*«A UNITA DO DR. SAVIMBI MATAVA E NÃO DAVA EXPLICAÇÕES A NINGUÉM!»*

0
482

*O QUE O POVO PRECISA SABER*

Na primeira parte da extensa conversa com o Semanário Angolense (SA), *Sousa Jamba* disse ter percebido que o general Altino Bock era um homem moribundo quando foi entrevistado por Luís Costa da Voz da América.

O escritor e jornalista diz que logo de imediato tratou de enviar um e-mail a Jonas Savimbi, intercedendo para que Bock fosse poupado. Sabe-se que a demanda de Sousa Jamba não foi bem sucedida e Bock acabou mesmo na guilhotina.

Mas o líder da Unita terá ao menos respondido ao e-mail?

Sousa Jamba (SJ) – Não, não respondeu. Mas eu pedi para que aquele homem fosse poupado, porque esse tipo de mortes não tinha nada a ver com a Unita, enquanto partido. Na verdade, como é que a Unita poderia explicar esse tipo de mortes? Como é que vamos explicar as mortes do Chindondo, Sangumba e de várias outras figuras que desapareceram?

SA – E qual foi a explicação interna dada pela Unita para esse elevado número de mortes?

SJ – *Nunca foi dada nenhuma explicação. E este é o grande problema da Unita. Esta é a verdade e uma verdade muito vergonhosa! A Unita do Dr. Savimbi matava e não dava explicações a ninguém! Fazia coisas monstruosas dessas e depois dali era esquecer. Nós, os da diáspora, debatíamos permanentemente este problema. E havia uma corrente interna que tentava compreender essas mortes com a justificação de que numa guerra há gente que morre e gente que sobrevive. Mas isso nunca me convenceu.*

SA – Dentro da Unita, Savimbi era o responsável exclusivo por essas mortes?

SJ – Claro que também houve outras pessoas com responsabilidades nisso. Mas quem conheceu bem o Dr. Savimbi sabe que nada acontecia sem o seu aval.

SA – Qual foi o papel do general Gato nisto? Ele é geralmente associado à morte de Tito Chingunji por ter sido supostamente quem denunciou a Savimbi um «affaire» que Tito terá tido com Ana Isabel, em Paris…

SJ – Falemos do general Gato, mas em relação ao papel que desempenhou quando nós estávamos a denunciar a iminente morte de Tito Chingunji. Quando começamos a fazer a campanha para proteger o Tito, a direcção da Unita apareceu em Londres e nos reunimos num hotel. A delegação da direcção integrava o falecido Alicerces Mango, o general Gato, o Tony da Costa Fernandes. Do outro lado da mesa estavam eu e o Dinho Chingunji. Neste encontro, o sr. Tony da Costa Fernandes disse-nos que Tito estava bem e que a nossa campanha não era justificada.

Isso mesmo foi repetido pelo general Gato, para quem Tito Chingunji também estava muito bem e que andávamos a fazer uma campanha totalmente injustificada. Agora, eu não sei o que ele sabia. Porém, pouco depois desse encontro, um líder da Unita, cujo nome não posso revelar porque a conversa foi apenas a dois, me confirmou que Tito Chingunji estava morto.

SA – Então admite que quando Gato e outros vos deram garantias de que Tito estava bem, eles já sabiam que Tito já estava morto?

SJ – Eu só posso dizer que não sei o que eles sabiam. Posso dizer também que entre esse encontro e a confirmação da morte de Tito, que me foi feita por um dirigente da Unita, não se passou muito tempo.

SA – Tanto quanto vai o teu conhecimento, por que razão Savimbi eliminou Tito Chingunji?

SJ – *Razões, razões nunca ninguém deu. Mas o que posso dizer é que havia no interior da Unita uma certa corrente de contestação às práticas e os excessos do Dr. Savimbi. Tito Chingunji era tido como a figura central dessa contestação. Tito era uma pessoa moderada e bastante equilibrada.*

Mas o que surpreende em tudo isso é que o Dr. Savimbi dizia ter uma grande admiração por Tito. Num certo dia disse mesmo que iria propô-lo para o cargo de vice-presidente da Unita. O Tito era elogiado como um dos jovens mais promissores da Unita. Era admirado pelos Estados Unidos. Era uma pessoa que gostava do debate, muito culta, que viajava com malas de livros. Era um poliglota: falava fluentemente o inglês, o português e o francês. Todas essas qualidades, a que juntava uma formidável cordialidade, erigiram-no, se calhar involuntariamente, para um patamar muito alto. Creio que começou mesmo a ser visto em alguns círculos como o substituto natural do Dr. Savimbi, aquele que seria capaz de tirar *o partido daquelas práticas abomináveis de que temos vindo a falar.* Todos sabemos que em África não é muito bom ser apresentado como alternativa ao chefe.

Nas nossas democracias, enquanto o soba está vivo não pode haver alternativa e o Tito, pelo menos entre certos jovens, estava a emergir como uma alternativa. Tito desfrutava de uma enorme simpatia entre aqueles jovens que, não querendo trair a Unita, não concordavam, *porém, com as práticas do Dr. Savimbi. Este Dr. Savimbi, que era um homem genial, um brilhante estratega militar, a partir de certo momento tornou-se absolutamente irracional. Insultava as pessoas, humilhava-as publicamente, crucificava os quadros, até mesmo aqueles que estavam mais próximos dele. É com essas práticas dele que nós discordávamos absolutamente. É verdade que ele era o líder, mas não era a Unita.*

Fonte: Semanário Angolense

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui