Viúva de David Zé fala em alívio da família

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Maria da Piedade, viúva de David Zé, uma das vítimas da repressão que se seguiu à tentativa de golpe de Estado de 27 de Maio de 1977, disse, ontem, sentir-se bem com o anúncio feito pelo Presidente da República, João Lourenço, do início do processo de localização dos restos mortais das vítimas da tragédia ocorrida há 44 anos, para a exumação e entrega aos familiares.

“Foi um gesto muito bom do Presidente da República mandar dar a certidão e iniciar a exumação dos corpos, depois desses anos todos”.
Acompanhada da filha de David Zé, Maria da Piedade disse que foi muito difícil, ao longo desses anos todos, não ter sido possível realizar o óbito, o que só será feito agora. “É um alívio para a família”, disse, em declarações à imprensa, no final da cerimónia que serviu para homenagear as vítimas dos conflitos políticos ocorridos no país de 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002.

Carolina Nunes de Andrade, sobrinha de Artur Nunes, outra vítima dos trágicos acontecimentos do 27 de Maio de 1977, agradeceu o anúncio do Presidente e o pedido de desculpas públicas.
“É muito bom e nós estamos de corações abertos para perdoar”, sublinhou, adiantando que, apesar de não ter conhecido o tio, sabe que foi “guerreiro e trabalhador”.

António Urbano de Castro, filho de Urbano de Castro, outra vítima do 27 de Maio, recebeu com satisfação o anúncio do Chefe de Estado, depois de 44 anos. “O meu pai foi um dos combatentes, fez muito pelo país. Estamos muito satisfeitos com este reconhecimento”, disse.
 A irmã mais velha, Ilda Urbano de Castro, que em 1977 tinha 5 anos , disse que esperava, há muito tempo, por este momento. “O Governo sentiu o peso de consciência e pediu perdão. Deus o abençoe”, salientou.
D. Anastácio Kahango destaca importância do perdão
O bispo auxiliar emérito de Luanda, D. Anastácio Kahango, que testemunhou a cerimónia de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, destacou o pedido de perdão do Presidente da República pelos excessos cometidos pelos órgãos do Estado na sequência dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.
“É um discurso que toca acontecimentos recentes bons e maus. O conteúdo das palavras e o motivo que encontrou para nos dizer o que disse seja compensado por Deus pelo perdão, pela compreensão, pela não vingança”, disse o prelado, referindo-se à mensagem do Chefe de Estado.

A Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos realiza, hoje, uma homenagem às vítimas do 27 de Maio de 1977. Por volta das 9 horas, está prevista a deposição de uma coroa de flores e um culto, no Cemitério de Sant’Ana. Duas horas depois, na Praça da Independência, faz-se a entrega de certidões de óbito a duas órfãs das vítimas.
Eugénio Manuvakola encoraja iniciativa
O político da UNITA e membro da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos Eugénio Manuvakola encorajou, ontem, a iniciativa do Presidente da República, João Lourenço, em iniciar o processo de localização das ossadas das vítimas dos aconte- cimentos do 27 de Maio de 1977, bem como a entrega dos corpos dos dirigentes da UNITA tombados em combate em 1992, em Luanda.

Para Eugénio Manuvakola, o 27 de Maio foi sempre uma data por explicar. “Hoje ouvimos o Chefe de Estado falar do 27 de Maio em relação aos erros internos do MPLA”, disse.
O político considerou, contudo, que o Presidente da República deveria fazer as devidas separações em relação às responsabilidades da UNITA quanto às vítimas dos conflitos políticos.
“Acho que deviam ser feitas as devidas separações. Uma coisa é o MPLA e o 27 de Maio e as vítimas de 1992 e a outra coisa é aquilo que a UNITA poderá fazer e não por sugestão do Chefe de Estado”, sublinhou.

Fonte:JA

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