Uíge mostra avanços nos desafios de revitalização da produção do café

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O director-geral do Instituto Nacional do Café em Angola (INCA), Vasco Gonçalves Joaquim António, defendeu na cidade do Uíge a necessidade da adopção da via vegetativa de forma a impulsionar e garantir uma rápida recuperação dos níveis de produção e produtividade do café em Angola, que considerou estarem actualmente muito baixos.

Segundo Vasco Gonçalves, este método vegetativo permite o alcance, em pouco tempo, de grandes quantidades de produção do café. “Se avançarmos para o sistema vegetativo (clonagem) das melhores plantas, os níveis de recuperação da produção, deste grão, serão muito rápidos e maiores”.

Para o director geral, devem ser encontradas as melhores plantas de café, que permitam que em espaços muito reduzidos se possam colher grandes quantidades deste produto, como se faz no Brasil e Vietname, países que ocupam lugares cimeiros neste ramo da economia.

Migração progressiva

A migração progressiva da produção de mudas por via generativa para a vegetativa passaria pela selecção de plantas matrizes com alto potencial genético para a multiplicação generativa e vegetativa de mudas de café, que disse terem já identificado em alguns municípios da província do Uíge, onde trabalhou como chefe de departamento durante 12 anos, findos em princípios deste ano.

Vasco António disse ter encontrado nos municípios do Uíge e Mukaba as melhores espécies que produzem até cerca de dois quilogramas em uma única planta de café, sugerindo ser essa a via pelo qual se pode começar para o mais rapidamente possível reverter a actual baixa produtividade dos produtores.

“Se nós conseguirmos aumentar a produção, para além da aplicação das novas tecnologias, o aumento das áreas e também a opção pela multiplicação vegetativa, então teremos esperança de nos aproximarmos muito cedo aos níveis altos da produção do café que o país alcançou em princípios do anos 70”.

Aposta na investigação

O gestor aludiu que tais propósitos somente deverão ser alcançados se se fizer uma aposta séria na investigação, não somente em torno do INCA, mas também nas academias. A redução do espaçamento no plantio do café é uma das recomendações do Engenheiro Vasco Gonçalves, que já desempenhou as funções de chefe de departamento do café nas províncias do Cuanzas-Sul, Cuanza-Norte e Uíge.

Para o director geral do INCA, a produção de mudas em grande escala e distribuição aos cafeicultores, a expansão da cultura para outras áreas geográficas devem ser continuamente estimuladas de forma a fortalecer a actividade dos fazendeiros.

Espaçamento recomendável

Para ele, a densidade de plantação tecnicamente recomendável é de cerca de 2.500 a 3000 plantas por hectare, “mas as nossas fazendas têm menos de mil plantas, o que é muito reduzido”.

Referiu que a produção actual do café na província do Uíge atinge a cifra de apenas 170 toneladas de café comercial. “É uma produção muito baixa para quem já produziu 80 mil toneladas comerciais na época colonial. Isso nem se quer representa 10%”.

Adiantou ainda que ultimamente a produtividade tem sido de 375 quilogramas por hectar, em média, que é igualmente muito baixo. De acordo com os dados com os quais comparou, o Brasil atinge quase 2.400 quilogramas de café em um único hectare, assim como o Vietname.


Província controla 11 comerciantes formais

A província do Uíge controla 11 comerciantes formais e mais ou menos duas centenas de comerciantes informais, que compram o café, torram de forma artesanal e vendem o produto em pó.

Temos a nível do Uíge quatro descasques que se dedicam na preparação do produto nos municípios do Uíge, Negage e de Mukaba. Tem ainda dois torrefadores no Uíge e uma em Negage, que funcionam de uma forma irregular, conforme disse o especialista. Deu a conhecer que existe na circunscrição quase  5.000 produtores que exploram actualmente o café, dos 9.480 registados pelo INCA. Estes exploram fazendas que perfazem um conjunto de aproximadamente 20.000/ha.

