Em 2006, quando foi entrevistada para constar do livro “Zunga pão rima com asfalto”, produzido e editado pelo Jornal de Angola, Fernanda Migi, mais conhecida por “Mizé”, era solteira e vendia na zunga livros didácticos. Hoje, passados 15 anos, ela é casada, mãe de dois filhos, está licenciada em Psicologia Clínica e é professora do ensino de base.
Mizé conta que antes dos livros vendia água fresca em casa. Tal como grão a grão a galinha enche o papo, Mizé foi fazendo as suas poupanças. Com o dinheirinho acumulado decidiu trocar a água fresca pela comercialização de livros escolares. A zunga era feita na baixa de Luanda. O desejo de aumentar as habilitações literárias esteve sempre presente na sua vida. Num primeiro momento, ela sonhava ser jornalista.
Apesar dos constrangimentos, aliado à inexperiência incial, Mizé, segundo contou ao Jornal de Angola, nunca sentiu vergonha de zungar. O contacto permanente com os livros que vendia, os quais acabava por ir lendo, e o apoio das amigas que trabalhavam num centro infantil, alargaram-lhe os horizontes. A lida diária com os livros criou-lhe paixão pela leitura e os estudos. Se, no princípio, a zunga resultava da necessidade imediata de ganhar sustento, posteriormente servia também para sustentar a sua formação académica.
Fernanda Migi agora é professora do ensino de base, na escola 1.116, no Distrito Urbano da Maianga. “Nunca deixei de estudar, mesmo na minha actividade de zungueira. Queria terminar a formação superior e ser alguém na sociedade” disse, com orgulho.
O reencontro
Mizé conta que ficou na zunga seis anos. Mais tarde, para não comprometer os estudos, optou por ficar a controlar os negócios da irmã mais velha em casa, no bairro Palanca. “Aí procurávamos vender de tudo um pouco. Vendíamos bolas de Berlim, paracuca, rebuçados, frutas, cigarros…”
Há poucas semanas, coincidentemente, a ex-zungueira reencontrou no táxi, a caminho da Mutamba, a paginadora do Jornal de Angola Arlete Messele. Não fosse o encontro inesperado, confessa Mizé, “não teria conhecimento de nada”. Isto é, não saberia do lançamento da segunda edição do livro “Zunga pão rima com asfalto” nem que a ela cabia o montante de um milhão de kwanzas por dele ter participado como entrevistada há quinze anos. “Agradeço à dona Arlete por me ter reconhecido. Trocamos os contactos e depois ela me encaminhou para a dona Teresa Alexandre [equipa de produção]. Foi um encontro emocionante”.
Fernanda Migi pretende, com o dinheiro, expandir o seu negócio de venda de louças com entrega ao domicílio.
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