Isabel Correia, mãe do activista angolano Osvaldo Caholo, criticou duramente as autoridades pela detenção que considera arbitrária do seu filho. Em declarações exclusivas ao jornal O Decreto, a cidadã de 69 anos apelou directamente ao Presidente João Lourenço e às instituições de justiça para que libertem Caholo, lembrando que “falar não é crime”.
“Ele defende o povo angolano, o bem-estar das pessoas, e por isso foi preso”, afirmou Isabel Correia, sublinhando que a liberdade de expressão deve ser respeitada no país.
Segundo a mãe do activista, esta é a segunda vez que Caholo enfrenta a prisão. A primeira ocorreu no processo dos 17 activistas, quando um grupo de jovens foi detido por se reunir para discutir o livro Da Ditadura à Democracia, de Gene Sharp, sobre métodos pacíficos de resistência.
Restrições nas visitas e denúncias de maus-tratos
Isabel Correia relatou ainda restrições abusivas durante as visitas ao filho, que chegou a permanecer um mês numa cela sem direito a banho de sol. “Às vezes só nos deixam falar cinco ou dez minutos”, disse.
Questionada sobre as acusações que recaem sobre Caholo, a mãe afirmou que apenas foi informada de crimes de “apologia e incitação às manifestações”, mas sem explicações claras. “Não sabemos o que ele fez, se matou alguém, algum dirigente… não sabemos”, desabafou.
Críticas à governação e apelo às mães
A entrevistada acusou as autoridades de agir sob “ordens superiores” e denunciou a falta de clareza sobre quem determinou a detenção. Na sua visão, Osvaldo Caholo “é pai de família, trabalhador, que nunca roubou ninguém e apenas defende causas sociais”.
Em tom de apelo, Isabel Correia dirigiu-se às outras mães angolanas: “Vamos nos juntar e lutar contra este partido que nos faz sofrer. Chega de 50 anos de escravatura”.
Sobre a governação de João Lourenço, não poupou críticas: “Má, péssima. Há pessoas a morrerem de fome. Crianças passam nos contentores”, acusou, pedindo ao Chefe de Estado para “mudar a governação” e libertar o filho.
Osvaldo Caholo foi detido novamente em 2025 por suposta incitação a manifestações. A defesa já tentou alterar a medida para prisão domiciliar, mas, segundo a mãe, o processo enfrenta bloqueios e falta de transparência.
“Ele nunca roubou, nunca foi bajulador. Apenas fala pelo povo”, concluiu Isabel Correia, visivelmente emocionada.