Mfinda Matubacana: “Não pode haver uma solução do problema da FNLA sem Lucas Ngonda”

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Mfinda Matubacana é, desde há algumas semanas, o novo secretário para a Informação, Mobilização e Propaganda da FNLA. De 47 anos e doutorado em Línguas e Civilização Bantu, pela Universidade de Kinshasa, Matubacana faz parte da ala de Carlito Roberto, filho do fundador do partido, tendo sido nomeado no âmbito do processo que visa a reunificação.

FONTE: Jornal de Angola

Em entrevista ao Jornal de Angola, o porta-voz da FNLA fala sobre as causas dos problemas no partido e aponta o egocentrismo como a principal razão para a desunião. Para o político, Carlito Roberto é a figura que reúne consenso para liderar, num futuro próximo, o partido. Avalia que o presidente Lucas Ngonda tem parte das culpas pela situação em que o partido se encontra e defende, por isso, que deve ser parte da solução.

Faz parte da ala de Carlito Roberto e foi nomeado num momento bastante conturbado, na sequência da suspensão do anterior secretário-geral. Tem um grande desafio …

Na verdade, fui nomeado num momento bastante conturbado. Mas, abraçamos o desafio com muita coragem e, sobretudo, determinação, porque o que nos anima é a vida saudável do partido, que lutou para libertar Angola do jugo colonial. Estamos a procurar formas para que o partido se reencontre. Não estamos para apoiar A ou B, mas a causa do partido.

E como avalia a situação do partido?

Sinceramente, a situação é negativa. Reconhecemos que um partido da dimensão histórica da FNLA não pode continuar assim, só por causa da ambição do homem. Cada um quer ser presidente. Isto até é natural e legítimo; o problema é como devemos chegar até lá. Por isso, queremos que os irmãos se reencontrem.

Várias sensibilidades do partido acusam Lucas Ngonda de ser o principal empecilho para a reconciliação. Quer comentar essas acusações?

(Risos) Sem problemas! Penso que é natural que se diga isso. Diz-se que o professor Lucas Ngonda é o problema, mas eu acrescento que ele também é a solução deste mesmo problema! Não se pode encontrar uma solução para o problema da FNLA à margem dele. Sem ele, não haverá sustentabilidade política e até mesmo jurídica. Ele é, como dizem, o problema, mas é, também, a solução.

Ainda que isso implique a perpetuação dele no poder? Faço esta pergunta porque o mandato da actual direcção expirou há um ano e seis meses.

Antes de responder a sua questão, permita-me esclarecer algo: faço uma analogia dos problemas da FNLA com um copo opaco. Vamos encher o copo com água. Quem estiver à frente de mim e não tiver visto eu a colocar a água no copo, não verá o que está no interior. Ao tentar encher o copo com água, vai notar que, afinal, este já está cheio e vai transbordar. Isso é para dizer que quando o irmão Lucas Ngonda assumiu a liderança, já existiam problemas na FNLA, mas, como ele é o líder, todas as culpas são atribuídas a si. Apesar de os irmaos dizerem que ele é parte do problema, a solução tem de passar por ele, porque é o presidente de iuris e de facto da FNLA. De resto, ele próprio já manifestou o desejo de não mais se recandidatar à liderança do partido. Defendeu, apenas, que a sua saída coincidisse, mais ou menos, com o fim do mandato no Parlamento.

Mas é assim que deve ser? Isto não é uma violação aos estatutos do partido? Insisto: o mandato desta direcção terminou há um ano e seis meses!

Nós estávamos a negociar e tínhamos de encontrar um tempo de transição e é neste espaço de tempo que ele pretendia permanecer na liderança.

E houve um acordo neste sentido?

