Angola prepara-se para a realização das eleições gerais e as primeiras autárquicas. Nesse sentido, estão a surgir no cenário político nacional novas organizações que se assumem como partidos políticos e uma como organização da sociedade civil.
Em Angola estão a surgir novos movimentos políticos de oposição ao partido no poder, MPLA, ou seja, Movimento Popular de Libertação de Angola, num período em que o país se prepara para a realização das eleições gerais e as primeiras autárquicas que têm gerado muita controvérsia interna.
Inspirando-se na antiga UPA, fundada pelo nacionalista Holden Roberto, o activista Pedrowski Teka, do Movimento Revolucionário de Angola, apresenta ao país o novo projecto. A plataforma União dos Povos de Angola (UPA) tem como finalidade elevar a «luta dos activistas cívicos» angolanos que, desde Março de 2011, promovem manifestações contra o Governo do MPLA que dirige o país há 45 anos.
Não é somente para os jovens revolucionários que ressurge a UPA, segundo o seu mentor Pedrowski Teka. Qualquer angolano maior de 18 anos pode filiar-se ao projecto cuja apresentação oficial está agendada para 7 de Março, data em que os activistas vão comemorar dez anos de manifestações antigovernamentais em Angola.
Os jovens “revús” do Movimento Revolucionário Angolano, nunca tinham apresentado, de forma oficial, ambições políticas e nem tão pouco discutem internamente sobre o que são realmente, diz Pedrowski Teka em entrevista à DW.
«Até agora temos um carácter organizativo, um carácter estrutural da nossa luta. Nunca sentámo-nos para definirmos os objectivos comuns nem sequer para definirmos quem somos. Então, esta união do povo angolano vem como um movimento organizado que vai apresentar um objectivo maior», explica.
«Temos como objetivo o poder», afirma Pedrowski, avançando que a intenção é transformar a UPA em partido político que vai congregar os “revús” e todos os cidadãos que não se reveem nas actuais formações partidárias. Devido ao alegado impasse no processo de legalização de partidos no Tribunal Constitucional, a UPA vai marcar os seus primeiros passos como uma organização de massa da sociedade civil com membros em todas as províncias e no exterior.
A defesa da identidade cultural angolana está na agenda desta plataforma juvenil. O activista avança que a organização está preparada para concorrer nas eleições regionais, embora não haja data especifica para a sua implementação.
«Em Angola não existe uma organização não-governamental de massas. Vamos trazer uma ONG de massas que vai fazer pressão política, económica, social e cultural. Apesar das críticas de que os activistas e as ONG não têm como objectivo o poder, nós, declaradamente, assumimos que temos como objectivo o poder. O poder está estratificado em duas formas: temos o poder central e o poder local. Os nossos activistas e membros irão concorrer às eleições autárquicas. Vai ser o cumprimento do nosso primeiro objectivo. O segundo objectivo vai ser o poder central», adianta.
O projecto, cuja ideologia é pan-africana, surge também para quebrar o conformismo dos partidos políticos da oposição, que, segundo o activista Pedrowski Teka, estão sem «ideias concretas« para o país.
«Os partidos políticos da oposição estão conformados. Actuam dentro de um quadrante desenhado pelo partido no poder. Não têm iniciativas. Muitas vezes, esses partidos políticos da oposição, críticos do regime e da oposição, penduram-se nos jovens revolucionários como eu. Eles usam as nossas lutas, para poderem ganhar o sustento que têm e para poderem fazer oposição», acusa o mentor da União dos Povos de Angola (UPA).
Enquanto isso, recorde-se que o Estado angolano não legaliza partidos políticos desde 2017. Até final do ano passado, 2020, o Tribunal Constitucional foi alvo de críticas por não reconhecer as 32 mil assinaturas recolhidas pelo Partido do Renascimento Angolano-Juntos Por Angola (PRA-JA Servir Angola), projecto político de Abel Chivukuvuku.
Ainda no fim de 2020, o tribunal angolano credenciou várias comissões instaladoras, entre as quais a do Partido Humanista de Angola (PHA), de Florbela Malaquias, e o partido Nacionalista para Justiça em Angola (NJANGO) de Dinho Chingunji, ambos antigos membros da UNITA, maior partido da oposição.
Dinho Chingunji, que foi ministro da Hotelaria e Turismo no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), depois dos acordos de paz em 2002, diz que o seu partido é de centro-direita e vem contrapor os actuais que surgiram dos movimentos de luta contra o colonialismo.
O NJANGO está a aceitar militância de cidadãos que se identificam com a sua ideologia, explica Dinho Chingunji. «Para sairmos da tradição dos movimentos, onde muita gente seguiu família, amigos que entraram na luta, tribos e regiões. Situações que estragam o funcionamento dos partidos e trazem confusão. E outra coisa, vê-se algumas pessoas que defendem o capitalismo e alguns que defendem o socialismo e estão no mesmo movimento. Isso é o factor da desorganização que existe em termos de governação, porque este puxa para a esquerda e o outro puxa para a direita», descreve.
Chingunji acredita que o seu partido será legalizado ainda este ano, pois trabalhou pela constituição do projecto durante dois anos para não cometer erros. O político diz que o NJANGO vai conquistar votos dos cidadãos que não votaram nas últimas eleições.
Segundo Dinho, em 2022, vai concorrer para ter um número significativo de deputados no Parlamento e em 2027 o foco será a conquista do poder. «Acreditamos que somos esse partido que em 2022 vai fazer com que essa gente pela terceira vez não fique. Olhamos para 2022 como uma oportunidade que acreditamos que vamos ter um bom número, falamos numa média de 30 deputados. Porque se fizermos conta desses eleitores que não são deles, não vamos tirar os simpatizantes da UNITA ou do MPLA», disse o político.
Ainda não está concluído o processo de legalização do partido ‘Acção para o Reforço da Democracia em Angola’ (ARDA). O seu mentor, Teka Ntu, está firme de que esta nova força política da oposição será o factor estabilizador do processo de democratização de Angola.
«A população angolana precisa de melhores perspectivas para o futuro e as hipóteses para isso são favoráveis. A ideia é que devemos criar um ‘Plano Marshall’ para Angola que poderá estabelecer a nossa relação económica em níveis de igualdade», sugere.
O presidente da ARDA anuncia que será candidato às eleições do próximo ano. «Temos fé que em 2022, vamos concorrer nas eleições gerais e eu, Teka Ntu, vou concorrer como o cabeça-de-lista às eleições gerais», assegura confiante. (In DW África)
Fonte:J24H