Especial/Dia Mundial das bibliotecas: Leituras na rua permitem diálogo com a História

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Vários projectos comunitários têm permitido levar os livros ao encontro dos leitores nos mais variados pontos da cidade de Luanda. Hoje, 1 de Julho, Dia Mundial das Bibliotecas é o data ideal para se dirigir a uma biblioteca e requisitar um livro ou então para partilhar o livro da sua vida com outras pessoas e para conhecer novos livros pelos quais se pode apaixonar. Para comemorar a efeméride, em vários países do mundo são realizadas actividades que promovem a leitura na população e o desenvolvimento cultural. Entre estas iniciativas destacam-se as bibliotecas itinerantes, móveis, que possibilitam o livre acesso a livros, revistas e jornais em locais públicos, as sessões de leitura e os encontros de autores e leitores

Nos últimos anos, um pouco pelo país, muitos jovens têm-se tornado voluntários em alguma área do saber. Boa parte tem recaído para a literatura, onde um dos pioneiros foi o jornalista Rui Ramos com o projecto cultural “Um Livro Uma Criança Muitas Leituras”, com o qual tem  apadrinhado e já criou 135 bibliotecas nas 18 províncias do país, com mais de 33 mil livros com apoio de pessoas singulares.

Em locais improvisados muitos jovens têm-se mostrado bastante criativos diante das adversidades. Montam espaços abertos de leitura em zonas estratégicas que encontram nas ruas de Luanda. Numa mesa, às vezes improvisada, colocam os livros à disposição de quem quiser aumentar os conhecimentos sobre a vida e obra de escritores angolanos e estrangeiros, ou até mesmo fazer pesquisa sobre livros mais académicos.

Francisco Mapanda, mentor e co-fundador da Biblioteca “Despadronizada”, localizada na parte inferior de uma das pedonais da Robaldina, em Viana, disse ao Jornal de Angola, que o projecto ao ar livre fora dos padrões normais, é uma forma diferente de levar o livro ao encontro dos leitores para aumentar o nível de conhecimento e lazer à comunidade onde está inserido.O projecto, explicou, surgiu para dar ocupação, preferencialmente á comunidade local. Além dos leitores, encontram crianças e jovens a jogar xadrez e a desenhar.

Os apoios, sobretudo para poder cuidar e dar um melhor tratamento aos livros, afirmou, tem sido uma das prioridades,  uma vez que se trata de espaços que funcionam ao ar livre. Apesar da pandemia, acrescentou que, a biblioteca continua muito frequentada, por todas as faixas etárias.Contrariamente ao que idealizou ser inicialmente o projecto com mais frequência dos moradores da zona, Francisco Mapanda conta que foi surpreendido com a adesão dos vendedores ambulantes e passageiros que desciam e subiam dos candongueiros. “Foi desta forma que sentimos a necessidade de partilhar os poucos livros que temos com as outras pessoas”.

Antes da pandemia, a biblioteca era frequentada  diariamente por mais de 150 leitores. “Recebemos maioritariamente jovens e crianças, sobretudo no período da tarde em que as pessoas mostram mais disponibilidade para a leitura”, destacou.Sobre o Dia Mundial das Bibliotecas, que se assinala hoje (1 de Julho), o mentor da “Despadronizada” enaltece o surgimento de várias outras bibliotecas dos géneros um pouco pelo país, o que tem permitido incentivar o gosto pela leitura. Na sua visão, o dia deve servir de reflexão e apela para a criação de políticas de fomento às bibliotecas comunitárias, pelo o alcance de números de leitores, porque as poucas bibliotecas convencionais existentes estão localizadas geograficamente nas zonas urbanas.

Para a orientadora de leitura Cláudia Domingos, da Biblioteca Comunitária Leonilde e Beatriz, localizada na rua Cónego Manuel das Neves,  uma das estratégicas adoptadas, disse, foi a criação durante todo o ano do concurso de incentivo à leitura, sobretudo dirigido às crianças e premeia os maiores leitores. “O projecto tem sido uma fonte de conhecimento e de debates sobre o estado da literatura no país”.Contrariamente à zona da Robaldina que actualmente é frequentada por mais de cinco dezenas de pessoas, já na Leonilde e Beatriz, o cenário é bem diferente. O número de leitores em tempos da pandemia reduziu entre cinco a seis pessoas, às vezes um pouco mais por dia, de acordo com Cláudia Domingos.