Quando estávamos a negociar, um dos problemas que nos dividia era o tempo que devia durar a transição. Este ponto levou-nos quase cinco meses. A sensibilidade (ala) Ngola Kabangu apresentou uma proposta de seis meses de transição. A sensibilidade G6 (Grupo dos Seis) apresentava 10 meses. Nós, sensibilidade Carlito Roberto, apresentávamos 15 meses e a direcção do partido 24 meses, ou seja, dois anos. Nehuma sensibilidade se revia na proposta da outra. Ficámos a discutir, durante 90 dias, qual devia ser o denominador comum, até que o encontrámos. Ficou acordado que a transição deveria durar 14 meses e 15 dias. Este tempo foi encontrado através de um cálculo aritmético. Adicionámos os seis meses da sensibilidade Ngola Kabangu, aos 10 meses do G6, aos 15 de Carlito Roberto e aos 24 da direcção e dividimos por quatro (número das partes em discussão) e o re-sultado é de 14,5. Daí os 14 meses e 15 dias.

Mas é do domínio público que a ala de Ngola Kabangu se retirou da mesa de negociações, por não ter concordado com o pacto!

Não é que não tenha concordado! Desculpem-me que diga o que vou dizer: houve má-fé do grupo de Ngola Kabangu, até porque foram eles que, durante as negociações, incluíram no regulamento da Comissão de Reconciliação uma proposta segundo a qual tudo o que viesse a ser acordado seria um assunto fechado, ou seja, que já não se devia discutir. Mas foram exactamente eles a violar esta cláusula. Para eles, Lucas Ngonda deveria deixar a liderança já e já. Julgamos que não é assim que se faz a reconciliação. Eles tomam este posicionamento quando já estávamos a elaborar o pacto de entendimento.
No último dia de trabalhos, eles apareceram com um memorando totalmente diferente daquele que tínhamos discutido, com termos que até eram contra o bom nome do partido e o espírito de reconciliação.

Quem liderou a delegação da ala de Ngola Kabangu?

Foi o Dr. Soki.

O professor Roberto Soki?

Sim. Inclusive, neste dia, quando apareceram, ainda cheguei a recordar-lhe que ele se tinha formado numa prestigiada universidade da Itália e não podia fazer aquele papel. Questionei-o: “como é que você vai apresentar um documento destes?” Ele disse-me que não tinha sido ele quem o elaborou. Chegámos à conclusão de que estavam a negociar, mas, atrás deles, havia quem tinha outras intenções. Eu, Matubacana, não aceitaria fazer aquele papel, estando a representar a sensibilidade Carlito Roberto.

Na sua opinião, quem terá elaborado aquele memorando? Terá sido Ngola Kabangu?
Não posso afirmar isso! Sei apenas que eles trouxeram o documento e o Dr. Soki negou a sua autoria, dizendo que nem sequer participou na sua elaboração. Como pode imaginar, rejeitámos aquele documento e eles, de livre vontade, retiraram-se das negociações. O caricato é que, meses depois, pretendiam voltar.

E qual foi a vossa resposta?

Vimos aquilo como uma brincadeira! Se eu fosse o presidente do partido, tomaria a mesma decisão: não os receber, porque a paz e a reconciliação fazem-se com pessoas imbuídas de boa vontade. Quando não há boa vontade, não se consegue a paz. Infelizmente, este é o problema que reina na FNLA. Cada um quer aparecer, falar e fazer coisas à sua maneira, esquecendo-se que a nossa liberdade começa onde termina a dos outros.

Mas a suspensão do secre-tário-geral, Pedro Mocombe Dala, não belisca o processo de reconciliação?

Pode beliscar! Mas o que fez o irmão Mocombe Dala é pior que a sua suspensão.

O que fez ele?

Para ser franco, não gosto muito de falar dos problemas internos de uma casa em hasta pública; não é ético. Muitos irmãos acham que deve ser assim, mas não é o mais correcto. O problema com a minha mulher deve ser resolvido em casa e não na rua, sobretudo se eu ainda amo esta mulher. Porque, quando nos entendermos, será uma vergonha para nós, porque os vizinhos já saberão dos nossos problemas. Mas como nos obrigam a responder, vamos apresentar apenas alguns factos, para que as pessoas entendam que o que se tem dito por aí não corresponde à verdade.

