O caso “Crédito malparado” continua malparado, sem que se saiba a quantas anda nem o que as autoridades estão a fazer, se estiverem a fazer alguma coisa. Muitos que “limparam” os cofres do Banco de Poupança e Crédito (BPC) permanecem impunes, intocáveis, fazem o que querem e lhes apetece, apesar dos seus nomes constarem na lista dos que levaram o banco à falência, delapidaram o erário público e, mesmo assim, continuam a beneficiar de mordomias, como é o caso de Bento Raimundo, da AJAPRAZ, actualmente deputado, que usurpou 96,8 milhões de dólares.
Japer Kanambwa | Jornal 24Horas
Bento Raimundo liderou por muitos anos a dita Organização Não Governamental (ONG) “Associação de Jovens Angolanos Provenientes da Zâmbia” (AJAPRAZ), uma instituição alegadamente apartidária, de direito angolano, sem fins lucrativos, criada para promover acções de benevolência com meios próprios, mas que é acusada de ter sido criada com “fins políticos”, tendo beneficiado de dinheiros públicos, inclusive do Orçamento Geral do Estado (OGE), sem nunca ter prestado contas.
De acordo com o que se tem dito, a AJAPRAZ movimentou avultados valores monetários, distribuía toneladas de bens por todo país, “sem, no entanto, ser proprietária ou depender de algum empreendimento ou de doações internacionais”, situação que levantou muitas dúvidas que ainda continuam a ser questionadas.
A organização tem sido apontada por nunca ter revelado a origem dos meios e bens com que praticava as suas acções e não se ter portado apenas como uma instituição de utilidade pública, tendo usado também os referidos meios para outros fins.
Os angolanos, e não só, exigem que a tal “AJAPRAZ”, ou o que resta dela, principalmente a pessoa que sempre deu a cara por ela, Bento Raimundo, apresente contas do que receberam durante décadas e justifique como foram utilizados os enormes recursos do Estado que foram postos à sua disposição.
Hoje por hoje, Bento Raimundo, além de deputado da bancada parlamentar do MPLA, apresenta-se também como empresário, facto que, segundo analistas, sustém o seu envolvimento no “crédito malparado” do BPC, tendo beneficiado em proveito próprio a quantia milionária de 96,8 milhões de dólares, que continua a usufruir a seu bel-prazer.
A este propósito, a opinião pública, nacional e internacional, assim como a sociedade angolana em geral, têm considerado que os activos que estão a ser arrestados a favor do Estado, entre empresas e negócios financiados com valores públicos que foram subtraídos não só de diversas instituições do Estado, mas também em departamentos governamentais, são mínimos em relação à verdadeira dimensão do saque que o país sofreu durante décadas.
No mesmo sentido, refere-se também que, a acção das autoridades tem visado apenas uma pequeníssima parte de indivíduos que terão lesado o Estado, porquanto a maioria, encoberta por diversos estratagemas e conveniências, detentora de muitos interesses adquiridos com dinheiro subtraído ilicitamente do erário público, permanece intocável e continua com práticas que desvirtuam o processo de recuperação económica e social do país.
O Banco de Poupança e Crédito (BPC) aventou a hipótese de usar a via judicial para recuperar o crédito malparado, grande parte do qual é o resultado de “empréstimos” a políticos angolanos que depois de beneficiarem dos altíssimos valores obtidos, consideraram-nos como “ofertas” e não fazem menção de restituir ou apresentar contas. Como se não bastasse, continuam serenos, intocáveis e impunes.
Em relação ao combate à corrupção, que se quer justo, imparcial, pelo progresso de Angola e pelo bem-estar dos angolanos, deve a Procuradoria-Geral da República (PGR) serenar a preocupação dos cidadãos e declarar qual será o desfecho deste caso, assim como o destino dos embusteiros.
Os indivíduos que desgraçaram o país não devem continuar na maior, numa boa, enquanto que o povo sofredor, jogado na miséria pelos mesmos, continua a padecer cada vez mais!