Salas Neto: BINGO! BINGO! BINGO!

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Eu próprio já começo a desconfiar de que terei algum tipo de feitiço, por ser quase extraterrestre a elevadíssima percentagem de acerto que alcanço, quando me proponho a fazer previsões na nossa grande política.


Em 2018, quando o país parecia refém do cumprimento duma promessa que José Eduardo dos Santos fizera, em como haveria de abandonar a vida política nesse ano, acabei por fazer miséria no «totobola». Ele já não era o Chefe de Estado, mas nunca mais largava a liderança do MPLA, o que lhe permitia controlar o seu sucessor na Presidência da República, enquanto este não via a hora de segurar também o leme do partido, sem o qual não se consumava a tomada do poder real por João Lourenço. Quando JES haveria efectivamente de sair de cena era a grande incógnita, numa altura em que se multiplicavam os receios de que o «clarividente» pudesse vir a dar o dito por não dito, tal como já o fizera em outras ocasiões.

A sua máquina dizia que esses medos eram infundados, até porque 2018 só terminava a 31 de Dezembro, pelo que, estando-se mais ou menos a meio do ano, nada havia de anormal. É por essa altura que correm rumores de que a retirada do velho Naná seria efectivada durante um congresso extraordinário do MPLA, provavelmente em Maio de 2019, desesperando-se assim mais ainda quem já o queria ver pelas costas há séculos, contra os que panicavam com a perspectiva do fim da generosa umbrela eduardista.


Ora, é num quadro assim, em que quase mais ninguém acreditava que José Eduardo dos Santos iria abandonar o activo ainda em 2018, que eu, contrariando tudo e todos, faço uma aposta «suicida»: garanto que, ao contrário do que todo o mundo está a contar, ele sairá de cena muito antes de Dezembro. Dito e feito: poucos dias depois deste meu arriscado vaticínio, o MPLA anunciava um congresso extraordinário para Agosto, durante o qual João Lourenço se tornaria no novo «camarada presidente» do partido no poder.

É escusado dizer que fui o único «analista político» no mundo inteiro que acertou, entre as diferentes previsões que se fizeram a propósito, modéstia à parte. E, pelos últimos desenvolvimentos da nossa grande política, pareço estar à beira de um outro acerto extraordinário. Não havia ainda covid nenhuma, sequer se podia imaginar numa coisa dessas, aliás, quando já dizia que não acreditava coisa nenhuma que teríamos eleições autárquicas em 2020, tal como João Lourenço havia prometido (a malta da situação agora prefere dizer «indicado»), creio que ainda na qualidade de candidato apenas, salvo o erro, outra vez decididamente contra a corrente geral.

O MPLA vai se contradizendo, mas já está praticamente assente que o pleito para o futuro novo poder local não mais acontecerá este ano. O partido incumbente arranjou o novo coronavírus como desculpa, mas a oposição diz que isso é truque, dando como exemplo Cabo-Verde, que, a despeito da pandemia e apesar de ser um país muito mais pobre, vai realizá-las pela oitava vez em Outubro. Para os opositores, não há é vontade política. Nada mais lógico, já que, pelo estado escangalhado em que o país se encontra, só se estivesse predisposto a se suicidar é que o MPLA se arriscaria a ir a votos. Por isso, vai certamente manobrar o máximo que puder, pelo que, mesmo em 2021 podem não sair também, caso a situação social e económica não melhore, até porque a covid-19 é capaz de estar aí para durar mais um bom tempinho.


Sempre defendi o adiamento das eleições autárquicas, mas, diferentemente dos interesses do MPLA, pelas seguintes razões: a institucionalização das autarquias locais, num país com o figurino constitucional como o nosso, em que o poder executivo real é controlado e exercido por uma única pessoa, não passará duma verdadeira brincadeira. Por isso, continuo a sustentar que a prioridade da nossa grande política deve estar concentrada na revisão da constituição atípica de 2010. E depois, já com uma lei magna mais civilizada, podíamos então partir para eleições verdadeiramente gerais em 2022 – presidenciais (com candidatos independentes incluídos), legislativas, provinciais e municipais.

Defendo também o regresso da figura de primeiro-ministro, agora com mais poder executivo, no lugar do vice-presidente turista ou vadio que a actual constituição consagra.

(in Facebook)

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