Ritual venera antepassados para garantir prosperidade

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A segunda edição do Festival Cokwe “Nakapamba Mussopa-Nama” foi aberta este ano na comunidade de Sweja, a 20 quilómetros de Saurimo, capital da Lunda-Sul, com a realização de um ritual.

O festival foi aberto pelo rei cokwe Lucassa João, que pediu, com o ritual, a bênção dos antepassados, para garantir prosperidade nas colheitas, assim como saúde, protecção  e harmonia entre as comunidades.

Durante a intervenção, Lucassa João agradeceu a presença dos convidados, vindos de outras pontos do país e do estrangeiro e aproveitou para fazer uma incursão à história do reino e da cultura Lunda Cokwe.

Para o soberano, nomeado para o cargo pelo finado rei Muatshissengue Watembo, é preciso dar mais atenção à preservação da cultura local e incutir nos jovens mais respeito pelos anteriores reis e por rituais como o “Nakapamba Mussopa-Nama”, parte essencial da identidade Lunda.

 “Ostento o  lukhano, um símbolo de autoridade, para exaltar os antepassados a fim de abençoarem as terras, de forma a garantir um futuro saudável às futuras gerações e ajudem na preservação das tradições”, disse.

Em relação ao festival, o soberano enalteceu  a organização e considerou que a adesão prova que as comunidades valorizam os hábitos e costumes do povo Lunda Cokwe. No acto, Lucassa João destacou ainda a importância do ano económico nos moldes tradicionais da região leste.


O ritual

Os passos em serpentina, os gritos selvagens, a agitação da catana em gesto  ameaçador e o formato assustador da máscara vermelha tipificam o figurino de uma personagem conhecida por Txicuza, que na tradição cokwe é símbolo de força e poder.

Para o historiador João Baptista Manaças, a presença do mascarado no ritual realça a importância do acto tradicional. Via de regra, explicou, a actuação deste antecede o desfile do rei, apresentado quase sempre sentado numa cadeira fixada sobre um estrado, que os jovens carregam sobre os ombros.

O temor da plateia pelo muquixi (palhaço), continuou, é vista pelo afastamento voluntário e apressado das pessoas à sua aproximação, enquanto este patrulha a arena,  para garantir segurança ao soberano.

No passado, conta o historiador, este matava a golpes de catana qualquer pessoa que cruzasse o caminho do rei. “A sessão de ronda no espaço definido para o desfile do soberano envolve uma outra figura. Usa vestes brancas que cobrem até a cabeça, com o formato de cone alongado. Com mais de seis metros de altura proporcionados por andas feitas de bambu, o Mutalo, personagem que caminha equilibrado e silencioso, observando tudo à sua volta a uma distância permitida pela altura”, adiantou.

O ritual do festival cokwe ocorre normalmente no dia 1 de Setembro de cada ano. Na contagem tradicional Lunda Setembro é o primeiro mês do ano, designado por “Cacumi” ou “Tximbeji mbeji”.

Nesta altura acontece a preparação de uma lavra para o ano económico, acto obrigatório, como explica o historiador, por ser o suporte para a sobrevivência das famílias, complementado pela caça, além da pesca artesanal.  “Aquele que não tivesse lavra era suspeito de viver de roubos. O temor pelo feitiço era o barómetro que moldava  o comportamento das pessoas”, esclareceu.

Após o desfile, numa árvore previamente escolhida e com uma exposição simbólica de produtos que a população cultiva, os jovens baixam a estrutura para o rei descer. De joelhos, com um grupo de líderes tradicionais atrás, realiza as rezas. Depois, o desfile prossegue nos mesmos moldes em que chegou, até ocupar o lugar na tribuna de honra, onde o séquito aguarda expectante pelo discurso.

“Só depois de o rei escolher a sua parcela para cultivo, as famílias podem beneficiar da distribuição de talhões. Havia também a obrigação de as comunidades definirem um dia para trabalharem na lavra do rei, como entidade com poder para resolver a falta de chuva, a ocorrência de mortes sucessivas  e outros males”, referiu Baptista Manaças.

Fonte:JA

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