Na semana passada, desloquei-me à minha terra natal para uma visita de rotina à família. Durante a viagem, deparei-me com uma realidade vergonhosa e já “normalizada” por quem percorre a estrada Luanda–Gabela: a corrupção descarada.
Aqui, todos se transformam em cúmplices, o agente que cobra e o motorista que paga. O mais preocupante é que, ao carregar passageiros, os motoristas já calculam no preço a quantia destinada a esta “missão”. O valor fixo, normalmente, é de 1.000 kwanzas por paragem.
Na viatura em que seguia, gastou-se pelo menos 7.000 kwanzas apenas em subornos ao longo do percurso. Multiplique-se isso pelo número de viaturas ligeiras e pesadas que passam diariamente e percebe-se a dimensão do negócio paralelo instalado na estrada.
Fica evidente que os polícias desta via não têm razões de queixa, pois além dos seus salários, recebem um “extra” garantido que, somado, pode facilmente ultrapassar o ordenado oficial.
As sete paragens da corrupção no troço Luanda–Gabela e não só, são mais do que um reflexo da fragilidade das instituições e representam uma cultura que mina a confiança social, transforma a lei em mercadoria e penaliza, como sempre, o cidadão comum.
Por Rafael Morais

