Mas tem uma coisa de bom. Sempre que baica (morre) alguém do bairro Mbinla (Sambizanga), Zenga (Cazenga) e de outras zonas do areal, onde tem familiares, ele aparece para dar os seus pêsames e presta todo o apoio possível.
Quem conhece o balande (casa) do Diavulo, nome que é conhecido no areal, é o Mamungua. O Ngalomingo, parceiro da Ngalominga, preocupado com a não comparência do sobrinho, andou nas casas dos amigos dele para saber o que se passava com ele, já que só aparece nos cemitérios, quando alguém vai a enterrar.
Do Mata Barata e do Zé Bogoço, Ngalomingo recebeu a resposta de que quem sabe onde anda e está o Diavulo é o Mamungua, que também é seu sobrinho.
Ouvida esta explicação, Ngalomingo foi ao mbanji (casa) do Mamungua. Este Explicou-lhe onde o Diavulo trabalhava e a morada da casa. Com essas dicas tinha tudo para apanhar ou surpreender o sobrinho.
Ngalomingo foi ter com a irmã gêmea, Ngalominga, e garantiu que já sabe onde o Diavulo trabalha e onde mora. É assim que na passada sexta-feira os gingongos foram ao salu do filho e sobrinho. Foram recebidos educadamente pela secretária.
Esta depois de dar as boas vindas e perguntar do que lhes podia ser útil, o Ngalomingo respondeu: “Ele é nosso filho. Esta é a mãe dele que lhe nasceu no Ndange (Dande/Caxito), eu sou tio dele. Somos gingongos.”
A secretária respondeu que Sua Excelência Senhor ministro foi à reunião do Conselho de Ministros. Os ngavives (mais velhos) não entenderam bem as palavras Conselho de Ministros. É assim que Ngalomingo atira: “Quem tem que lhe dar conselhos somos nós. Viemos aqui para lhe aconselhar para não andar à toa, ficar em casa por causa da Covid-19 e foi buscar conselho de outra pessoa. Tá bom, ele amanhã vai nos ouvir, vamos ir em casa dele”.
Postos na banda encontram os candengues da pedra, do fogão, Panhanha, Kinama e o Dianzala. Contaram o sucedido. Kinama explicou o que é o Conselho de Ministros, mas os Ngavives não estavam a entender. Ngalomingo voltou a afirmar que “ele amanhã vai nos ouvir”.
Minutos depois aparece o Mamungua. Toma conhecimento do sucedido. Explica o que é um Conselho de Ministros, mas não convenceu os gingongos.
Pediram uma boleia ao Mamungua para primeiro irem ao Kifangondo, fazer umas compras, e depois lhes levar à casa do Diavulo.
Mamungua disse que não tinha problema e combinaram sair às sete da matina. Tudo combinado. Mamungua como é mais velho de juízo, apanhou o Kinama e os gingongos e seguiram viagem ao Kifangondo, onde Ngalominga fez compras para os seus cinco netos, além de duas galinhas, carvão, dendém, tomate, bagre escalado, cacusso seco, mandioca, batata doce, jindungo e maruvo.
Feitas as compras, rumaram à casa do Diavulo. Como a estrada estava limpa, chegaram lá quando passavam alguns minutos das oito horas da manhã.
Mamungua pediu ao Kinama para ficar com os ngavives e disse que lhes pegavam às cinco da tarde. Assim ficou acertado, porque o Mamungua tinha que fazer ainda umas puxadas (serviço de táxi).
Já no balandi do Diavulo, o Ngalomingo cumprimenta o protecção e diz que vieram ter com o filho. O protector diz: “O estatuto do chefe não permite que lhe acorde a essa hora”. Segundo o Kinama que estava presente e gosta de açucarar (aumentar na conversa), o Ngalomingo futucou (enervou-se) e disse: “Já lá está o estatuto, quem é este estatuto que não nos deixa falar com o nosso filho”.
O protector não estava entender nada. Outro seu companheiro veio agravar a situação. Ao ouvir os berros do Ngalomingo chegou e disse: “O chefe não gosta de ouvir barulho essa hora”.
Ngalomingo ficou nervoso e respondeu: “Eu pedi água do chefe”.
Diavulo apercebe-se do barulho, segundo o Kinama, e sai. Gala (vê) que são os seus ngavives. Cumprimenta e manda entrar.
Assim que entram, como diz o Kinama, os netos, filhos do Diavulo, saem a correr da sala de estar e vão cumprimentar os avôs. A mais velha, que tem 15 anos e já entende um pouco de língua nacional kimbundu, começa a cantar a música do grande Nick: “Avô weza, nzala uabo” (avô chegou, a fome acabou).
Enquanto os candengues pancavam (comiam) a mandioca, a batata-doce, o milho assado e outros kitutes, a Ngalominga pergunta: “Onde está a mbalacagi (nora)?”
Diavulo entra em pânico, concentra-se e responde. “Está descansar”. Ngalominga diz: “Essa é hora de uma mulher acordar. Agora estou aqui. Trouxe bagre, cacusso, farinha, tomate e carvão quem vai fazer o menha nha dungu?”.
Na verdade, Diavulo sabe ou reconhece que a sua mboa (esposa/mulher) não sabe cozinhar essa comida típica.
A Ngalominga pediu fogareiro, petróleo e grelha para fazer a cuadia (comida). Não tinha. Diavulo mandou comprar às pressas . Assim que recebeu esse material, a Ngalominga cozinhou.
Todos comeram, até a mbalacagi e incluindo os protectores, que estavam aborrecidos de tanto comerem costeletas, bifanas, frango frito e salada fria.
Na hora do almoço, a Ngalominga fez uma moamba de dendém que foi regada com um bom maruvo. Assim os gêmeos mataram saudades com o filho, a nora e os netos, mesmo Diavulo entrando em pânico.
O Kinama, como sempre, afirma que não é só a mulher do Diavulo que não sabe cozinhar comidas típicas. São muitos governantes, deputadas, empresárias e outras porque têm empregadas. Essas palavras enervaram o Mamungua que lhe tirou de casa, com o argumento de que se elas não sabem cozinhar comida típica “vai lhes dizer isto na cara, se tens peito”.
Mas é o ministro em pânico…
Fonte:JA