Os problemas críticos enfrentados pela população do Cunene, muitos dos quais provocados pela seca que se abate de forma cíclica naquela região do país, vão começar a mudar, de forma radical, a partir de 2023, garantiu ontem, em Ondjiva, o Presidente da República, quando intervinha numa reunião com o governo local.
O Presidente João Lourenço anunciou o arranque das obras dos dois projectos estruturantes de combate aos efeitos da seca para o Cunene, que estavam condicionados por factores financeiros.
Trata-se do projecto de construção da barragem de Calucuve e o seu canal associado, com uma extensão de 111 quilómetros, entre as localidades da Mupa e de Ondjiva, bem como a da barragem do Ndue e seu canal associado, numa extensão de 75 quilómetros, entre o Ndue e Embundo.
São dois projectos estruturantes do pacote de três aprovados para o combate aos efeitos da seca nesta província do Sul do país, cujas obras faltam começar. A empreitada, garantiu o Presidente, começa em Outubro.
João Lourenço anunciou, igualmente, para o mesmo período, o início da recuperação dos diques e açudes existentes na região do Curoca, considerado localmente como o epicentro da seca no Cunene.
Deu, também, a conhecer o início, no próximo ano, das obras do projecto da margem direita do Rio Cunene, a reabilitação da represa da Cova do Leão e a transferência de água do rio Caculuvale, para quatro sedes municipais: Cahama, Otchindjau, Oncócua e Chitado.
O Titular do Poder Executivo esclareceu que este projecto não estava previsto, razão pela qual só vai começar no próximo ano. Apesar da diferença nas datas de início, sublinhou, os quatro projectos vão ser construídos ao mesmo tempo.
“Isto significa dizer que o sofrimento das populações e dos animais aqui da província do Cunene vai mudar, de forma radical, nos próximos anos. Estimamos que seja a partir de 2023 em diante, na medida que estes quatro projectos forem sendo concluídos”, salientou.
O Presidente disse que só a experiência vai dizer se os quatro projectos são suficientes para fazer face aos efeitos da seca no Cunene. “Este é o anúncio que eu gostaria de fazer. Não me sentiria bem fazer essa segunda visita à província, vindo de saco vazio. Tinha que trazer alguma coisa no saco, para oferecer às populações do Cunene”, salientou.
O Chefe de Estado reconheceu haver no Cunene muitos problemas, mas disse ser a seca, que ocorre de forma cíclica, que mais fustiga a província. É este mesmo problema que afecta o Sul do país, nomeadamente as províncias do Cuando Cubango, Namibe e, de alguma forma, a Huíla, acrescentou.
Disse não ser por acaso que as duas visitas que efectuou à província do Cunene foram neste período seco, em que a seca atingiu o seu pior momento. Há cerca de dois anos, quando visitou o Cunene, João Lourenço deslocou-se ao interior da província, num dos municípios mais afectados e viu o quanto a seca afecta a vida das populações e dos animais.
Naquela altura, o país (o Executivo e a sociedade civil) já se mobilizavam para ajudar o Cunene. “Mobilizamos bens alimentares e outros, sobretudo água, para socorrer as populações da província do Cunene e de outras também afectadas pelos efeitos da seca”, lembrou o Presidente.Referiu que a história está a repetir-se novamente este ano, com o Executivo e a sociedade civil a levarem o mínimo possível para manter vivos, quer pessoas quer animais, no Sul do país, com destaque para o Cunene.
João Lourenço considerou, entretanto, que “levar mantimento é insuficiente e não constitui solução para a situação que se vive nesta província”. A solução para aquele problema, disse, passa por garantir a existência de água na zona todo o ano, de modo a permitir que as populações produzam os seus alimentos. “Essas são soluções sustentáveis. E essas soluções foram encontradas depois da minha visita, há dois anos”, afirmou.
O Chefe de Estado lembrou que, na altura, o Executivo concebeu três projectos estruturantes que consistem em tirar água do rio Cunene para abastecer as zonas afectadas pela seca. Lamentou o facto deste rio, que passa pela província, ser secular, mas não se ter tirado o devido proveito. “Lamentavelmente, passa por aqui, pela província e desagua no mar, sem cumprir com o seu papel, que é servir as populações por onde passa, por falta de investimento”, realçou.
O Presidente da República disse não ter sido difícil encontrar a solução para o problema da seca no Cunene, tendo destacado que o difícil é a execução e a construção dos referidos projectos já concebidos.
Titular do Poder Executivo visita obra de transferência de água
Hoje, último dia de trabalho do Chefe de Estado na província do Cunene, está reservada uma visita às obras do Sistema de Transferência de Água, a partir do rio Cunene, na zona de Cafu, para abastecer as localidades de Cuamato e Namacunde.
O Presidente João Lourenço disse tratar-se de um projecto que, quando concluído, vai resolver o problema de milhares de famílias que se encontram assentadas ao longo do trajecto onde vai passar o canal. Isso, garantiu, vai permitir que a margem desse canal em construção se transforme em campos de produção de alimentos. “O projecto que vamos visitar tem já algum avanço, porque começou mais cedo”, acentuou.A reunião com o governo local abriu com a governadora da província, Gerdina Didalelwa, a apresentar, ao Presidente da República, o memorando sobre a situação social e económica do Cunene.
Neste particular, o destaque recai, entre outros, para o número de cidadãos que acorrem à vizinha Namíbia em busca de serviços médicos possíveis de serem garantidos na província, bem como às crianças fora do sistema de ensino.
Em relação aos cidadãos que se deslocam à Namíbia à procura de serviços médicos, o Presidente João Lourenço reconheceu a necessidade da construção de infra-estruturas sociais, como escolas e hospitais nos municípios fronteiriços com aquele país, de forma a se evitar que, quer os estudantes, quer os cidadãos que necessitam dos cuidados médicos se desloquem ao país vizinho.
Fonte:JA