O quê, por exemplo?

O que têm dito sobre a direcção do partido e mesmo sobre o secretário-geral suspenso. Deixa-me recuar um pouco no tempo. Em 2012/2013, eu e mais alguns irmãos do partido abandonámos a ala de Ngola Kabangu, por tudo o que aconteceu, depois de ele ter sido eleito presidente do partido, no congresso realizado em 2007. Eu já era membro da Comissão Política Permanente (hoje Bureau Político). Na primeira reunião do órgão, pedi ao presidente recém-eleito que chamasse o outro lado (de Lucas Ngonda) para o diálogo com vista à unidade do partido. Achávamos que seria benéfico para todos, pois o ano seguinte seria de eleições (legislativas) e era bom que partíssemos unidos para estarmos mais fortes. Fui batendo na mesma tecla, mas nunca fui ouvido. Nunca o irmão Ngola Kabangu chamou as partes. Fomos às eleições e conseguimos três deputados.

Quando apresentava sugestões, o que dizia Ngola Kabangu?

A resposta era sempre a mes-ma: “vamos ver”! Lembro-me que, na última reunião, levei um “bafo”. No ano se-guinte, o irmão Lucas Ngonda fez entrada de documentos no tribunal, para impugnar o congresso de 2007, porque, na altura, era ele o 1º vice-presidente, com legitimidade para convocar o conclave, já que o presidente Holden Roberto já tinha falecido. Analisados os factos, o tribunal deu razão a Lucas Ngonda e, na sequência, este realiza o congresso de 2010, que o legitimou na liderança do partido. Tentamos aguentar 2010, 2011 e 2012, mas o partido continuava com duas direcções.
Portanto, eu e mais alguns colegas, entre eles Ndonda Nzinga, decidimos abandonar o irmão Ngola Ka-bangu e ir para onde havia a direcção de facto e de iuris e, internamente, tentar sensibilizar o presidente Lucas Ngonda no sentido de unificar o partido.

E foram bem recebidos?

Graças a Deus, sim. Criou-se uma comissão chamada CEHARCIP – Comissão de Entendimento, Harmonização e Coesão Interna do Partido. O irmão Vunge era o coordenador e Ndonda Nzinga o adjunto. Esta comissão fez o trabalho que concluiu com a realização de um fórum, num dos hotéis de Luanda. O facto mais relevante que saiu de lá foi a unificação das duas direcções (de Ngonda e de Kabangu). Os membros do Conselho Político Nacional (da ala de Kabangu) juntaram-se aos membros do Comité Central de Lucas Ngonda e os membros da Comissão Política Permanente aos do Bureau Político. Estes eram candidatos natos ao congresso de 2015.

O que falhou?

Pessoalmente, falei com o irmão Ngola Kabangu, mas ele não queria participar. No congresso de 2015, chegaram a enviar militantes para sabotar o evento, no qual também eram delegados! Onde está a boa vontade? Por causa dos desacatos antes da sessão de abertura do congresso, um militante, comandante na luta de libertação, foi morto. Mesmo assim, Lucas Ngon-da não parou. Ainda no ano passado, voltou a chamar todos os irmãos. O único que não apareceu foi o (Fernando Pedro) Gomes, que (em Ju-nho de 2018) realizou, em Luanda, um congresso que o elegeu e esperava o reconhecimento do Tribunal Constitucional. Chegou a dizer que não iria ter com Lucas Ngonda, porque era ele o presidente. Depois de sair o acórdão do tribunal, que dizia que aquele congresso não tinha respaldo legal, nem jurídico, ele já queria negociar! Isso não é banalizar o partido? Em síntese, Lucas Ngonda, tal como todos nós, tem os seus erros, mas, nesta matéria de tentativa de re-conciliação, não! Podem dizer outra coisa dele, mas isso não!

