O docente universitário Armando Ricardo disse que as microempresas são o motor principal de crescimento da economia angolana, por serem um catalisador de empregos e, para muitas regiões, um instrumento para a luta contra a pobreza e as desigualdades.
Em entrevista ao Jornal de Economia & Finanças, o mestre em gestão e estratégia industrial recorda que no ordenamento angolano, a microempresa tem até 10 trabalhadores e/ou uma facturação bruta anual não superior em kwanzas ao equivalente a 250 mil dólares americanos.
Recorrendo aos indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE), o docente radicado em Benguela disse que 72,5 por cento das empresas em actividade são microempresas, ” o que ractifica a sua importância e pressupõe que o país precisa de um sector de microempresa próspero e robusto”.
Além disso, sinaliza, é preciso prestar atenção especial ao fortalecimento das microempresas e das empresas emergentes. Para ele, as microempresas emergentes, em particular, precisam ser preparadas para enfrentarem a competitividade e ocupar um segmento de mercado específico.
Quanto aos programas criados pelo Estado angolano para alavancar o sector empresarial e em muitos casos não tiveram sucesso, o especialista entende que houve uma época em que a “vaidade falou mais alto do que a razão”, tendo-se desvirtuado o propósito de certas iniciativas de financiamento à economia.
Ao examinar o histórico do empresariado angolano, disse, nota-se que 99,3 por cento das empresas, pelo menos na sua forma jurídica, estão em actividade a pouco menos de 1/4 de século, empresas essencialmente jovens e que foram forjadas com muita dedicação e resiliência.
“Não estranha, pois, que nas duas décadas que se seguiram a independência, apenas 395 empresas tenham sido criadas, 46 das quais, aqui em Benguela. Por isso, não é um exagero afirmar que a tão requerida cultura empresarial esteja ainda em formação”, revelou.
O especialista acredita ser necessário continuar a capacitar os gestores empresariais e “ser-se tolerante com os empresários e as empresas”.
Na província de Benguela, quarta em termos populacionais, 94,6 por cento das empresas activas são pequenas e médias e, à semelhança do que acontece no país, 50,0 por cento são do ramo do Comércio e apenas 39,1 são da Agricultura, Pescas e Indústria Transformadora.
Ao reflectir-se acerca destes indicadores, Armando Ricardo salienta que está em presença de um rácio per capita de 1 empresa para cada 500 pessoas. Em Benguela, exemplifica, este rácio é ainda mais desproporcional, sendo, aproximadamente, de 1 para 800.
Apesar deste constrangimento, o docente revela que “há ainda uma avenida de oportunidades totalmente aberta para a emergência de empresas, devendo-se, para isso, melhorar o ambiente de negócios”.
O INE reporta que em 2019, estavam registadas 55.957 empresas em actividade em Angola.
NHAREA
Cafeicultor prevê colher seis toneladas
Mais de seis toneladas de café arábica poderão ser colhidas, este ano agrícola, pelo produtor Jorge Chaves, no município da Nharea (Bié).
Considerado o maior produtor de café na província, a quantidade da safra prevista é “fraca” devido a estiagem que assolou a região.
A fazenda do produtor de café está situada na povoação de Tarala, município da Nharea, numa extensão de 15 hectares, e conta com mais de 45 mil plantas de café. Jorge Chaves afirmou que existe muita procura do café da Nharea a nível nacional, pelo que houve a necessidade de se aumentar a produção.
“É necessário que as estruturas de direito apoiem os cafeicultores com créditos bonificados para que haja um maior rendimento da produção a nível do município, e para contribuirmos para o processo de diversificação da economia”, aponta.
A fábrica de descasque de café instalada na aldeia da Tarala está a contribuir para o relançamento da produção na região, com o surgimento de vários cafeicultores.
“Dentro de 10 a 15 anos, o país poderá recuperar o estatuto de ser um dos maiores produtores de café no continente africano e no mundo, desde que se crie cooperativas e se estimule a industrialização, para agregar valor e exportação”, augura.
Acredita ser possível revitalizar rapidamente a produção do café no município da Nharea, com previsão à curto e longo prazo na exportação, por ser uma região com bastante água e fácil mecanização.
Na província do Bié, apenas os solos do Andulo e da Nharea favorecem para produção do café arábica, praticada maioritariamente por produtores familiares.
Na era colonial, a Nharea possuía mais de três fábricas de descasque de café, na sede municipal e na comuna da Gamba. A produção do café em Angola é uma das mais antigas da África Subsariana, remontando ao século XIX.
Apesar da quebra dos níveis de produção observados durante as últimas décadas, o café é ainda hoje um dos principais produtos agrícolas angolanos.
O Governo angolano, através do Ministério da Agricultura e Pescas tem desenvolvido políticas para relançar a produção cafeícola a nível de todo o território.
José Chaves | Nharea
Fonte:JA