Em testes contra a Covid-19 OMS suspende o uso da cloroquina e hidroxicloroquina

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Organização coordena ensaio com pesquisadores de 100 países. Suspensão ocorre depois que estudo com 96 mil pacientes não viu efeito contra coronavírus e apontou maior risco de morte

Raquel de Faria | Em Paris

A Organização Mundial de Saúde (OMS) suspendeu nesta segunda-feira (25) o uso da hidroxicloroquina em pesquisas que ela coordenava com cientistas de 100 países.

A suspensão temporária foi tomada até que a segurança da droga seja reavaliada, já que estudos recentes mostraram que ela não é eficaz contra a Covid-19 e pode aumentar a taxa de mortalidade.

A OMS diz que estão mantidos os demais testes dentro da iniciativa internacional baptizada de “Solidariedade”. Além do medicamento agora vetado, os pesquisadores ainda avaliam em pacientes o resultado de três tipos de antivirais e de um remédio usado para tratar esclerose múltipla.

De acordo com a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, a cloroquina não é usada nos testes da iniciativa Solidariedade. Tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina usam o mesmo princípio activo, mas a cloroquina é considerada potencialmente mais tóxica. A hidroxicloroquina, composta por uma versão “atenuada” da substância, é considerada mais segura e é usada em tratamentos de longo prazo.

O director-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a suspensão foi determinada depois da divulgação dos resultados do estudo publicado na última sexta-feira (22) na revista científica “The Lancet”.

A pesquisa, feita com 96 mil pessoas, apontou que não houve eficácia das substâncias contra a Covid-19 e detectou risco de arritmia cardíaca nos pacientes que as utilizaram.

A OMS já havia anunciado que era contra o uso amplo da cloroquina para tratar a Covid-19. Quando o Brasil passou a orientar que pacientes com quadros leves pudessem usar o medicamento, os directores da entidade ressaltaram que a droga só deveria ser usada dentro de “ensaios clínicos”, que são os testes dentro de pesquisas médicas.

“Os autores reportaram que, entre pacientes com Covid-19 usando a droga, sozinha ou com um macrolídeo [classe de antibióticos da qual a azitromicina faz parte], estimaram uma maior taxa de mortalidade”, afirmou Tedros.

A OMS afirmou que o quadro executivo do Solidariedade vai analisar dados disponíveis globalmente sobre as drogas, que são usadas para tratar malária e doenças autoimunes.

“Eu quero reiterar que essas drogas (cloroquina e hidroxicloroquina) são aceitas como geralmente seguras para uso em pacientes com doenças autoimunes ou malária”, destacou Tedros.

Tedros afirmou, ainda, que os outros testes dos ensaios Solidariedade vão continuar a suspensão refere-se apenas às pesquisas com a cloroquina e a hidroxicloroquina.

Ensaios Solidariedade

Os ensaios Solidariedade foram anunciados por Tedros a 18 de Março. Vários hospitais, no mundo inteiro, fazem parte da iniciativa. Segundo a entidade, nesta segunda-feira, 25, havia 35 países recrutando pacientes para estudos em mais de 400 hospitais ao redor do mundo.

Segundo a OMS, a iniciativa pode diminuir em 80% o tempo necessário para ensaios clínicos, que geralmente levam anos para serem desenhados e conduzidos.

Qualquer adulto com Covid-19 que seja internado num hospital participante pode fazer parte das pesquisas. Os pacientes são distribuídos, de forma aleatória por um computador, entre cinco opções de tratamento:

1º Um grupo de pacientes recebe apenas a forma de tratamento padrão do local onde está;

2º O segundo grupo recebe essa forma de tratamento + o antiviral remdesivir, que já foi testado para o ebola e teve resultados promissores contra a Sars e a Mers, também causadas por vírus da família corona (como o Sars-CoV-2, o novo coronavírus).

3º O terceiro grupo recebe o tratamento padrão + a cloroquina ou hidroxicloroquina (esse foi o “braço” suspenso da pesquisa).

4º O quarto grupo recebe o tratamento padrão + os antivirais lopinavir e ritonavir, usados para tratar HIV. Ainda não há evidências de que sejam eficazes no tratamento ou prevenção da Covid-19, segundo a OMS.

5º O quinto grupo recebe o tratamento padrão + interferon beta-1a, usado para tratar esclerose múltipla.

Antes do “sorteio” do tratamento, o paciente é avaliado por uma equipa médica para descartar medicamentos que definitivamente não poderiam ser dados a ele.

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