Mas estávamos a falar de Pedro Dala…

Sim. E é exactamente a partir daqui que o irmão Pedro Mocombe Dala começa a falhar. Fechámos o pacto de unidade, dizendo o seguinte: como queremos fazer as pazes, o secretário-geral saído do congresso de 2015 (Pedro Dala) mantém-se e, assim, na transição, teríamos uma direcção consensual, mantendo o presidente, o secretário-geral e o Comité Central saído do congresso. O cargo de vice-presidente, que se encontrava vago, seria preenchido por alguém das diferentes sensibilidades. Como a sensibilidade Ngola Kabangu já se tinha retirado, o vice-presidente seria al-guém do G6 ou de Carlito Ro-berto. Pediu-se, igualmente, a lista dos irmãos que iriam fazer parte das secretarias (na-
cional e provinciais) e criámos um colégio presidencial, para que o presidente não agisse sozinho. Este colégio seria integrado por dois membros de cada parte. Decidimos não colocar o nome de Carlito Roberto.

Porquê?

Porque nós, sensibilidade Carlito Roberto e mesmo o G6, achamos que ele tem o perfil para ser o vice-presidente. Pedro Dala, não vendo o nome de Carlito Roberto na lista de candidatos ao colégio, sentiu-se ameaçado (pois ele aspirava a vice-presidência) e começou a fazer guerra. Por quatro ocasiões, não conseguimos realizar as reuniões do Comité Central, durante as quais deveria ser ratificado o pacto de unidade.

Por falta de quórum?

Sim. Mas realizámos um inquérito e chegámos à conclusão de que o irmão Dala é quem estava por detrás disso. Na última tentativa de reunir o Comité Central, faltavam apenas quatro membros, para completar o quórum, mas estes não foram ao local da reunião. Oito membros da província da Lunda-Norte ficaram retidos no hotel. Pedro Dala ligou ao comissário provincial eleitoral pelo partido para manter no hotel aqueles membros do Comité Central.

Mas tem como provar isso?

Claro! Temos todas as provas de tudo o que estou a dizer. Os membros do Comité Central pela província da Lunda-Norte foram enganados. Disseram-lhes que a reunião tinha sido adiada. Senhor jornalista, um secretário-geral deve agir nestes moldes? Assim está mesmo a ajudar a direcção do partido ou a boicotá-la? Mas a razão da sua suspensão não é só esta. Os membros do Comité Central acusaram-no de muita coisa.

Como o desvio de fundos do partido e nepotismo?

Sim e todas as acusações com provas. Ele trabalhou com membros do Secretariado do Bureau Político que sequer são membros do Comité Central. Por exemplo, o Jerónimo Makana (até bem pouco tempo secretário para a Informação do partido), os Zorci e tantos outros não são membros do Comité Central, mas os colocou como membros do Secretariado do Bu-reau Político.

Mas Jerónimo Makana garantiu que, para se ser membro do secretariado, não era preciso ser, necessariamente, do Bureau Político!


Isto é falso! Muito falso! Onde está escrito isso? O Secretariado do Bureau Político é constituído pelos secretários nacionais. Por analogia, acha ser possível ver, por exemplo, um membro do Bureau Político do MPLA que não seja do Comité Central? Como explicar isso? Não tem cabimento, nem explicação! Os estatutos estão aí para serem consultados. O próprio Makana, que até bem pouco tempo foi secretário para a Informação, nem sei onde militou!

Ele garante que ascendeu a partir da JFNLA.

Eu fui o secretário nacional para a Organização de Massas da FNLA (que acompanha os braços feminino e juvenil do partido) e não o conheci lá. Nunca o vi, nem ouvi o nome Kuladissa Jerónimo Makana. Insisto … nunca o vi antes numa actividade.

Mas admite que, com a suspensão de Pedro Dala, é provável que surja mais uma ala na FNLA?


Não gosto muito de falar de alas. Deixe-me, antes, acrescentar algo sobre Pedro Dala. Mesmo tendo sido suspenso, criou um grupo, cujos integrantes se auto-intitulam membros do Bureau Político. Que pouca vergonha!

