Saurimo comemora, hoje, 65 anos desde que ascendeu à categoria de cidade, através do Diploma legislativo número 2757, de 28 de Maio de 1956. Conquistada no desfecho de uma expedição armada, comandada pelo português Henrique Augusto Dias de Carvalho, registou, nos anos subsequentes, um desenvolvimento tímido, até à ascensão do país à independência, em 1975.
Do local onde estava situado o bairro Indígena, actual zona nobre da urbe, nasceram os primeiros edifícios administrativos da antiga sede do distrito da Lunda, baptizada com o nome de Henrique de Carvalho, reflexo da sua capacidade de liderança durante as batalhas que culminaram com a ocupação efectiva do território.
O interesse crescente de acomodar os agentes do Estado e relançar o comércio, estimulado pelo rendimento dos diamantes, deu impulso à urbanização, assinalada pela construção de moradias, lojas, armazéns e um traçado de ruas, inicialmente com um projecto para 18 mil habitantes.
Desde o início, a estratégia do colonizador foi marcada pela restrição no trânsito de pessoas de raça negra, principalmente nativas, no casco urbano. Uma fiscalização apertada, feita por agentes devidamente treinados, garantia o cumprimento da ordem.
O ancião Alberto Mulambeno, do bairro Zorrô, situado a cerca de dez quilómetros da cidade, referiu que o elevado índice de analfabetismo interessava bastante aos colonizadores. A desconfiança era tal, que proibiram abertura de latrinas e poços domiciliares para abastecimento de água.
“Apenas cidadãos de raça branca circulavam sem restrições, ao passo que os funcionários públicos transitavam apenas em hora normal de expediente”, explica.
Os sinais leves no crescimento e modernização de Saurimo estagnaram pouco antes dos angolanos conquistarem a liberdade. A interpretação errada desta deu lugar à pilhagem desenfreada, reflexo de uma gritante falta de cultura urbana, agravada pelo isolamento, durante décadas, causado de conflito armado no país.
A degradação precoce ganhou corpo em muitos edifícios. A inoperância do saneamento facilitou a estagnação das águas das enxurradas produzidas nas periferias, onde as construções anárquicas estrangularam os planos inscritos no projecto de urbanização.
O défice de água potável, por outro lado, estimulou o comércio do “produto de qualidade duvidosa” pelos utentes de camiões cisternas. O fornecimento faseado de energia, já escassa, estava aquém de aliviar as necessidades na sede da província, porto de destino de centenas de populares, fugidos das suas áreas de jurisdição em busca de segurança.
Recomeço
A conquista da paz, em 2002, quebrou o isolamento provocado pela intransitabilidade nas estradas e a dependência exclusiva das aeronaves que escalavam a região. O combate às ravinas integrou uma carteira de projectos de emergência, para contrapor a invasão assustadora de água pelas ruas e aliviar o clamor devido ao desabamento de casas em pontos cruciais nas periferias. A passagem de água em valas de betão a céu aberto minimizou a dor das comunidades.
Saurimo registou uma “avalanche de pessoas” da região e idas de outras paragens com motivações diversas, sobretudo através da Estrada Nacional 230. Esta “invasão” forçou o reajustamento de estratégias para garantir água, energia eléctrica e multiplicar oportunidades de acesso ao ensino e serviços de saúde.
Actualmente com mais de 530 mil habitantes, Saurimo é uma urbe limpa e arrumada, onde o verde dos jardins, rotundas e espaços afins traduzem um convívio harmonioso entre o betão e a natureza. Para preservar o cenário descrito, as autoridades pagam, mensalmente, Akz 110 milhões a 30 operadoras contratadas, que, diariamente, esvaziam 200 contentores de lixo, dos 600 necessários, e cuidam dos jardins.
Fonte:JA