As jornadas comemorativas do 4º aniversário da elevação da cidade de Mbanza Kongo a património mundial da humanidade arrancaram a semana passada, no Zaire, com a realização, pelas autoridades tradicionais, de um ritual denominado “Lembu”.
O coordenador do núcleo das autoridades tradicionais do “Lumbu” (tribunal consuetudinário), Afonso Mendes, disse que o ritual serviu para pedir bênçãos aos ancestrais e acautelar a ocorrência de qualquer situação anómala durante as jornadas comemorativas. “Pedi bênçãos aos ancestrais, para que estas festas passem de uma forma harmoniosa, sem quaisquer constrangimentos ou desacatos. Pedimos também para que a região conheça melhorias nos próximos dias, com a construção de infra-estruturas económicas e sociais”, adiantou.
Para marcar a ocasião foi também realizada uma palestra sobre “a vida e obra da profetiza Kimpa Vita”, cuja data da sua morte é relembrado este mês. O historiador Patrício Batsikama, orador da palestra, lembrou que o legado deixado pela profetiza Kimpa Vita resume-se em dois preceitos inseparáveis, a religião e a formação.
“A religião e a escola constituem os principais legados de Kimpa Vita. O cidadão Kongo podia formar-se nas 12 escolas instaladas nesta região”, disse, lembrando que já no século XV e XVI o Reino do Kongo tinha homens formados.
Em relação ao legado teológico de Kimpa Vita, Patrício Batsikama destacou o papel que o surgimento de Simão Kimbangu e o kimbanguismo, Simão Toko e o Tocoismo e as seitas Bundo dya Kongo tiveram ao defenderem o regresso às origens.
O historiador chamou a atenção para a importância de se erguer um santuário simbólico em homenagem a Kimpa Vita, devidamente interligado com a teologia africana, no sentido de associar o conhecimento científico à realidade religiosa. Autor de vários livros sobre o Reino Kongo, o historiador propõe ainda que se erga um monumento em homenagem a Kimpa Vita.
Com algumas pesquisas feita na região de Mbanza Kongo, Patrício Batsikama acredita que a juventude local está a perder o interesse pela cultura local, devido à excessiva crença em certas práticas, como o feiticismo, a tal ponto de usarem referências como Kimpa Vita nestes actos.
“Esta situação tem de mudar, são desvios de valores e logo em Mbanza Kongo. Não pode ser. A antiga capital dos Reis Kongo é um lugar de excelência e de encontro dos intelectuais. Os jovens precisam apostar mais na formação e no trabalho justo”, aconselhou.
Entre as várias actividades programadas para celebrar a efeméride, a ser assinalada esta quinta-feira, dia 8, constam um culto ecuménico, exposição fotográfica, visitas aos monumentos e sítios históricos locais, feira dos municípios e o lançamento do livro “Cidades, organização do espaço e sociedade em Angola”.
O programa da efeméride contempla, ainda, outras actividades como a apresentação de um documentário sobre a primeira edição do festival de artes e cultura Kongo, “Festi-Kongo”, uma feira de saúde e uma homenagem aos antigos administradores municipais de Mbanza Kongo.
Fonte:JA