É este grupo que, supostamente, pretendia destituir o presidente Lucas Ngonda?


Evidentemente! Também temos provas disso. Ele inventa coisas, dizendo que o presidente atropela os estatutos, mas quem mais atropelou foi ele. Quem mais criou divisão no seio do partido foi ele. Por isso, a esmagadora maioria dos membros do Comité Central não o queria no cargo. Curiosamente, quem sempre o defendeu foi Lucas Ngonda. Hoje, como foi desmascarado, Lucas Ngonda é o seu pior inimigo. Se o presidente não o tivesse defendido, nem dois anos ele faria no cargo. O Comité Central sempre quis destituí-lo, mas o presidente sempre evitou que se fizesse isso, para não abrir um precedente. Mas motivos sempre houve. Só para ter uma ideia da sua rebeldia, mesmo depois de ter sido suspenso, até hoje continua a receber as quotas dos comissários eleitorais do partido. O dinheiro que deveria entrar nos cofres do partido entra na conta pessoal.

E por que não criam uma conta do partido?

Isso é para ver como as coisas funcionavam! Ele era o gestor, mas colocava o dinheiro na sua conta. É por isso, também, que os membros do Comité Central o atacavam. Os próprios comissários eleitorais é que deram conta que, afinal, depositavam o di-nheiro na conta de Pedro Mocombe Dala e não na do partido. Notando isso, enviaram os borderaux aos membros do Comité Central, como prova. Quando deu conta de que os depositantes o tinham descoberto, orientou que as contribuições fossem depositadas na conta do seu director de gabinete. Quando foi, igualmente, descoberto, a orientação foi no sentido de as contribuições serem depositadas na conta do comissário do partido na CNE. Este, por sua vez, entrega o dinheiro nas mãos do secretário-geral suspenso.

Qual é o valor arrecadado mensalmente?

São milhões de kwanzas, mas não sei quantificá-los com exactidão. Seja como for, o assunto já está sob a alçada da PGR.

Mas quanto é que um comissário eleitoral da FNLA contribui mensalmente para o partido?


Também desconheço. Nem conheço os seus salários. Mas sei que os comissários eleitorais municipais contribuem com 20 por cento do salário. De resto, penso que é uma prática em todos os partidos. Acredito que os deputados e membros da CNE contribuem com determinado valor para os respectivos partidos.

E quanto é que o partido recebe de subsídios do Estado?

Infelizmente também desconheço. Não gosto muito da área dos números, sou homem das letras.

Neste andar de coisas, concorda que, se as eleições gerais fossem agora, a FNLA corria o risco de extinção?

A resposta a esta pergunta é semelhante à que dei à sua primeira questão. Por isso mesmo, aceitamos o desafio de contribuir para que o partido saia desta situação e evite o risco de ser extinto. Queremos unir todas as sensibilidades para que partamos para as próximas eleições reconciliados.

Acha que vão a tempo? É que faltam menos de dois anos para as eleições!

Desde que haja boa vontade, podemos chegar lá num estalar de dedos. Mas, para tal, é preciso que metamos de parte as nossas ambições pessoais.

Carlito Roberto aceitou, com normalidade, a sua integração nesta direcção?

Sim. Contactei a direcção da sensibilidade, da qual, aliás, faço parte. Nós, sensibilidade Carlito Roberto, achamos que devemos salvar o partido e, para tal, estar dentro da direcção (de Lucas Ngonda) para chamarmos todas as partes à mesa de negociações. Muita gente pensa que estamos aqui apenas para defender esta direcção, mas não. Estamos aqui para de-fender o partido que vive uma profunda crise há mais de 20 anos.

Teria a coragem de contrariar o presidente do partido, num ou noutro aspecto?

