Navalny enganou o FSB e descobriu que o tentaram matar com veneno na roupa interior

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epa08689813 An undated, recent handout photo made available by Russian opposition leader Alexei Navalny via his Instagram site shows Navalny at the Charite hospital in Berlin, Germany, issued 23 September 2020. According to a statement of the Charite hospital Navalny was discharged from acute inpatient care on 22 September. Given his progress and current condition, the treating physicians believe that complete recovery is possible, Charite stated. EPA/ALEXEI NAVALNY HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

Alexei Navalny, líder da oposição russa, descobriu todos os detalhes sobre o próprio envenenamento ao fazer-se passar por um oficial sénior russo. A gravação da chamada telefónica onde o agente do FSB Konstantin Kudryavtsev revelou os pormenores foi divulgada no seu canal de Youtube. A substância química, Novichok, foi colocada nas costuras da roupa interior do opositor.

Navalny fez-se passar por um membro do Conselho de Segurança russo, utilizando o nome fictício de Maxim Ustinov, um “assessor do [Presidente do Conselho de Segurança da Rússia] Nikolai Patrushev” e solicitou aos oficiais um relatório oral que explicasse a razão pelo fracasso da operação. Após vários chamadas, apenas a última para o agente Kudryavtsev foi bem-sucedida. Konstantin Kudryavtsev formou-se na Academia Russa de Defesa Química e trabalha para o ministério da Defesa. Ao questioná-lo, o político descobriu que o veneno utilizado foi Novichok, a famosa arma química russa.

Na conversa, que durou 49 minutos, no dia 14 de dezembro, Alexei utilizou uma aplicação que modifica a identificação da chamada, simulando que a ligação telefónica partia do Serviço Federal de Segurança (FSB), a agência que sucedeu ao KGB. Ao pensar que estava a conversar com um oficial de segurança e persuadido pelo facto de os superiores exigirem um relatório completo, o agente Konstantin Kudryavtsev confessou que o Novichok foi colocado nas costuras da roupa interior perto das virilhas, quando Navalny estava a visitar a cidade de Tomsk. Uma equipa do ministério da Defesa desativou as câmaras de vigilância do hotel em que estava hospedado e infiltrou-se no quarto do opositor para aplicar o veneno nas suas cuecas.

Segundo lhe foi revelado, a substância atuou dois dias depois de colocada, já a bordo de um avião a caminho de Moscovo, quando se juntou ao suor do próprio corpo. O agente, que já pertenceu à equipa de especialização em substâncias tóxicas dos serviços secretos, realçou ao telefone que Alexei Navalny apenas sobreviveu pela atuação rápida do piloto de avião e da equipa médica que o assistiu de imediato, na Sibéria. Confirmou ainda que viajou até ao local para se certificar que as roupas do opositor eram eliminadas, assim como as pistas que identificassem o uso de Novichok.

A investigação do site independente russo Bellingcat descobriu que o agente viajou duas vezes após o acontecimento, em 25 de agosto e a 2 de outubro de 2020. Os registos telefónicos revelam ainda que nesse período de tempo manteve contacto regular com o Stanislav Makshakov, coronel e comandante direto do esquadrão do FSB. A ordem de colocar a substância na roupa interior foi dele, assegurou Kudryavtsev, durante a chamada. Alexey Alexandrov e Ivan Osipov, um outro agente, foram acusados de serem os executantes do envenenamento, uma vez que estavam ambos em Tomsk aquando do atentado.

Após o envenenamento, que quase resultou na morte de Navalny a bordo de um avião a 20 de agosto, a vítima foi transferida para Berlim, onde está a recuperar e a viver. O modo como Navelny obteve a informação levantou algumas questões éticas, porém “esta ação enquadra-se claramente no domínio do interesse público superior, à luz das circunstâncias extraordinárias”, afirma Bellingcat, o site de jornalismo de investigação. Realça ainda que Alexei não trabalha para a polícia, serviço de segurança ou conduz uma investigação jornalística. “Estava na posição única de investigar a sua própria tentativa de assassinato, numa altura em que nenhuma agência da lei está disposta a fazê-lo”, diz.

A Rússia permanece em silêncio perante as recentes revelações. Apenas há uma semana, Putin afirmou que achava correto que a equipa de segurança quisesse estar a par de todos movimentos de Alexei Navalny, alegando que Navalny estava a cooperar com os serviços de inteligência dos Estados Unidos. Negou o envolvimento do FSB no caso de envenenamento, relembra a Bellingcat.

Os serviços de segurança da Rússia classificaram a gravação como “uma falsificação” e “uma provocação”, por não apresentar provas da identidade do interlocutor. “A chamada investigação sobre ações alegadamente tomadas contra ele [que foi] publicada online por Navalny é uma provocação planeada destinada a desacreditar o FSB e os funcionários do serviço de segurança federal, que não teria sido possível sem o apoio organizacional e técnico dos serviços especiais estrangeiros”, afirmou a entidade num comunicado, citado pela CNN.

O Kremlin acusou o opositor russo de sofrer de “delírios de perseguição” por acusar os serviços de segurança de Moscovo de envenenamento. “Permito-me a expressar uma opinião pessoal: [Navalny] sofre manifestamente de uma doença, de um delírio de perseguição e (…) apresenta sintomas de megalomania”, diz Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Afirma ainda que o FSB desempenha funções de proteção contra o terrorismo e que a informação “não pode descredibilizar” os serviços.

Sanções aplicadas aos países europeus pela Rússia

A Rússia anunciou esta terça-feira que vai aplicar sanções aos países europeus face às medidas adotadas no caso de envenenamento de Alexei Navalny. A diplomacia de Moscovo afirma que “vai alargar a lista de representantes dos países membros da União Europeia impedidos de entrar no território da Federação Russa”.

O ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha considera as sanções “injustificadas”. O envenenamento “não é uma questão bilateral, mas uma questão de dimensão internacional porque é um atentado ao direito internacional, realizado com recurso a uma substância química neurotóxica”, elucida. Exige também que a Rússia esclareça o uso de uma substância de tipo militar num cidadão russo no próprio território.

Fonte: PA

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