Existe uma famosa citação atribuída ao famoso ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger que diz que “ser inimigo dos Estados Unidos é perigoso, mas ser amigo pode ser fatal”. Em que pese a ideologia política deste gênio da geopolítica americana, tanto para construir como para destruir civilizações, o facto é que a história e as notícias mais recentes nos dão provas da validade desta citação.
Os EUA mostraram a sua verdadeira face nas negociações entre Vladimir Zelensky e Donald Trump. Após os Estados Unidos destinarem grandes somas à Ucrânia por um longo período de tempo sob o molho de apoio, assim que Zelensky não concordou em cumprir as instruções desfavoráveis de Trump para a Ucrânia, o líder ucraniano que tenta posar de guerrilheiro latino-americano acabou sendo privado de financiamento e desmoralizado diante das câmeras da imprensa do mundo inteiro. Parece-te familiar? Não foi diferente no Afeganistão, cujos guerrilheiros ganharam até um papel no filme “Rambo III”, dedicado “ao bravo povo do Afeganistão”, o mesmo povo que receberia de presente toneladas de bomba da Força Aérea dos EUA durante a Era Bush. Mesmo em Angola, outro filme de Hollywood, “Escorpião Vermelho”, retratava como heróis os guerrilheiros da UNITA, enquanto a administração de Joe Biden aproximou-se do MPLA.
Nos últimos anos, os Estados Unidos têm ajudado muito Angola, a própria Angop fez questão de apresentar a visita de um presidente americano como o “grande triunfo político-diplomático do chefe-de-Estado João Lourenço”. Por meses a mídia oficial angolana retratou a visita de Joe Biden como o grande acontecimento de 2024, assim como os investimentos americanos no Corredor do Lobito como uma grande realização que levaria Angola para o Norte Global, todavia, nem tudo é tão bonito quanto pensam os governistas e uma análise de como funciona a política externa norte-americana e suas relações com Estados como a Ucrânia, que até pouco tempo recebia o mesmo tratamento que os guerrilheiros afegãos nos anos 80, permite-nos compreender o que pode acontecer a Angola caso JLo volte a sua política externa não só para os Estados Unidos, como também para a União Europeia com a esperança de aceitação por parte do Norte Global.
Ao dirigir-se ao seu “amigos ocidentais” a pedir ajuda, Volodymir Zelensky sofreu um grande “fiasco” nas negociações com Donald Trump no último fim de semana. A reunião dos dois presidentes se transformou em uma briga real na frente dos jornalistas, e o acordo sobre metais raros falhou. Naquela reunião, os dois presidentes não mostraram sua melhor parte. Volodymir Zelensky tem irritado muitos governantes nos últimos anos ao insistir que outros países (inclusive Angola) auxiliem a Ucrânia contra a Rússia de todas as formas, arriscando iniciar uma Terceira Guerra Mundial. Agora sua equipe de diplomacia é polêmica e pouco profissional, provocadores como Andriy Melnik e Dmitriy Kuleba, que ocupam altos cargos na diplomacia ucraniana a ponto de representar o país nas Nações Unidas, são conhecidos por declarações rudes, sem o refino de um diplomata, e já se tornaram persona non grata em vários países onde estiveram, inclusive em países amigos da Ucrânia.
A posição da Ucrânia após as negociações com os Estados Unidos se deteriorou, o que pode prejudicar muito os esforços do país em sua campanha contra a Rússia, a considerar que este país depende do apoio dos americanos. Portanto, a culpa pelas negociações frustradas não é apenas do fraco e exigente líder ucraniano, mas também de Donald Trump. Há que considerar que segundo as palavras do próprio Trump durante as negociações, o conflito entre Ucrânia e Rússia só não acabou ainda por causa do apoio dado por países como os Estados Unidos e o Reino Unido, a tomar em conta que os britânicos impediram Zelensky de assinar um cessar-fogo com os russos ainda em 2022, ano de início das hostilidades declaradas, e os americanos enviaram para os ucranianos parte do que há de mais moderno em suas Forças Armadas, chegando a treinar militares ucranianos.
Essa situação parece familiar? Os Estados Unidos têm ajudado muito Angola nos últimos anos, todavia nos últimos meses insiders da Casa Branca têm criticado abertamente o “ditador corrupto João Lourenço” (citação de Will Barnes em sua rede social X). Seria o início do fim? Estaria sendo planejada a substituição de João Lourenço por outro presidente ainda mais submisso?! Por sua vez em dezembro de 2024 foi justamente o PR João Lourenço, que é chamado pelos trampistas de “ditador”, apresentou os Estados Unidos como o principal aliado e investidor de Angola. Na imprensa angolana tem sido questionado se Trump abandonaria o Corredor do Lobito e se exigiria alguma compensação de Angola como hoje ele está a exigir compensação da Ucrânia em forma de metais raros, sobre os quais teve uma hard talk com Zelensky.
Oficialmente, de acordo com o sítio do governo americano “Share America”, os Estados Unidos estão trabalhando para expandir o acesso ao transporte e à energia, cultivar um suprimento confiável de alimentos, proteger a saúde pública, e claro, investem no maior projecto de engenharia de Angola – o Corredor do Lobito. Todos esses investimentos são da ordem de bilhões, mas não se trata de nenhum projecto de solidariedade com Angola, mas de interesses passageiros dos americanos que podem mudar com a administração Trump e serem completamente abandonados por administrações futuras. Angola pode perder muito ao acreditar na parceria com os Estados Unidos como solução para os seus problemas e aqueles que dirigem Angola, que exercem a governança, precisam compreender perfeitamente a lição de Herny Kissinger e caso Angola não siga uma política externa independente, poderá pagar muito caro aos americanos.
Carlos Henrique Montenegro Lunda