Além do município de Viana e Ingombota, há também espaços improvisados no município do Cazenga, distritos urbanos do Kilamba Kiaxi e Samba, bem como no Golfe 2. Todas são de carácter voluntário e sem fins lucrativos. O objectivo é único: cultivar o gosto pela leitura e tornar conhecida a literatura angolana e estrangeira. 
Diálogo com a história

O historiador e vice-presidente do Conselho Científico do Departamento do Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais, Josiarte Mahatma Satumbo, defende que o nível de maturidade sócio espiritual das populações  é analisado pelo número de bibliotecas e museu, por serem os sustentadores do mosaico cultural de uma sociedade, num diálogo com a história.Na sua perspectiva sobre o novo movimento social, a história deve dialogar com outras disciplinas das ciências sociais e humanas. Sobre a realidade no país, defende que as escolas públicas e instituições privadas de ensino deveriam consolidar a teoria com aulas práticas dirigidas às instituições museológicas.

Assegurou que a exposição de objectos, têm o poder de dialogar e serve como o suporte da consolidação da matéria leccionadas nas escolas do ensino de base, média e superior. Alerta para a importância dos professores valorizarem e incentivarem  mais a literatura nacional e os seus criadores no processo de transmissão de conhecimentos para despertar o hábito de leitura aos estudantes.A criação de museus e bibliotecas, disse, deve estar inserida nas políticas públicas culturais e educativas. “O cidadão que frequenta essas instituições aumenta o nível de exercício da cidadania”, destacou o historiador. “Puxa Palavra”

Sobre o Dia Mundial das Bibliotecas, a nova directora do Centro Cultural Brasil-Angola (CCBA), Marisa Cristina, disse que a efeméride ajuda a consolidar e a reforçar a importância das bibliotecas na vida das comunidades. Esse ano, afirmou, não haverá nenhum evento para celebrar o dia, mas adianta que a leitura faz parte do engrandecimento de qualquer ser humano.

Lembrou que o CCBA, tem realizado várias actividades culturais interactiva on-line como a criação do projecto cultural mensal “Puxa Palavra” coordenado pelo professor/leitor Caio Carmona que tem permitido criar uma ponte literária entre escritores angolanos e brasileiros. 

Com limitações, explica, houve a necessidade de se reduzir o número de frequentadores da biblioteca do CCBA até 50 por cento da capacidade. “Estamos a procurar melhorar também o nosso acervo através de doações para oferecer mais diversidade de escolha dos leitores. Embora estejamos muito focados na literatura brasileira, temos um acervo bastante generalizado em outras áreas de estudos”, destacou. Programas interactivos

O director da Casa Museu Óscar Ribas, Sidónio Domingos, apelou a importância da revitalização das bibliotecas comunitárias para levar o livro até aos cidadãos  e assim incentivar os hábitos de leitura na sociedade, principalmente entre as crianças.A criação de mais bibliotecas, destacou, não deve ser somente responsabilidade do Executivo, mas de todos agentes culturais, preocupados em dinamizar as artes, em particular a literatura.

Na sua visão, é importante activar as bibliotecas municipais, como forma de aproximar mais o público destas instituições. A falta de cultura de frequentar as bibliotecas, assim como os museus, alertou, deve ser razão para inspirar a criatividade dos gestores destes espaços, levando-os a criarem programas culturais temáticos, dinâmicos, mais interactivos para atrair o público leitor.

Com o projecto Biblioteca ao Ar Livre (BAAL), que doravante vai estar aberta todas as últimas sextas-feiras de cada mês, no quintal da Casa Museu Óscar Ribas, em Luanda, adiantou, é uma forma de dinamizar o espaço e fomentar o gosto pela leitura na localidade.

Fonte:JA

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