África continua a subir à tribuna das Nações Unidas com discursos inflamados de paz, justiça e soberania. Acontece que ao regressarem aos seus respectivos países, muitos desses líderes africanos impõem políticas que se assemelham a um verdadeiro terrorismo político, sufocam os seus opositores, instrumentalizam a justiça, controlam a imprensa e governam pelo medo. Não se trata de bombas ou sequestros, mas de um terror silencioso que paralisa sociedades inteiras, mata sonhos e anula gerações.
Cinquenta anos após as independências, muitos países ainda não conseguiram formar quadros capazes de substituir técnicos estrangeiros. As grandes infraestruturas continuam a ser erguidas por engenheiros importados, os hospitais desenhados por consultores estrangeiros e até a agricultura, riqueza vital do continente, muitas vezes planeada fora. A dependência transformou- se na forma mais impecável de escravatura moderna, cuidadosamente mantida por lideranças que lucram com ela.
A libertação de África não virá de discursos grandiosos em Nova Iorque, mas da coragem de romper com o ciclo do político terrorista, que governa para si e para os estrangeiros. O futuro do continente dependerá da escolha entre continuar a exportar riquezas e importar quadros, ou investir em si mesmo, formando gerações capazes de libertar África da escravidão política e intelectual que a mantém refém há décadas.
Por Rafael Morais

