Cerca de 30 por cento da população angolana, estimada em aproximadamente 30 milhões, sofre de hipertensão arterial, sendo esta a principal causa das doenças cardiovasculares.
Especialistas indicam que a maioria desconhece ser portadora da doença e que os dados dão conta que a taxa de prevalência é mais elevada em cidadãos maiores de 18 anos.
Estes dados foram tornados públicos, esta quinta-feira (7) em Luanda, pela cardiologista Marisa Pina Neto, à margem do V Congresso de Cardiologia e Hipertensão.
“Tivemos, apenas, em conta o número de casos que dão entrada nos principais hospitais do país, porque em Angola não há estatísticas reais sobre as doenças cardiovasculares, para se auferir o ponto de situação das cardiopatias”, disse Marisa Pina Neto, na qualidade de presidente do V Congresso de Cardiologia e Hipertensão, iniciado ontem.
Acrescentou que a hipertensão arterial, doenças vasculares reumáticas, insuficiência cardíaca e os enfartes lideram a lista das doenças cardiovasculares, o que preocupa a sociedade angolana de cardialgia, porque “notamos que Angola já é um país com índice de prevalência alto”.
Marisa Pina Neto, que, depois da abertura do congresso, falou sobre “A incidência da hipertensão em Angola”, disse que existe um conjunto de situações que concorrem para o surgimento da hipertensão, tal como factores socioeconómicos, stress, sedentarismo, genética e estilo de vida que muitos tendem em aderir.
Segundo a cardiologista, o número de pacientes com hipertensão tende a aumentar, porque as pessoas são muito resistentes quando se trata de mudar o estilo de vida e, também, mostram resistência em aceitar a doença e tomar a medicação de forma regular, do jeito que os médicos prescrevem.
A médica aconselha a diminuição do açúcar e da gordura na alimentação, bem como exercícios físicos diários, por 30 minutos no mínimo. De referir que o país conta com 100 cardiologistas, para cerca de trinta milhões de habitantes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 51% das mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC) e 45% das mortes relacionadas com problemas cardíacos decorrem da hipertensão.
A OMS estima que, até 2030, as doenças cardiovasculares serão responsáveis pela morte de 23,6 milhões de pessoas, em todo o mundo.
Implantes de marca-passo
No primeiro dia do V Congresso de Cardiologia e Hipertensão falou-se, também, sobre “O sucesso da aplicação do dispositivo de marca-passo”, capaz de monitorar o ritmo cardíaco e estimular o coração, impedindo que a frequência cardíaca reduza abaixo de determinados limites.
Segundo o chefe dos Serviços de Cardiologia do Hospital Josina Machel, Dário Eulaio, só este ano, foram implantados 40 dispositivos de marca-passo.
Acrescentou que o Hospital Josina Machel poderia ter aplicado mais dispositivos de marca-passo, mas, infelizmente, são caríssimos e, tendo em conta a crise financeira do país, a unidade sanitária tem tido muitas dificuldades para os adquirir. “Neste momento, cinco pacientes estão na lista de espera de implantes de marca-passo, dos quais quatro pela primeira vez e um para a troca do gerador”, informou o médico.
Em relação à paralisação das cirurgias cardíacas no Hospital Josina Machel, o cardiologista Dário Eulaio explicou que esforços estão a ser feitos para que, nos próximos tempos, as cirurgias voltem a ser feitas.
“Encontram-se na lista de espera cerca de 200 pacientes, para fazer cirurgias cardíacas. Os casos mais graves têm sido enviados à Clínica Girassol, que, através da Junta Médica, já realizou, desde o ano passado, 32 cirurgias cardíacas, em pacientes assistidos no Josina Machel”, realçou o cardiologista.
Dário Eulaio sublinhou que a área de cardiologia do Josina Machel possui 35 camas e neste momento estão todas ocupadas, algumas há mais de dois anos, com cardiopatias graves, à espera de cirurgias.
No primeiro dia do V Congresso de Cardiologia e Hipertensão estiveram presentes cerca de 200 participantes e foram apresentados temas como o “Desafio no tratamento da cardiopatia em Angola”, “Rastreio, diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial”, “Factores de risco cardiovasculares”, “Mudança do status no tratamento da diabete do tipo 2”, entre outros.
O congresso termina sábado e tem como objectivo transmitir conhecimentos sobre a doença, discutir os problemas de saúde cardiovascular e traçar planos, metas e estratégias para actuação futura.
Fonte:JA