 e a segunda entre 1615 e 1617 a quem se atribui a fundação da cidade, até ao século XX.

De acordo com Maria Helena Benjamim, a mostra fotográfica, visa ampliar o conhecimento sobre o processo de colonização e dos povos que viveram em Benguela, a cidade mais antiga de Angola, depois de Luanda e estabelece a ponte entre os 404 anos da cidade de Benguela comemorados a 17 de Maio e o dia internacional da museologia celebrado a 18 de Maio, e continuará a dar visibilidade a história de Benguela através dos diversos lugares que corporizam o passado da cidade quadricentenária.

Entre os itens em exposição, destaca-se o notável edifício chamado “Palácio do Governador”, obra característica da arquitectura residencial dos séculos XVII e XVIII, classificado como imóvel de interesse público em 8 de Fevereiro de 1950. A primeira notícia sobre a localização dessa residência data de 1791.
A exposição destaca, ainda, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, infra-estrutura centenária da Igreja Católica, com características próprias, sendo um património cultural de interesse nacional com uma história muito rica, cuja preservação se recomenda para o conhecimento das futuras gerações.

A directora do MNAB, Maria Helena Benjamim, disse que o catálogo foi produzido para complementar as imagens expostas e explicita o antes e o depois dos cenários retratados, por exemplo, “o que foi o palácio do governador no século XVIII e o que é hoje no século XXI, conseguimos compilar 30 imagens que podem não parecer nada no entender de muitos, mas para nós representam uma boa mostra”, enfatizou.


Visão holística

A responsável do MNAB referiu que a instituição pretende alargar e incorporar o conhecimento da realidade da socioantropologia de Benguela nas demais ciências como a Sociologia e a História, até que se tenha uma ideia mais ampla do passado que continua vivo no presente.

“Como directora do museu, o que mais mexeu comigo foi ouvir falar da fortaleza, alguém, através das redes sociais, revelou algo que está aqui bem à frente dos nossos olhos, no actual espaço que fica entre a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo e o edifício dos serviços de investigação criminal, sinal de que a história não se apaga”, explicou.
Sobre o papel do museu na valorização e divulgação da História, a directora da instituição, Maria Helena Benjamim, informou que a partir de agora o museu vai alargar o âmbito da difusão da informação particularmente para os estudantes que têm nos seus “curricula” a cadeira de História.

“O nosso plano incorpora também a elaboração de uma colectânea para alargar a difusão de informação e conhecimento. Sempre que aparecer alguém que quiser agregar um pouco mais de conhecimento ao seu saber, o catálogo servir-lh-á de guia, fundamentalmente para os diversos turistas que visitam Benguela, amantes da nossa história e cultura”, explicou.
O projecto do MNAB visa igualmente alcançar os estudantes de história, “o quê que tratam em concreto sobre a história que tem a ver com a cidade de Benguela? Então, a partir de agora nós vamos ser a fonte.

Parcerias

Segundo Maria Helena Benjamim, o museu vai continuar a trabalhar com a  Administração Municipal da cidade de Benguela e com as direcções do Urbanismo e Obras Públicas, para poder aceder aos registos, plantas da arquitectura dos edifícios e os croquis de localização estão nas Obras Públicas.

O projecto vai incluir o Instituto Jean Piaget de Benguela, o Instituto Superior Politécnico de Benguela que têm nos seus portfólios o curso de arquitectura, uma equipa que se pretende multidisciplinar para trabalhar num projecto plural.
O projecto inicialmente despoletado no ano 2000, com o departamento de ciências sociais do Instituto Superior de Ciências de Educação de Benguela (ISCED) que ministra a cadeira de arqueologia no curso de História foi depois retomado em 2017 e anualmente encaminha os estudantes ao museu para aulas de práticas de investigação arqueológica no campo, que já resultou em doze trabalhaos de fim do curso na especialidade de História onde os estudantes abordaram temas que têm a ver com o museu de arqueologia.

“Para este ano, atendendo às restrições impostas pela Covid-19, excepcionalmente o museu não vai fazer as práticas no terreno propriamente dito, mas vamos fazê-las  nas instalações do museu”, disse.
Por outro lado, anualmente o MNAB recebe o Prof. Doutor Manuel Gutieres, especialista francês da Universidade de Sorbonne de Paris, como docente na base do protocolo entre a Universidade de Paris  e o ISCED.


Reabilitação ainda é uma miragem

Com uma área de 8.000 metros quadrados, o imponente edifício construído nos séculos XVII-XVIII na base de blocos de pedra calcária, há anos que aguarda por obras em todas as suas estruturas, sendo visíveis diversas fissuras nas paredes, clareiras na cobertura, estando a necessitar de novas portas e janelas, bem como de apetrechamento condizente com a actual dinâmica de intervenção científica e cultural.

Segundo a directora do MNAB, praticamente há 40 anos que se vem  aventando a hipótese de recuperação do museu, “mas até ao momento não se concretizou, “é triste, é algo que a gente vem a falar repetidas vezes, mas nada acontece”, lamentou.

O Museu Nacional de Arqueologia foi criado no mesmo edifício onde se encontra, até hoje, sob a direcção do seu fundador, o  arqueólogo conservador Luís Pais Pinto e Maria Helena Benjamim recorda que a primeira ideia de reabilitação do edifício foi projectada com régua sobre duas folhas de cartolina. “Sabíamos o que queríamos, delineámos os vários departamentos da arqueologia e antropologia, focámos desde a pré-história até aos dias de hoje”, recordou.

A responsável do MNAB lembra  que, em Fevereiro de 2019, o governador provincial Rui Falcão  fez o auto de consignação da obra com garantia de execução num prazo de nove meses, mas depois surgiu a pandemia e tudo continua uma incógnita, nem o Ministério da Cultura nem o Governo Provincial de Benguela fizeram algo para alterar o actual quadro.

“O Museu Nacional de Arqueologia em Benguela forjou quadros de reconhecida capacidade técnica com destque para Rosa da Cruz e Silva e a actual secretária de Estado e ex-ministra da Cultura, Maria da Piedade. É triste continuarmos a olhar para isso, cada dia que passa a estrutura degrada-se de forma profunda. Vamos esperar até quando? Isso será que se vai  realizar? É possível isso?”, questionou.


Adão Faustino | Benguela

Fonte:JA

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