Já tenho feito isso. Para sua informação, ele é meu padrinho de casamento, mas não misturo as coisas. Nós apresentamos as nossas teses com sustentação e não como os outros, que dizem que “o Lucas Ngonda é bandido, por isso deve sair”. Continuo a defender que, sendo ele o presidente do partido, ainda que seja parte dos problemas, também é a solução. Não pode haver uma solução do problema da FNLA sem Lucas Ngonda. Isso seria impossível.

Disse-me, no dia anterior à entrevista, que apoiaria uma eventual candidatura de Carlito Roberto à liderança da FNLA. Fá-lo-ia por ser filho do fundador do partido ou porque acha que reúne consenso?

Em primeiro lugar, apoiaria porque faço parte da sua sensibilidade (ala). Além disso, ao fazer uma leitura de todos os militantes, vejo em Carlito Roberto a pessoa que reúne maior consenso. É, entre os eventuais candidatos, quem menos falhas tem, nunca desviou 1 Kwanza do partido e nunca teve problemas com um grupo de militantes. É uma pessoa com um leque de conhecimentos, tanto políticos, como académicos, e já foi deputado à Assembleia Nacional. Acho que, eleito presidente, terá a capacidade de congregar tudo e todos.

O que lhe diz o nome Tristão Ernesto?

É um irmão que, se está em desavença com o presidente, também é por causa do se-cretário-geral suspenso. O núcleo do Comité Central que investiga casos do irmão Pedro Dala é liderado por ele. Neste momento que falamos, este grupo está a ser ouvido pelo presidente.

Este grupo é integrado por Ndonda Nzinga?

Sim. Mas Ndonda Nzinga também já esteve com o (Fernando Pedro) Gomes.

E como abandonou Pedro Gomes?

Não gosto de dizer certas coisas à imprensa. Mas Ndonda Nzinga dissociou-se do Gomes e agora está apenas com Tristão Ernesto. São eles que apresentaram as provas contra Pedro Dala à PGR.

Podemos concluir que Ndonda Nzinga e Tristão Ernesto estão mais próximos de integrar a direcção de Lucas Ngonda?

Em rigor, não diria que “estão próximos de integrar”. Sendo membros do Comité Central, eles são membros da direcção. É verdade que estiveram, durante algum tempo, de costas viradas com o presidente, porque este defendia, a ferro e fogo, o seu secretário-geral. Apesar das provas que apresentavam, o irmão presidente o defendia. Como o secretário-geral foi suspenso, eles sentiram-se mais à vontade e, por isso, pediram um encontro com o presidente. Neste momento, estão reunidos. Mais vale tarde do que nunca!

O que falta para a verdadeira reunificação da FNLA?

O egocentrismo tem sido o grande inimigo do partido…

Por causa do dinheiro?

Como disse, não gosto de falar de dinheiro. Se há ou não dinheiro, acho que se deve consegui-lo com esforço e sem violar as normas. Se trabalharmos para termos êxito nas próximas eleições e aumentarmos o número de deputados, também mais dinheiro o partido vai receber do Estado. Sem trabalho não haverá nada.


“Pedro Dala foi bem suspenso”

Que mensagem quer deixar aos militantes do partido?

Quero aqui reafirmar que o irmão Pedro Mocombe Dala está suspenso e, quanto a nós, foi bem suspenso. Quando o presidente não tem confiança no secretário-geral, há lugar ao divórcio. É assim em toda a parte…

Mas a suspensão do secretário-geral pelo presidente do partido está prevista nos estatutos?

Não de forma taxativa, mas os estatutos dizem que é durante a primeira reunião do Comité Central, após o congresso, que é eleito o secretário-geral e não no congresso, como dizem eles. É o Comité Central que o elege.

Sob proposta do presidente?

Exactamente! Porque o secretário-geral tem de ser alguém da confiança do presidente. É uma espécie de primeiro-ministro nos governos. Mas o secretário-geral fez do Secretariado do Bureau Político o seu comité de acção e o presidente, sendo o garante da coesão e unidade do partido, como referem os estatutos, teve de tomar as providências necessárias para evitar o pior. Quanto a nós, ele esteve bem, não cometeu irregularidade.

 

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