Depois de 1979, com a morte de Neto (que, entretanto, tinha acabado com a descredibilizada polícia política, a DISA – Divisão de Informação e Segurança de Angola) e o surgimento de um jovem presidente, José Eduardo dos Santos, o caminho estava aberto para a introdução de mudanças internas no MPLA e no regime político.
“Hoje, sabemos, depois de consultar os arquivos americanos relacionados com os seus serviços de informação, que os EUA conheciam com pormenor qual era a posição de Agostinho Neto”, conta Patrício Batsikama.
“Neto nunca foi comunista”, considera o historiador. “Por razões económicas, ele concluiu que Angola precisava dos serviços e das ferramentas do Fundo Monetário Internacional, para desenvolver a economia e evoluir da democracia popular para uma democracia formal. Só que isto representava uma ruptura com o socialismo”, explica Patrício Batsikama.
Por diversas razões e pelas reformas que aconteceram na década de 1980, mesmo a nível internacional, com a implosão soviética, o 27 de Maio pode ter marcado o início do fim do regime de partido único, ainda que seja uma ideia a necessitar de fermentação teórica.
No entender de Bruno Kambundo, não é possível enquadrar estes acontecimentos como um prelúdio do fim do partido único.
“Mesmo assim, sobretudo no seio do MPLA, não podemos descurar esta possibilidade. Os factos podem ter mostrado a necessidade de coabitação com actores e pensamentos diferentes, realidade que não era um facto naquela altura”, frisa.
Patrício Batsikama sublinha que o país perdeu uma boa parte dos jovens intelectuais da época, muitos deles associados a Nito Alves.
“Depois de 1979, a ordem política foi reposta. Mas a ordem social levou muito tempo, o nível de insegurança no país era muito alto”, recorda Batsikama.
Sobre a cerimónia de homenagem às vítimas dos conflitos e do pedido oficial de desculpas, Patrício Batsikama defende que foi o início de um grande komba (varrer das cinzas) nacional. Que apenas vai terminar quando for construído, publicamente, um grande memorial,no qual todos se revejam.
“No período que decorre entre o pedido de desculpas e a efectivação do monumento, devemos promover uma grande abertura ao diálogo nas universidades, associações, igrejas, em todas as instituições. Para ajudar a limpar a cabeça das pessoas”, defende o historiador.
Fonte:JA