A velha maka dos transportes públicos

0
431

O transporte coletivo nem sempre é uma escolha das pessoas. Muitos só contam com essa opção para os seus deslocamentos diários, principalmente para chegar ao trabalho, à aula ou retornar a casa, o que tem sido uma dor de cabeça, para milhares de trabalhadores e não só, que tem de enfrentarem as longas filas nos pontos e da carência de autocarros. E o caminho, também, não se resume apenas ao trajecto feito dentro dos veículos.

Luís Caetano

O transporte público em Luanda sempre foi alvo de muitas reclamações ao longo dos tempos e principalmente nesta fase da pandemia, em recomenda o distanciamento. Na maioria das vezes, as queixas referem-se ao facto de os autocarros estarem sempre lotados, às condições de calamidade pública e à baixa qualidade dos serviços prestados. Tais problemas somaram-se à insatisfação popular com a redução de passageiros a 75 por cento, o que culminou em uma série de protestos. Em função disso o Jornal Continente, fez uma ronda ao longo da cidade capital e constatou em grande “o sofrimento” o quanto passam o povo angolano para conseguir apanhar o autocarro público de casa para o serviço e vice-versa. Na ocasião, a nossa reportagem testemunhou muitas pelejas ocorridas segunda-feira 1 de Março, por volta das 7 horas, 15 e 19 horas em Viana e no largo das escolas, causados por um enorme enchente de pessoas, cada um procurando se encaixar ao longo da fila para conseguir um lugar no “machimbombo” para poder chegar ao seu destino.

Paulina Francisca de Assunção, funcionaria público, disse a nossa reportagem na zona de Viana, na paragem do Kapalanca, que acordou cedo para apanhar o autocarro para o trabalho, mas com tanta gente, e a fila não avança, vai ser um grande problema para chegar cedo ao serviço.

“Não tenho condições para apanhar táxis, e encontro este meio de transporte como solução para poder me deslocar de casa ao serviço e vice versa, só que o grande problema está nos poucos autocarros que não chegam para nada”, fez saber Paulina de Assunção.

Risco de contaminação

A limitação do número passageiros tem tornado mais difícil a vida do cidadão, causando aglomerações e longas filas nas paragens, aumentando o risco de propagação de contaminação entre as pessoas, contraria frontalmente as recomendações de distanciamento social, e impacta principalmente a população de mais baixa renda e mais vulnerável que são a maioria dos usuários de transportes públicos nas cidades. Ainda, quanto mais longe a pessoa morar, e mais tempo passar no transporte, mais ela estará exposta ao contágio. É um problema que tem um impacto muito desigual, prejudicando mais as populações periféricas. Sobretudo neste período difícil da Calamidade Pública.

Nos últimos meses, diversas mudanças têm acontecido para a redução da contaminação do coronavírus em Angola. No entanto, muitas acções tiveram resultado positivo e o que se vê, felizmente, é o número de casos a diminuir, dia após dia. O transporte público é um dos locais que mais preocupa a população angolana, principalmente, pela falta de condições de distanciamento. Medidas como a redução na circulação de autocarros, foram anunciadas, mas as lotações continuam acontecendo e não acompanham a demanda de passageiros.

A funcionária doméstica Josefa Sebastião explica que o número limitado de passageiros e a demora dos autocarros, até chegar à sua paragem na Bela Vista, Avenida Deolinda Rodrigues, tem criado muitos constrangimentos para chegar a horas no serviço. 

Apesar de acordarem cedo, a batalha começa logo pela manhã 06horas até 08h, depois ao meio da tarde, e ao começo da noite, isto das 15 até 19 horas, as paragens ficam lotadas de pessoas que permanecem horas à espera de uma oportunidade para embarcar num autocarro público e chegarem ao seu destino, mas aos empurrões e colocando a sua força em evidencia.

Francisco Miguel, funcionário público disse a nossa reportagem que para chegar atempo ao trabalho no centro da cidade, tem que sair cedo de Viana. Neste momento está no Largo das Escolas desde as 15 horas para apanhar o autocarro de regresso e até agora nada, como vê a fila e longa e não será fácil.

As linhas de Viana, Benfica, Cacuaco, da cidade são as mais afectadas. No caminho para a casa, a jovem Mariana Domingos, que entra às 7 horas, precisou sair de casa três horas antes para não correr risco de se atrasar e confessa que passa mais tempo tentar apanhar o transporte do que trabalhando.

“Estou a sair de casa esta hora, porque as enchentes nas paragens são tantas que é de enlouquecer as pessoas, não sei a hora certa que os autocarros passam, e tenho que estar cedo para não chegar atrasada ao meu trabalho”, admite a passageira.

Para que possam entender, a capital do país tem pouco menos de 420 autocarros públicos, para uma população estimada em mais de sete milhões de habitantes, na maioria sem carro próprio, é uma gota no oceano, em função disso, as pessoas ficam mais de cinco horas na fila à espera do autocarro.

Enquanto fazíamos esta reportagem, era visível e o desanimo, a impaciência e luta entre os cidadãos por um lugar na fila de frente, para não atrasarem, em chegar em suas causa, os constrangimentos provocado por falta de transportes públicos que, bem podia já ter merecido a intervenção das autoridades competentes, o que não acontece.

 “E o calvário, estou aqui desde as 15 horas e até agora não consigo apanhar o autocarro, tudo porque são insuficientes para contornar a demanda da população que procura o meio termo para regressar a casa junto da sua família”

Devido ao custo elevado da vida, são milhares os trabalhadores e outros cidadãos que dependem, todos os dias, dos transportes públicos, e enfrentam “batalhas” superlotadas para conseguir se locomover. Conforme estimativas das autoridades locais, a província tem necessidade de pelo menos sete mil autocarros na via, para reduzir o impacto da falta de transportes públicos urbanos.

No entanto, a demanda nas diversas rotas dos municípios da capital do país, designadamente Luanda, Cazenga, Viana, Talatona, Cacuaco, Kilamba-Kiaxi, Belas, Icolo e Bengo, demonstra que, apesar do esforço, este número de frequência de autocarros é insuficiente.

O cidadão António Gonçalves, residente no bairro Mundial, distrito urbano do Benfica, refere que o número reduzido de autocarro na via e a obrigação de transportar apenas 75% da sua capacidade, face as medidas sanitárias, está a provocar enchentes nas paragens, e principalmente nas horas de ponta.

Para si, outra causa das enchentes é o facto de os autocarros que operam na linha Vila de Viana/Largo das Escolas (Distrito Urbano da Maianga/ município de Luanda) ficarem muito tempo no engarrafamento, na Avenida Deolinda Rodrigues.

Por sua vez, Alfredo Viegas, funcionário público, solicita que a Direcção Provincial dos Transportes de Luanda crie, com urgência, estradas de serviços exclusivos para os autocarros, a fim de possibilitar mais viagens nas rotas e levar o maior número de passageiros.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui