A publicação de 43 páginas apresenta-se bastante sumarenta. A capa recupera uma conversa de há vinte e um anos entre Arnaldo Santos e Luís Kandjimbo, mantida no programa “Leituras”, que este último apresentava na TPA. Constam ainda da capa as chamadas “Memórias UEA 45 Anos Com Luandino Vieira: Distribuíamos Livros Como Ração de Combate” (entrevista conduzida por Gociante Patissa); e “Maria Eugénia Neto: O Sentido Patriótico Está Muito Em Baixo” (entrevista conduzida por João Maria); “Boaventura Cardoso: Faz-nos Muita Falta a Crítica Literária” (entrevista conduzida por João Maria).
Gociante Patissa entrevista também Mário Pereira “Kakalunga” (“Haja Concursos Literários em Línguas Nacionais”), um dos mais notáveis cultores da literatura em Kimbundu. Roderick Nehone diz, em entrevista a João Maria, que “A Literatura Angolana Não Se Esgota Numa Ousada Descrição”. Job Sipitali, escritor da nova vaga, afirma numa breve entrevista: “O Meu Princípio Teve Uma Fase Dolorosa”.
A gazeta publica ensaios de Lopito Feijó (“Com Tensões Verbais – Subsídios de Memória”), Zetho Cunha Gonçalves (“2 Poemas Quase Desconhecidos de Jacinto e Viriato”), contos de Gociante Patissa e David Calivala e poemas de Agostinho Neto, Jimmy Rufino, Frederico Ningi, António Panguila, António Gonçalves, Amélia Dalomba, Mário Pereira, Paula Russa, Pombal Maria e Cláudia Cassoma.
A UEA faz saber em nota assinada pelo secretário-geral David Capelenguela que o retorno à circulação da Gazeta Lavra & Oficina está inserido nas comemorações dos 45 anos da associação. “Esta primeira edição da primeira série (…) tem como tema ‘incertezas e resiliências’, por influência do contexto desafiador que há um ano assola a Humanidade”, refere a nota, que sublinha ainda que a edição “é um tributo à palavra e à memória enquanto tradutores de sentimentos, aspirações e herança, prestanto também uma singela homenagem a quatro poetas falecidos nos dois últimos anos, designadamente António Panguila, Frederico Ningi, Jimmy Rufino e António Gonçalves”.
Muitos leitores certamente reconhecerão a Gazeta Lavra & Oficina como uma das principais marcas da velha associação de escritores. Foi criada na década de 1970 no calor do surgimento da UEA e teve como precursores os escritores David Mestre, Carlos Ervedosa, Ruy Duarte de Carvalho, António Jacinto e Luandino Vieira. Saiu de circulação em 1999 por dificuldades financeiras.
Numa primeira fase a gazeta, com periodicidade bimestral, vai circular no formato electrónico (PDF), enquanto, segundo a UEA, “se mobilizam apoios para custear a sua impressão”. A distribuição é gratuíta.
Neste seu regresso a Gazeta Lavra & Oficina tem como como coordenador David Capelenguela e editor-chefe Gociante Patissa.
Isaquiel Cori
Fonte:JA