Geralmente em Angola, a cultura do café é praticada em sombra, tendo um esparsamente consorciado com palmeiras, fruteiras, bananeiras, maracujá, safú, abacateiros e outras plantas, fazendo com que esta cultura mantenha o meio ambiente, ao não devastar tanto as florestas, ao contrário de outros países como o Brasil onde há apenas plantações de café, sem outros produtos entre os espaços.

No Uíge, disse, “onde há café, há  a conservação da flora e fauna, daí a inegável importância  social e ambiental deste produto para a sociedade e para a economia da província”.

A capina e a poda que devem ser feitas com regularidade, de uma forma geral, são os únicos cuidados que se dedicam à cultura do café, que a população do Uíge bem domina, disse, acrescentando isso facilitaria a produção em grande escala se não fosse os condicionalismos já indicados. A tradição na cultura por parte dos povos desta província ajudaria na atracção de investidores neste ramo, estabelecendo parceria com estes. A importância do café no Uíge vai para além do lado meramente comercial, sendo também cultural e ainda a principal commodity de exportação, apesar das dificuldades actuais.


Exploração nas fazendas

Cultura do café nos programas sociais


Vasco Gonçalves sustenta ainda a necessidade da inserção da cultura do café nos programas ou projectos do PDAC, SREP, SAMAP e PRODESI, bem como nos diferentes programas sociais como o combate à pobreza, nos municípios. A exploração das fazendas cafeícolas tem estado a proporcionar a criação de empregos directos geralmente ligados à produção, transporte, comercialização, benefício, torra, moagem e venda de café para o consumo, entre outras possibilidades.

Vasco Gonçalves indicou ainda haver a facilidade da criação de empregos indirectos que se pode ver na indústria de produção de sacos de polietileno, sacos de ráfia e de juta.

Segundo estimou, mais de 50.000 cidadãos vivam directa ou indirectamente da exploração cafeícola na província do Uíge.

De acordo com o director-geral do INCA, o número elevado de fazendas paralisadas, o baixo índice de aproveitamento de terras com café, o envelhecimento generalizado das plantações e dos proprietários das explorações cafeícola, os custos de produção elevados, constam entre os factores que limitam a cultura do café.

Juntou ainda as dificuldades, o acesso ao crédito, o mau estado das vias secundárias e terciárias, a deficiente assistência técnica, por insuficiência de técnicos agrícolas, a inexistência de terreiros adequados para a secagem do café, que condicionam a qualidade de café produzido, e a insuficiência de mudas para a substituição gradual das plantações envelhecidas.

O agrónomo ligado à produção do café há mais de 20 anos referiu que a presente situação torna a cultura pouco atractiva para muitos camponeses.


Café arábica e robusta

Produção mundial contabiliza 10 milhões de toneladas em 2021

Segundo estimativas, o mundo produziu, na campanha de 2021, dez milhões de toneladas de café, entre os quais seis milhões de toneladas de café arábica e 4,18 milhões de café robusta.

“Produziu-se mais de 10 milhões de toneladas por ano sendo, 6,0 milhões de toneladas de café arábica que corresponde a 101 milhões de sacas de 60 kg/ano, 4,18 milhões de toneladas de café robusta, que equivale a cerca de 70 milhões de sacas de 60 kg/ano, movimentando mais de 170 mil  milhões de USD”. A produção do café emprega  cerca de 500 milhões de pessoas, em todo o mundo.

Vasco Gonçalves considerou o café como sendo um dos mais valiosos produtos de base comercializados no mundo, superado em valor apenas pelo petróleo. A título de exemplo, mostrou que o mundo toma mais de dois biliões de xícaras de café por dia.No território da província do Uíge existem mais de 161 mil hectares de terras disponíveis para a produção do café, que é facilitada pelas condições de solo e clima favoráveis, temperaturas que variam entre 15º e 32º (dentro dos parâmetros de tolerância do café robusta), uma altitude superior a 800 metros.

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