O globo terrestre com ramificações de alguns tubos e uma máscara cirúrgica (azul), que simboliza um corpo humano, é transportada numa maca por um rapaz a correr, nas vestes de um socorrista aflito, anuncia a chegada da 17ª edição do “Luanda Cartoon”, aberta sexta-feira, no Camões – Centro Cultural Português, em Luanda.
Esse desenho, metáfora da pandemia da Covid-19, é o cartaz da presente edição do Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação “Luanda Cartoon”.
O evento, que já é uma marca do movimento cultural de Luanda, congrega todas as idades, entre crianças, adolescentes e adultos, que contempla banda desenhada, cartoon e filmes de animação, e fica patente ao público até ao dia 24.
Houve restrições, este ano, no acesso à sessão inaugural por causa da Covid-19. Foram três actos (momentos) distintos, para permitir entradas e saídas para o público ávido em apreciar as histórias nacionais e estrangeiras.
O nível de organização do Festival, a representatividade de diferentes estilos, e a adesão de outros estúdios nacionais que produzem BD surpreendeu e ultrapassou as expectativas quer de nacionais quer de estrangeiros, como o ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, e o embaixador da França, Daniel Vosgien, que estiveram presentes na cerimónia de inauguração, além do anfitrião, o director do Camões, Telmo Gonçalves.
O director do festival, Lindomar de Sousa, mostrou-se satisfeito pelo facto de o público colaborar com as medidas de biossegurança, sobretudo a gestão de acesso à sala imposta pelo Camões. “O público conseguiu respeitar as medidas, e graças à gestão do Camões foi algo maravilho”, não deixou de realçar a presença do ministro da Cultura, turismo e Ambiente, que acompanhou e “deu-nos o calor de que precisamos, traduzindo em novas parcerias, para breve, em prol da BD angolana”.
Esta semana, até quinta-feira, haverá uma oficina (workshop) sobre “Anatomia Artística” com modelos ao vivo, entre as 10h00 e as 12h00, cujos desenhos serão feitos por professores e artistas de BD. Na próxima semana surgem as visitas dos estudantes do ensino secundário, com destaque para os Institutos Politécnicos que têm a disciplina de desenho.
No período da tarde, decorre a mostra de filmes de animação, às 15h00, no auditório Pepetela, com entrada livre. Ontem foi exibido o documentário “Piratas no Território X”, de Paulo Airosa. Hoje é exibido o filme “Minguito na Terra da Palanca Negra”, do estúdio Olindomar.
O encerramento inclui uma conversa aberta com Altino Chindele, autor de “A Regina” (edição especial), Paulo Airosa, autor de “Os Piratas no Território X”, José Teles, autor de “O Salomão”, e Isabel Honde, a única mulher angolana com desenhos no festival, e que vai autografar a revista “Barata”, do Olindomar Estúdio.
Yanessa Silva é uma das visitantes, a primeira vez a visitar o festival, desconhecia a existência de jovens angolanos que produzem banda desenhada e filmes de animação cuja qualidade nada fica a dever aos trabalhos estrangeiros. Para ela, parecia um sonho o que viu no auditório Pepetela – os filmes de animação – e na sala de exposições os desenhos, “tudo com muita criatividade e imaginação”, o que a levou a concluir: “Afinal temos jovens talentosos, eu não sabia que existia toda essa arte aqui no nosso pais”.
Além dos 15 artistas angolanos, participam 9 estúdios (empresas) de banda desenhada, designadamente Bom Comix, Sambambi, Delmar Angola, Drawings, Eclipse, Mac, Ómega Cosmos, V.N.D Comics e Olindomar Estúdio.
Do Brasil vieram as histórias “Edibar – e a turma do Pé inchado”, de Lúcio Oliveira, e “Sobreviver e Es”, de Marco Paulo.
A República do Congo participa com obras de Santa Kakese e Revell Comic, que apresenta “La Legende Afracaine Totem”, enquanto o Congo Democrático (RDC) participa com os desenhos de Mola Boyca.
Portugal tem desenhos de João Amaral, João Mascarenhas, Álvaro, e o projecto Banda Desenhada em Língua Portuguesa (BDLP).
O Festival “Luanda Carton”, produzido pelo Olindomar Estúdio, conta com a parceria do Camões- Centro Cultural Português, e tem tido o apoio de instituições públicas e privadas, como o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, a Unitel, a Aliança francesa de Luanda, o BFA, o Goethe Institut, a link Artes, e a Casa dos Artistas.
Em 2016, o festival que tem periodicidade anual, foi galardoado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Artes Plásticas.
Ivandro Coelho
“A primeira vez que participei no “Luanda Cartoon” era aluno do estúdio Olindomar, foi uma honra ver os meus desenhos na mesma exposição em que artistas renomados apresentam as suas obras. Quando sentava no auditório Pepetela, para ver os filmes de desenhos animados imaginava um dia em fazer parte da produção de filmes de animação. Depois de alguns anos, concretizei o sonho: nesta edição participei na produção dos filmes de animação, não como aluno do estúdio Olindomar, mas sim como funcionário. Agora sei e tenho já uma certa experiência sobre a preparação do festival, que exige muito esforço para agradar e satisfazer as necessidades dos visitantes e dos próprios autores, o que acaba por ser muito gratificante quando correspondemos aos anseios de todos e, em particular, por integrar esse grupo de produção”.
Fonte:JA