O gás associado (aquele que, no reservatório geológico, se encontra dissolvido no petróleo) pode vir a tornar-se mais significativo como um importante combustível de transição nos próximos 20 ou 30 anos, de acordo com projecções da Câmara Africana de Energia (CEA), uma consultora que opera como promotora de investimentos energéticos no continente.
Num artigo consagrado à manutenção das oportunidades da indústria angolana dos hidrocarbonetos na transição energética, o vice-presidente sénior da CEA, Verner Ayukegba, lembra que o gás natural actua como um intermediário fundamental na transição energética, libertando menos emissões do que o carvão e os produtos petrolíferos.
Ao mesmo tempo, acrescenta o autor, o gás natural que é capaz de fornecer energia de forma fiável para permitir a produção em escala e compensar a intermitência inerente das energias renováveis.
Verner Ayukegba escreve que o Ministério dos Recursos Minerais e Petróleo “está a desenvolver um esforço ambicioso” para monetizar as reservas de gás, atraindo investimentos para infra-estrutura de ‘downstream’ (transporte e distribuição de produtos da indústria do petróleo) e projectos de geração de energia a gás.
A constituição do Novo Consórcio de Gás (NCG), que representa a primeira grande parceria de gás natural de Angola, reúne a Eni, BP, Chevron, Total e a estatal Sonangol, reunindo recursos que podem elevar o gás natural a um papel central no apoio ao esforço de Angola para aumentar o acesso à electricidade, aceleração da industrialização e transição para fontes de energia mais limpas.
Mas esse é apenas o primeiro passo para muitas mais parcerias, lê-se no artigo que aponta a comercialização de gás como potencial para o estabelecimento de uma indústria petroquímica que pode produzir fertilizantes para impulsionar a agricultura em Angola e a nível regional.
Está em construção uma central de processamento de gás de dois mil milhões de dólares no Soyo, liderada pelo NCG, para produzir LNG direccionado à exportação e para alimentar a Central de Ciclo Combinado do Soyo, produzindo energia para a rede nacional.
Já em operação, a Angola LNG foi a primeira a desenvolver recursos nacionais de gás natural e é um dos maiores investimentos individuais na indústria angolana de petróleo e gás.
Ao contrário da maioria das instalações que utilizam gás não associado, esta central utiliza gás associado como fonte de energia primária, contribuindo de forma mais significativa para a eliminação da queima de gás, para a redução das emissões de gases com efeito de estufa e para a promoção da gestão ambiental.
“Ambas as instalações constituem um passo crítico no caminho de Angola para o uso sustentável e eficiente dos seus recursos naturais”, escreve o autor que considera que, “como muitos outros países africanos e outras partes interessadas a nível mundial, Angola continua a acreditar que existe um papel para os hidrocarbonetos na era da transição energética.
O autor cita números da ONU que indicam que a África, com 16,72 por cento da população mundial, é responsável por menos de 3,0 por cento das emissões globais de dióxido de carbono de fontes industriais e energéticas, em comparação com 15 por cento dos Estados Unidos, 16 da Europa e 28 da China.
Investimento nas renováveis
Além disso, a procura global por hidrocarbonetos será significativa por pelo menos mais meio século, mesmo quando se espera que diminua, de acordo com vários estudos, sendo importante notar, por outro lado, que o Governo angolano está empenhado na promoção das energias renováveis.
De tal forma que, cada vez mais, os gastos do Governo com a expansão do acesso à energia estão a ser direccionados a projectos de energia solar, além de incentivar parcerias público-privadas no sector.
Numa evidência dessa declaração, a fonte refere que a petrolífera italiana Eni, em parceria com a Sonangol, lidera a construção de uma central solar de 50 megawatts (MW) na província do Namibe, com início de operação previsto para 2022.
Fonte:JA