Por: Carlos Alberto (Cidadão e Jornalista)
Não pretendo ensinar o Padre a rezar a missa, mas começa a ser muita coincidência que só na Rádio MFM e na Rádio Despertar é que os jornalistas estendem um tapete vermelho para que o presidente da UNITA diga o que lhe apetece, sem que o jornalista (entrevistador) consiga fazer perguntas com base em variáveis contraditórias, o que orientam os manuais de jornalismo.
Não é o Carlos Alberto que está a inventar isso. O exercício jornalístico tem regras. O género “entrevista” tem regras claras. Quem estudou jornalismo sabe do que estou a falar.
Não é normal vermos um jornalista (sério) perguntar a um político “o que se lhe oferece dizer sobre…?”. Um jornalista que faz este tipo de pergunta a um político (qualquer) ou não está preparado para a entrevista ou tem uma “linha editorial” muito bem programada a favor do político.
Eu acredito mais na segunda hipótese, uma vez que denúncias sobre financiamentos e ligações do presidente da UNITA, com militantes seniores do MPLA, contra João Lourenço, para que a manifestação de sábado, 24, saísse, mesmo contra o Decreto Presidencial sobre o estado de Calamidade Pública, foram feitas antes de tal “entrevista”, para além de denúncias que dão conta de que ACJ está a fazer uma fuga para a frente (com incentivo à desordem pública, usando jovens descontentes), devido às fortes contestações que tem sofrido dentro da UNITA – o que já deu lugar à suspensão de dois membros da Comissão Política, que comentaram no WhatsApp que não o querem como presidente da UNITA – nos últimos dias, por ter mentido que é engenheiro electrotécnico na Assembleia Nacional, por estar a ganhar salário como general (com base em negócios escuros com camaradas do MPLA) quando nunca foi militar e por não estar a prestar contas sobre o exercício das suas funções de presidente do grupo parlamentar da UNITA e agora nas vestes de presidente da UNITA.
Não é normal vermos um jornalista sénior – que não é um miúdo inexperiente em entrevistas – a não perguntar ao senhor ACJ sobre a responsabilização de devolução de bens públicos e privados, que foram destruídos na manifestação do último sábado, que João Lourenço imputou à UNITA e seu presidente.
Como é possível ouvir reacções do presidente da UNITA com base no discurso de abertura da reunião do CC do MPLA sem questionar directamente o que João Lourenço imputou à UNITA? Abre-se o microfone para o político Adalberto Costa Júnior reagir, dizendo o que quer? Ouvir reacções de políticos é isso? Que tipo de jornalismo é esse? E é assim que queremos ser o quarto poder?
É assim que os nossos jornalistas querem ser respeitados?
Será que todos os jornalistas estão comprados com dinheiro roubado ao país?
Será que todos os jornalistas estão a proteger marimbondos e outros do MPLA para se tirar João Lourenço do poder à força?
Estas coincidências na MFM mostram-me um cheiro que eu conheço.
Nada acontece por acaso.
Nós é que somos distraídos.