João Lourenço procura reestruturação da dívida, mas a China irrita-se com gestos de aproximação aos Estados Unidos. O Estado Angolano deve respeitar as relações que tem com o Estado chinês para evitar um colapso na amizade com o ‘gigante’ asiático. O tema foi abordado na audiência que, na semana finda, JLo concedeu ao embaixador da China em Luanda.
João Lourenço, poderá, nos próximos dias, tentar desbloquear pessoalmente com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, o impasse em torno da dívida de Angola a China. “Vamos ter de acelerar a reestruturação da dívida sob modalidades que salvaguardem os interesses dos dois países”, revelou ao Expresso fonte da Presidência angolana.
O tema foi abordado durante a audiência que, na semana passada, Lourenço concedeu ao embaixador da China em Luanda. Com a dívida avaliada em mais de 22 mil milhões de dólares, Angola pediu auxílio ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que se dispôs a mediar um acordo com Pequim. Num primeiro momento, Luanda pediu uma moratória
de cinco anos para pagar a dívida. Depois, sugeriu a suspensão do envio de petróleo para a China como garantia do reembolso. Os chineses responderam que não.
Apesar de haver via para o diálogo com o Governo chinês os 4900 milhões de dólares e o Banco da China (2400 milhões de dólares), o Banco de Desenvolvimento da China, que funciona como fundo de investimento, revela-se um osso duro de roer. A instituição, dona de cerca de 14.600 milhões de dólares da dívida angolana, não parece disposta a renunciar
às suas exigências. A China continuará a exigir pagamento em petróleo.
As críticas da população angolana à qualidade de obras feitas
por chineses em Angola não contribuem para a concórdia
Sinais de distanciamento de Luanda, coincidindo com aproximação a Washington, incomodam Pequim. O Expresso soube que isso terá sido notório na audiência que Lourenço concedeu, em Fevereiro, ao secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo (equivalente a ministro dos Negócios Estrangeiros). Pequim também não gostou da forma como, nessa altura, as autoridades angolanas pretenderam associar empresas chinesas a alegadas
transferências ilegais da Sonangol para a China, para sustentar projectos que acabaram confiscados pelo Governo.
Obras de má qualidade
As críticas à qualidade de obras feitas por chineses em Angola não contribuem para a concórdia. “A culpa é da nossa falta de
fiscalização e de más parcerias”, admite fonte do Governo angolano. A ministra das Finanças, Vera Daves, está envolvida num ‘sprint’ para chegar a acordo com Pequim ainda este mês. As ‘dores de cabeça’ não ficam
por aqui. Fonte diplomática angolana revelou ao Expresso que
os chineses “estão atentos ao desfecho do caso do equipamento de
combate à covid-19 importado por privados angolanos e chineses e que as autoridades angolanas confiscaram”.
Em causa está “a indevida utilização parcial por entidades privadas” de uma aeronave contratada pelo Estado à Ethio-pian Airlines para transportar da China para Angola material de biossegurança e equipamentos de combate a pandemia. A apreensão de equipamentos
de valor equivalente a €4,6 milhões revoltou os empresários, que alegam ter feito a importação com autorização dos Ministérios da Saúde e do Comércio. “A partir do momento em que pagámos o custo e o frete da mercadoria, não nos competiria definir a companhia aérea nem o tipo de aeronave que deveria transportar o material, por isso não aceitamos
esta posição musculada do Governo”, afirmou ao Expresso um
empresário angolano, que pediu anonimato.
Considerando esta atitude “desproporcional”, juristas admitem que, à luz do estado de emergência, as autoridades pudessem ficar com a mercadoria, mas só indemnizando os proprietários. O Estado rescindiu, entretanto,
o contrato com a Ethiopian Airlines, mas, numa altura em que a TAAG tem os aviões em terra, o recurso à companhia etíope, através de um broker, gera indignação. Inconformados com o caso, que obrigou o Presidente a chamar os ministros de Estado, Pedro Sebastião, dos Transportes, Ricardo Abreu, e da Saúde, Sílvia Lutucuta, empresários angolanos e chineses admitem recorrer à justiça nacional e internacional.
O clima não está propício para o urgente “partir pedra” entre as duas partes.