Zhang Zhan viajou para Wuhan, em Fevereiro deste ano, para reportar sobre o surto da covid-19 e a subsequente campanha de prevenção contra a doença e tratamento dos pacientes, mas desapareceu, em Maio, sendo mais tarde revelado que foi detida pela polícia em Shanghai.
Zhang Zhan foi condenada por “causar distúrbios” e “procurar problemas”, uma acusação frequente contra jornalistas e activistas dos Direitos Humanos na China, segundo o jornal Apple Daily, que citou um dos advogados.
A jornalista recusou-se a admitir as acusações, considerando que as informações publicadas por si em plataformas chinesas como o WeChat ou nas redes sociais Twitter e YouTube não deveriam ter sido censuradas.
De acordo com a Amnistia Internacional (AI), o seu trabalho em Wuhan focou-se no relato das prisões de outros repórteres independentes e o assédio de familiares de vítimas do novo coronavírus.
A organização Defensores dos Direitos Humanos na China revelou, em Setembro deste ano, que a jornalista tinha sido presa por informar que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada, durante as 11 semanas de confinamento da cidade, ou que foram obrigados a pagar para realizarem testes de detecção do coronavírus.
Zhang Zhan, que foi presa no final de Maio, iniciou uma greve de fome em Setembro, o que fez com que ficasse numa condição física “muito fraca”, segundo o seu advogado, que afirmou que as autoridades a alimentaram à força, recorrendo a um tubo.
Um outro advogado revelou a intenção da repórter, de 37 anos, de continuar a greve de fome “mesmo que morra na prisão”.
Vários outros jornalistas independentes que viajaram para Wuhan no início do surto foram detidos ou desapareceram na China, enquanto as autoridades restringiram a cobertura e a imprensa oficial enalteceu a resposta de Pequim como eficaz e oportuna.
Em Fevereiro, um outro jornalista Chen Qiushi, que transmitiu vídeos ao vivo de Wuhan durante o bloqueio da cidade e difundiu reportagens nas redes sociais, desapareceu também. Dois outros repórteres independentes – Li Zehua e Fang Bin – também foram detidos após cobrirem o surto em Wuhan.
No entanto, Zhang Zhan foi a primeira jornalista a ser formalmente punida com pena de prisão.
A China é o país que mais prende profissionais da imprensa no mundo, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Em Março deste ano, a China expulsou jornalistas dos órgãos New York Times, Washington Post e Wall Street Journal, num ataque sem precedentes contra a imprensa estrangeira.
As restrições à imprensa, no entanto, não foram suspensas, e a imprensa estatal chinesa passou a promover agressivamente teorias de que a pandemia teve origem fora do país, apesar de não haver evidências cientificas.
Fonte:NG