Celebra-se hoje, 1 de Julho, o Dia Mundial das Bibliotecas, data que visa enaltecer a importância da leitura na educação e formação das pessoas, tal como é referido no Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas. Em entrevista, ao Jornal de Angola, Diana Afonso Luhuma, directora-geral do Biblioteca Nacional, disse que a instituição que dirige é responsável pelo depósito legal, pelo que todas as obras produzidas no país devem ser depositadas
Que avaliação faz do actual acervo da Biblioteca Nacional?
A Biblioteca Nacional de Angola tem um rico acervo, considerando que a instituição é responsável pelo depósito legal, logo todas as obras produzidas no país devem ser depositadas na Biblioteca Nacional, o que permite termos um vasto e actualizado acervo, e tendo em conta igualmente as ofertas e doações de livros que recebemos. O acervo bibliográfico da Biblioteca Nacional tem 100 mil títulos de documentos diversos que vem conservando e preservando desde o século XIX, dentre os quais encontramos, livros, revistas, jornais, mapas, discos e cartazes. Já podemos dizer que temos uma biblioteca do futuro? O que falta para tal?
Há necessidade da termos instalações próprias e adequadas, bem como recursos humanos capacitados para dar respostas aquilo que são as atribuições da instituição.
Como avalia a interacção entre a biblioteca e o público?
A interacção é positiva considerando que temos uma média de 4500 utilizadores mensalmente, facto que, pode sempre ser melhorado, e trabalhamos neste sentido. A questão da aproximação entre a biblioteca e o público não precisa de ser revista, com políticas mais atraentes para os leitores? Há algum projecto concreto para a Biblioteca Nacional?
Temos projectos de ir ao encontro dos leitores, para promover e incentivar o gosto pela leitura nas comunidades e não só. Antes da pandemia levamos por cerca de três anos o projecto denominado Biblioteca Nacional e as Escolas, no qual fomos as escolas a nível de capital promovendo e incentivando a leitura tanto nos alunos como nos professores, e os alunos visitavam igualmente a Biblioteca Nacional, participavam de concursos de leitura. Quanto à conservação do acervo, há algum risco de perdermos certas obras?
Não diria que corremos o risco de perdermos obras, no entanto há necessidade de termos um espaço adequado para acomodar/albergar o acervo bibliográfico visto que as instalações actuais já não correspondem a demanda de livros que dão entrada na instituição. Há também necessidade de termos técnicos capacitados e meios adequados para tratamento do acervo bibliográfico. Outros sim, vamos levar a cabo uma Campanha do Deposito Legal, para divulgar a Lei e garantir o deposito das obras, para sua guarda e preservação. Com o avanço das novas tecnologias, a Biblioteca Nacional criou algum projecto para entrar no mundo online?
Acreditamos que ainda este ano daremos início a Informatização do Acervo Bibliográfico, facto que permitirá termos um catálogo digital e disponibilizado online, bem como interacção e troca bibliográfica com instituições afins. A pandemia causou prejuízos profundos? Quais?
Como é óbvio, tivemos um número reduzido de usuários por conta da pandemia, e muitos projectos que a instituição tinha tiveram de ser adiados ou readaptados. No entanto, a pandemia, veio reforçar a necessidade de nos adaptar-mos a dinâmica das novas tecnologias de informação a fim de continuarmos a prestar os nossos serviços.
Qual deve ser o papel de uma biblioteca na sociedade?
Mais do que guardar livros, a biblioteca tem hoje papel fundamental na sociedade, sendo um local de acesso a informação e ao conhecimento, e sabemos que a informação colocada a disposição dos cidadãos, é um instrumento de mudança e transformação social. O acesso à informação é fundamental participação dos indivíduos nos processos decisórios, para que possam fazer suas escolhas e opções. A Biblioteca é um local de debates e manifestações culturais e artísticas, actuando como veículo para o exercício da cidadania, sendo que formação de leitores e a necessidade de fruição de um espaço cultural, são factores que colocam a biblioteca como uma instituição de vital importância para a sociedade. Logo é preciso munir as bibliotecas com recursos financeiros e condições materiais, para que possam exercer o papel social que lhes demandado.
Que actividades serão realizadas este ano para celebrar a efeméride?
Este ano em alusão ao Dia Mundial das Bibliotecas, realizaremos uma palestra com o tema “O Papel das Bibliotecas como Actores-Chaves na Sociedade de Informação”, no dia 1 de Julho do corrente ano, pelas 10 horas. Esta actividade visa realçar o papel preponderante da biblioteca no acesso a informação, como motor para o desenvolvimento cultural, económico, político e social. Participarão da actividade responsáveis e técnicos das bibliotecas públicas e privadas a nível do país.
Para si, quem deveria consultar as bibliotecas? E porque apenas os estudantes e investigadoras são os que mais solicitam estes serviços no país?
As bibliotecas são espaços de acesso a leitura, conhecimento, para a satisfação das necessidades informativas das comunidades, espaços com fins educativos, de investigação, lazer e culturais, logo é de se esperar que todos podem e devem frequentá-las. Os estudantes e investigadores são os que mais frequentam as bibliotecas uma vez que temos a percepção que devemos procurar a biblioteca meramente para aquisição de conhecimento académico ou científico, mas não é assim.
Há projectos de expansão ou criação de filiais da Biblioteca Nacional noutras áreas de Luanda, ou do país?
A Biblioteca Nacional de Angola é nos termos do Decreto Presidencial nº 270/11 de 26 de Outubro, a coordenadora da Rede Nacional de Bibliotecas públicas.A Rede Nacional de Bibliotecas públicas comporta todas as bibliotecas criadas e tuteladas pelo Estado, logo temos bibliotecas em quase todas as províncias do país, num total de 39 bibliotecas, entre bibliotecas províncias, municipais comunais, distritais e salas de leituras. No entanto há necessidade de construir mais bibliotecas e claro apetrechá-las com meios técnicos e pessoal capacitado.
Diana Diakanama Afonso Luhuma
Licenciada
em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Belgrado, República da Sérvia. Já exerceu a Advocacia e possui o curso de Gestão Bibliotecária. Foi directora-geral adjunta da Biblioteca Nacional de Angola, tendo recentemente assumido o cargo de directora-geral da instituição
António Bequengue
Fonte:JA