José Maria Neves pede um tratamento diferenciado para países mais afectados

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O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, pediu um “tratamento diferenciado” da comunidade internacional aos países vulneráveis e mais afectados pela pandemia de Covid-19, como Cabo Verde, nomeadamente no acesso a financiamento.

Segundo o Chefe de Estado, que discursava, sábado, no Palácio Presidencial, na Praia, após receber os cumprimentos de ano novo do corpo diplomático acreditado em Cabo Verde, o arquipélago “tem respondido com medidas assertivas, tanto ao nível sanitário, como ao nível económico e social” nos “quase dois anos de combate” à pandemia.

“Não sendo possuidor de recursos domésticos suficientes para uma resposta mais vigorosa à Covid-19, Cabo Verde tem feito recurso obrigatório ao endividamento interno e externo para poder fazer face aos continuados e persistentes esforços de protecção das populações vulneráveis. Em consequência, a dívida pública tem aumentado”, reconheceu.

Num contexto de crise económica, provocada pela quase ausência de turismo desde Março de 2020 – sector que garante 25% do emprego e do Produto Interno Bruto (PIB) -, e de aumento do endividamento, para financiar os apoios às empresas, famílias e medidas sanitárias, José Maria Neves deixou o apelo à comunidade internacional para essa diferenciação.

“É, de resto, nesse âmbito que Cabo Verde vem advogando pela legitimação internacional e urgência de um tratamento diferenciado em matéria de acesso ao financiamento em condições concessionais, de facilitação do comércio e de alívio da dívida externa, bem como a adopção de um Índice de Vulnerabilidade Multidimensional, como critério de acesso ao financiamento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e que atenda às especificidades das pequenas economias insulares, mais vulneráveis às mudanças climáticas e catástrofes naturais”, apontou.

Em representação do corpo diplomático, o embaixador de França na Praia, Olivier Latour, garantiu, no discurso de cumprimentos de ano novo, que “todos os países e organizações internacionais presentes em Cabo Verde estarão engajadas” no apoio às autoridades cabo-verdianas “no caminho da renovação e da retoma”.

Acrescentou que Cabo Verde é uma “voz para ser ouvida” pela comunidade internacional, devido à “sua sabedoria” e pela “confiança” que transmite, dando como exemplo as eleições – legislativas e presidenciais – que o arquipélago realizou em 2021, sem percalços.

“Mais uma vez, Cabo Verde deu provas ao mundo da sua maturidade, vivacidade e estabilidade democráticas”, disse Olivier Latour.
Na sua intervenção, José Maria Neves reconheceu que Cabo Verde “encontra-se entre os países mais fortemente atingidos pela crise pandémica” e que, “em consequência, e não obstante alguns sinais positivos, o país enfrenta (…) uma grave crise económica, financeira e social, sem precedentes”.

“A retoma económica acontece em ritmo muito lento, com o país a debater-se com uma grande falta de recursos financeiros e a enfrentar uma recessão económica bastante acentuada, com a maior queda do PIB de sempre, estimada neste momento em cerca de 15%. Os tímidos sinais positivos estão agora postos em causa com a onda acelerada e devastadora da variante Ómicron”, admitiu.

Daí o apelo lançado aos parceiros internacionais, através do corpo diplomático acreditado em Cabo Verde: “Esperamos poder contar com o apoio dos nossos parceiros de desenvolvimento, designadamente dos países e Organizações internacionais que Vossas Excelências aqui representam”.

José Maria Neves sublinhou que, no domínio sanitário, Cabo Verde conseguiu até agora “uma das maiores taxas de vacinação no continente africano e no mundo”, ao vacinar contra a Covid-19 (duas doses e terceira dose já em administração a todos os adultos) mais de 70% da população acima de 18 anos, essencialmente com doses doadas pela comunidade internacional.

Fonte:JA

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