O empresário Carlos Cunha defende ser preciso o regresso das inspecções pré-embarque como forma de protecção dos industriais, uma vez que a facilidade na aquisição de divisas no mercado paralelo pode permitir que se declare preços de importação abaixo do custo, originando dumping e concorrência desleal.
No Especial “Directo ao Ponto”, da Tv Zimbo, sábado à noite, Carlos Cunha disse que a Indústria angolana é competitiva nalguns produtos, mas o custo das exportações, através dos Portos nacionais, tornam-nos pouco competitivos lá fora.
“Estes são dos problemas mais graves que vivemos hoje e as reclamações vêm mesmo do sector industrial. Pensamos que Angola tem de voltar ao sistema de inspecção pré-embarque, para protecção dos industriais. Há dias, um industrisl dizia-me isso mesmo. O problema é que hoje tem muitas formas de pagar, com compra de divisas no paralelo e desta forma poder declarar um valor abaixo do real da compra, provocando dumping e concorrência desleal”, afirmou.
Segundo o empresário, o transporte é fundamental e a realidade do cimento também é vivida na exportação de cervejas.
“Temos duas empresas que estão a exportar cerveja, pontualmente para a China, porque sendo aquele país exportador para Angola, há ocasiões em que se pode regressar com contentores vazios e aí, bem negociados, pode-se acertar fretes de 500 dólares, tornando, com isso, o preço da bebida bem mais competitivo”, apontou.
Em relação ao momento da indústria de bebidas, o presidente da Associação, Manuel Victoriano Sumbula, disse que o sector, bastante afectado pela crise, precisou reiventar-se para superar cada obstáculo.
“No nosso sector, conseguimos tocar na agricultura, nas embalagens, alavancando, por isso, a diversificação da economia”, afirmou.
Para Ágata Russel, membro da AIBA, têm feito muitos esforços e nem sempre são compreendidos como pretendem. O IEC é o desafio a superar, conforme detalha, para travar-se os despedimentos, que, este ano, já contabilizam mais de 500 postos de trabalho perdidos.
Por sua vez, o docente universitário Josué Chilundulo entende que há particularidades entre os sectores. No caso concreto da indústria de bebidas, cumpriu com o princípio da substituição das importações. O que se entende, é que houve reconhecidamente uma taxa de sacrifício elevada da Indústria, para cumprir os objectivos.
Por essa razão, conforme o docente, exige-se dos gestores públicos que agora compensem a taxa de sacrifício exercida pela indústria.
“Quando estás num contexto de ambiente de negócios como o nosso, não se pode dar ao luxo de negociar com os empresários, partindo do princípio que existe um Estado com poder absoluto, descricionário e os empresários. É preciso concertar”, disse.
Indicadores do mercado
O vice-presidente do Conselho Fiscal da Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA), Diogo Caldas, disse mesmo que o sector tem das cadeias de valor mais desenvolvidas do país, iniciando com as matérias-primas, embalagens, comercialização e distribuição e cliente final/exportação.
Há 20 anos, segundo afirmou, tinha-se um mercado muito sustentado na importação de bens finais. As empresas do sector investiram para obter capacidade de produção e enchimento. Depois disso, numa terceira fase já em 2013, fizeram-se investimentos e deu-se apoio aos produtores nacionais no desenvolvimento de fornecedores locais e, actualmente, a exportação para mercados internacionais.
Conforme fez questão de afirmar Diogo Caldas, a capacidade instalada no país é de 3 400 milhões de litros, a produção é de 1 200 milhões de litros, 59 mil empregos directos e indirectos, na balança comercial há uma produção de mais de 700 milhões de dólares, as exportações estimam-se em 20 milhões de dólares.
No caso da Indústria Transformadora, em concreto, Diogo Caldas disse que o seu peso subiu 6,8 por cento, em 2010, e 7,9 por cento de 2019, tendência inversa a da Indústria de Bebidas. Angola consome, em média, 450 a 500 milhões de litros/ano. Ainda em relação ao consumo, no país, a capacidade instalada para cervejas é de 18 milhões; 18 milhões para refrigerantes e sumos; 15 milhões de águas e 30 milhões para as espirituosas. No segmento oferta da água, estima-se em 30 as fábricas pelo país.
A indústria de bebidas contribuiu, em 2019, com 2,4 por cento no PIB, abaixo dos 4,0 por cento de 2015; 10 em-presas fecharam as portas e perderam-se oito mil empregos, estando em utilização só 70 por cento da capacidade instalada.
Fonte:JA