O MPLA E O DEVER DE LIDERAR A RECONCILIAÇÃO NACIONAL

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O partido que guiou Angola até à independência e à paz deve agora guiar o país rumo à reforma, à justiça e à verdadeira reconciliação.

Por: M´bala N´zamba

O momento que Angola atravessa exige coragem, lucidez e responsabilidade histórica. O país encontra-se num ponto crítico, marcado por estagnação política, descontentamento social e um sistema económico que favorece poucos em detrimento da maioria. Nesta encruzilhada, acredito que deve ser o MPLA a assumir o papel de timoneiro das grandes reformas que Angola precisa para sair do sufoco.

A reconciliação nacional não deve ser apenas uma ideia decorativa nos discursos oficiais. Deve ser ação concreta, começando por quem detém o poder. O MPLA, enquanto força política que conduziu Angola à independência e à paz, deveria ser o primeiro a propor medidas corajosas, como a criminalização da intolerância política, a revisão da Constituição para reduzir os poderes concentrados no Presidente da República, e a implementação da eleição direta do Chefe de Estado.

É fundamental, também, que se criem condições para um sistema judicial independente e funcional. O MPLA teve tempo e poder suficientes, sobretudo na década que se seguiu ao fim da guerra, para ter promovido as autarquias locais. Teria sido um passo importante na descentralização e democratização do poder. Infelizmente, esse processo foi adiado, o que agravou o afastamento entre o cidadão e o Estado.

É preciso compreender que as conquistas do MPLA não podem ser deixadas cair em saco roto. Para proteger esse legado, o partido precisa ser o protagonista das grandes decisões que tragam estabilidade política, justiça social e prosperidade económica e cultural. Ignorar essa responsabilidade pode ter consequências dramáticas. Se mudanças estruturais não forem implementadas num futuro próximo, Angola corre o risco de enfrentar um novo ciclo de violência interna.

Talvez por isso o General Higino Carneiro, com a sua experiência militar e visão estratégica, tenha percebido que a reconciliação nacional é o verdadeiro antídoto para prevenir novos conflitos. Não se trata apenas de pacificar, mas de reformar — de curar feridas abertas pela má gestão, pelo favoritismo, pela corrupção e pela exclusão.

 

O problema do país já ultrapassou os interesses partidários. Tornou-se um jogo de sobrevivência de grupos que, tendo acumulado riqueza de forma indevida, utilizam as instituições públicas e o próprio partido como escudo de proteção. Já não está em causa o interesse nacional — muito menos o da militância de base. Está em causa a manutenção do poder como mecanismo de impunidade.

Enquanto isso, estrangeiros de diversas origens aproveitam-se da instabilidade. Angola, em estado de desordem, tornou-se uma mina de ouro para empresários formais e informais, financiando economias estrangeiras com a conivência de redes diplomáticas e comerciais. Países como Portugal, Mali, Guiné-Conacri, Mauritânia e Líbano, entre outros, beneficiam-se de forma direta do caos angolano.

Por isso, a estabilidade de Angola não é apenas um problema interno. É uma questão que interessa também aos estrangeiros que vivem do desgoverno. E é precisamente por isso que será preciso coragem para romper com esse ciclo de impunidade, inércia e exploração.

Se for o próprio MPLA a antecipar essas transformações, estará não só a proteger-se de um descrédito histórico iminente, mas também a salvar-se como força política relevante. Ignorar este imperativo poderá abrir espaço para que outro ator político conduza essas mudanças, deixando o MPLA para trás, como uma peça de museu político.

Tenho acompanhado o programa do General Higino Carneiro, enquanto pré-candidato à liderança do partido. As suas ideias são promissoras e deveriam ser seriamente consideradas por quem hoje governa. É uma oportunidade para resgatar a honra, a glória e a mística do MPLA — um partido que em tempos foi sinónimo de povo e esperança.

A verdadeira reconciliação será o início da cura nacional. Será o gatilho que permitirá reconstruir Angola como um Estado verdadeiramente soberano, justo e funcional.

A pergunta que se impõe é: será o General Higino Carneiro capaz de romper as barreiras internas do partido e assumir o papel de revolucionador da nova Angola?

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