A delegação de deputados que foi impedida pela polícia angolana de entrar na vila de Cafunfo fala em «ditadura do MPLA» e que o novo paradigma imposto por João Lourenço é «um embuste».
O grupo de deputados da UNITA, oposição angolana, já abandonou a entrada da vila de Cafunfo, palco de incidentes com mortos e feridos, afirmando que «apesar do impedimento e ditadura das autoridades» o seu trabalho foi realizado.
Para o deputado Alberto Ngalanela, falando segunda-feira (08) à Lusa, os parlamentares e activistas deixaram o local na noite de domingo (07), estando agora a trabalhar na vila do Cuango.
«Já abandonámos a entrada da vila de Cafunfo depois de quatro dias de detenção e de trabalho; estivemos os quatro dias no mesmo local, mas estivemos em movimento, então terminada esta parte, fomos até à vila do Cuango onde continuamos a trabalhar», afirmou o parlamentar.
Os deputados Alberto Ngalanela, Domingos Oliveira, Rebeca Muaca, Joaquim Nafoia e Sidiangani Mbimbi, acompanhados de mais dois activistas, seus motoristas e escoltas, integram a delegação que foi impedida pela polícia de entrar na vila mineira de Cafunfo.
Há uma semana, naquela localidade da província da Lunda Norte, leste angolano, foi palco de incidentes entre manifestantes e a polícia nacional.
Segundo a polícia angolana, cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe (MPLT), que há anos defende a autonomia daquela região rica em recursos minerais, tentaram invadir, no sábado 30 de Janeiro, uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas.
A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição e sociedade civil local que falam em mais de uma dezena de mortos.
Quatro dias depois de estarem retidos a cinco quilómetros daquela vila, os deputados da UNITA, explicou Alberto Ngalanela, decidiram, na noite do passado domingo, fazer um «recuo estratégico» para se reposicionarem na vila do Cuango para conseguir outros dados sobre os incidentes de Cafunfo.
«Não é possível impedir esse grupo com tanta experiência, felizmente estamos no Cuango e aí não conseguem impedir os nossos movimentos e do Cuango para Cafunfo há um trânsito fluido e estamos a regressar com o sentimento de dever cumprido», assegurou.
Para o líder da delegação parlamentar da UNITA, que não entrou em detalhes sobre os dados recolhidos no local, cuja «maior parte já foi enviada para Luanda», os obstáculos «impostos pelas autoridades» locais «confirmam o carácter ditatorial do MPLA», partido no poder.
E «também ficou confirmada a subalternização de um órgão de soberania em relação ao outro e ficou confirmado que o chamado novo paradigma é uma falsidade, um embuste e uma miragem».
Por sua vez, a activista Laura Macedo, que também faz parte desta caravana, disse que abandona a entrada de Cafunfo com o «sentimento de dever cumprido», porque o seu trabalho foi realizado.
«Embora o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975] nos tenha impedido de entrar, embora o Governo de Angola nos tenha impedido de entrar, a informação fluiu, fiz o meu trabalho e estou orgulhosa de mim mesma», afirmou segunda-feira à Lusa.
«Este impedimento é devido à ditadura em que vivemos, estamos numa ditadura muito mais apertada, desde há um ano, as coisas estão a apertar, a situação económica está difícil, com cidadãos com muitas dificuldades», notou.
Laura Macedo disse que vai divulgar os dados que apurou no local apenas em Luanda e realçou que apesar dos entraves das autoridades, conseguiu movimentar-se por «caminhos de cabras» para fazer o seu trabalho.
«Sempre ouvi que nas zonas diamantíferas o ‘dinheiro era capim’, mas hoje já não é, as pessoas passam mal, reclamam que passam mal e em troca as pessoas levam porrada», lamentou. *(Com Observador)
FOnte:J24H