Estratégia e táctica na desgovernação angolana – Fernando Pacheco*

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“(…) Em Angola, cada vez mais o partido governante vai dando sinais da sua incapacidade em fazer algo para além da preocupação com a manutenção, ou perpetuação, no poder. Os angolanos estão a pagar o erro cometido na transição democrática iniciada nos anos 90 quando se supunha ter terminado a guerra civil de sua responsabilidade e da dos países padrinhos das mudanças: Estados Unidos, Rússia e Portugal.

(…) A ausência de estratégia por parte do partido no poder e do seu carácter errático da governação são factos comprovados. Desde logo, não se vislumbra coerência entre os desígnios de construção de uma Angola democrática e desenvolvida e as restrições aos direitos dos cidadãos, das organizações da sociedade civil e dos partidos políticos na oposição, o garrote à comunicação social, os impedimentos à institucionalização das autarquias, a partidarização doentia das instituições públicas e seu controlo por parte do aparelho securitário, assim como as políticas definidas para a educação, a saúde, a habitação, a agricultura, a diversificação da economia, enfim, ao respeito pelo cidadão, como se faz noutros países, que não pode ser valorizado apenas como eleitor. Um declarado mimetismo funcional, como já acontecia com José Eduardo dos Santos, o que significa que a esperança no jogador de xadrez e no estratega se desvaneceu, ou não tinha razão de ser.

Sem estratégia e sem táctica, e insistindo no isolamento em relação a outros actores, só resta mesmo ao partido governante a luta pela manutenção do poder.”

*Fernando Pacheco in “Estratégia e táctica na desgovernação angolana”, edição 837 do Novo Jornal, 17.05.2024

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