O jornalista da TPA (Televisão Pública de Angola) no Uíge, Cândido Kalombe, é o novo Delegado da TPA no Zaire, nomeado por Despacho do Presidente do Conselho de Administração daquela empresa pública de comunicação social, exarado a 18 de Agosto do corrente ano, em substituição de José Augusto, que esteve apenas um ano no cargo.
A nomeação de Cândido Kalombe está a ser vista em meios académicos ligados ao jornalismo como sendo o reconhecimento do seu desempenho profissional nos últimos anos enquanto repórter da TPA no Uíje, de onde fazia reportagens profissionalmente bem conseguidas, em que se notava o rigor, a criatividade na escolha dos temas e a competência na escrita e na fala, assim como o seu desapego às agendas oficiais como habitualmente acontece na imprensa pública, tornando-se num dos mais competentes jovens repórteres da Televisão estatal angolana.
Por exemplo, a 31 de Dezembro transacto, em vésperas da transição de ano, a TPA passou várias peças que mostravam como as pessoas estavam preparadas para passagem de ano tanto em Luanda como noutras províncias. Como sempre, a generalidade das peças jornalísticas mostrou a forma mais citadina e europeizada de se viver a transição de ano. Mas Cândido Kalombe usando da criatividade que lhe é característica, foi a uma aldeia, à distância de dezenas de quilómetros da cidade capital da província do Uíje, ao encontro de uma família camponesa, que foi o centro da sua reportagem. Não foi para mostrar pobreza, mas sim, a forma humilde e alegre de viver a vida longe dos meios urbanos, o que ficou claro no semblante daquela família rural que tinha de tudo um pouco na mesa, fruto do seu próprio suor que verte num solo que dá de tudo um pouco a quem brava a terra com empenho e dedicação.
Prova do seu valor jornalístico, a referida reportagem foi a manchete do Telejornal da TPA desse dia, apresentado pelo veterano Ernesto Elias Bartolomeu, com a qual fechou o serviço central de notícias da televisão estatal. Tal como já nos referimos, este é apenas um exemplo de vários trabalhos feitos por Cândido Kalombe, que fizeram com que o Uíje tivesse uma atenção não especial, mas diferente do ponto de vista informativo, tudo por mérito não só do Kalombe, mas sobretudo da sua equipa naquela província.
Professor de formação, Cândido Kalombe passou por várias peripécias na vida, que fazem dele um verdadeiro vencedor e um exemplo de superação para muitos que como ele no passado, hoje lutam para transformar os obstáculos impostos pela vida, numa história de sucesso. De vendedor ambulante de sacos de plástico nos mercados dos Kwanzas, Asa Branca e Roque Santeiro, a lavadores de viaturas e lotador de táxi na rota Kikolo São Paulo, teve sempre a mãe e os irmãos como seus pilares, uma vez que ficou órfão de pai quando o hoje jornalista era ainda um menino de pouco menos de 10 anos.
Nascido há 35 anos na comuna do Coxi, município do Kibaxi, província do Bengo, mas com as origens ancestrais do Uije, Cândido Kalombe é formado em Direito pela Universidade Kimpa Vita (UNIKIVI), e teve uma educação de matriz tradicional e com a qual se identifica.
A sua “aventura” no jornalismo começou em 2005 na Emissora Católica de Angola (Rádio Ecclésia), onde foi colaborador do programa Luanda Escolar, coordenado pelo Jornalista Walter Cristóvão, que Kalombe considera orgulhosamente seu “pai profissional,” por este, ter-lhe dado as bases que o lançaram no mercado jornalístico angolano.
Da Ecclésia para a Rádio Despertar, Cândido Kalombe é admitido logo no primeiro teste em 2006, ano da abertura daquela estação radiofónica, onde partilhou microfone com António Manuel “Jojó,” Alexandre Diniz, Moisés Sachipangue, José Kuny, Elias Xavier Fernandes, entre outros jovens jornalistas que hoje dão o seu melhor em diversos órgãos de comunicação social em Luanda.
Na Rádio Despertar, Cândido Kalombe destacou-se em vários momentos, nomeadamente, na cobertura dos casos “Miala e Pares” e “Quina da Silva,” cuja figura central era o antigo e agora reconduzido Chefe dos Serviços de Inteligência do Estado, General Fernando Garcia Miala. Com informações nalgumas vezes exclusivas, Cândido Kalombe pontualizava o auditório da Rádio Despertar sobre os meandros do julgamento à leitura da sentença que condenou o General Miala na pena de 4 anos de prisão efectiva. Kalombe reaparece na cobertura do mesmo caso, mas com a reportagem em directo da cadeia, sobre a soltura do General Miala, depois de ter já cumprido metade da pena que lhe havia sido sentenciada pelo Supremo Tribunal Militar.
Na Despertar, o jornalista notabilizou-se também na arquitectura e condução do programa “O Mundo em 7 Dias,” cujo convidado residente era o actual deputado e jornalista Makuta Nkondo. Dispensa-se qualquer estudo ou sondagem para que se possa afirmar que no horário das 13 às 15 horas aos domingos, a Despertar era a Rádio mais ouvida da capital do país e arredores, por conta da forma nua e crua como o emblemático e polémico deputado Makuta Nkondo lançava críticas ao regime, cujo alvo principal era o seu líder, José Eduardo dos Santos, num período em que o exercício da liberdade de expressão e de imprensa em Angola, se encontrava num profundo estado de coma.
Entretanto, em 2009, por recusar cumprir alegadas “ordens superiores,” tidas por si como um acto de censura, Cândido Kalombe entra em conflito com um alto dirigente da JURA, organização juvenil da UNITA, partido a que pertence a Rádio Despertar. A situação motivou a Direcção daquela estação emissora a abrir um inquérito de que resultaria, sem estranheza, num desfecho desfavorável a Cândido Kalombe, tendo sido despedido de seguida.
Depois de uma travessia no deserto, Cândido Kalombe recebe um convite para trabalhar na Delegação da TPA no Uíge, onde fez sentir novamente a sua veia jornalística, tendo por conta disso, assumido o cargo de Chefe de Conteúdos até à sua recente nomeação para as funções de Delegado da TPA no Zaire.